O globo, n. 31008, 30/06/2018. Economia, p. 18

 

Regra do cheque especial muda, mas bancos não detalham taxas

Marcela Sorosini

30/06/2018

 

 

Linhas mais baratas devem ser oferecidas a clientes mais endividados

As novas regras do cheque especial entram em vigor amanhã, mas, se o cliente quiser renegociar suas dívidas, não conseguirá saber com exatidão quais as condições que os bancos oferecem. Até agora, as instituições não divulgaram claramente quais as linhas que serão criadas para dar uma alternativa mais barata para o parcelamento de débito nesse tipo de empréstimo, cuja taxa de juros média é de 311,9% ao ano, segundo os dados de maio do Banco Central (BC). O Santander afirma que não criará uma linha e usará outras já existentes, como a do consignado. A Caixa seguirá como referência outras linhas de crédito existentes. As novas linhas devem ser oferecidas a clientes que comprometerem mais de 15% do limite do cheque especial por 30 dias consecutivos.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que a intenção das novas regras é conscientizar os consumidores e aumentar a transparência nesse tipo de empréstimo, que se tornou a modalidade de crédito mais cara no país em maio, ultrapassando a taxa média do rotativo do cartão de crédito. Apesar de as diretrizes começarem a ser aplicadas, as instituições financeiras ainda não informaram detalhadamente quais serão os novos produtos, e há poucos dados nos sites dos bancos.

Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), afirma que as normas são pouco eficazes:

— Há pessoas que usam o limite do cheque especial como parte da renda mensal. Essa segunda linha de crédito poderá ser somada aos custos se a pessoa voltar a entrar no especial.

MAIS CLAREZA NOS EXTRATOS

Para Ione, faltam informações sobre o cálculo do Custo Efetivo Total (que inclui todas as taxas envolvidas) das operações. A economista avalia como positivas a separação entre o saldo da conta e o limite do cheque especial e o alerta que os bancos serão obrigados a enviar ao consumidor que entrar no especial.

— Hoje, o consumidor vê o saldo total, incluindo o limite do cheque especial, o que induz aos gastos. Nem sempre o consumidor entende que se trata de linha de crédito, a mais cara delas.

O Banco do Brasil afirmou que informará o cliente sobre o uso do cheque especial via SMS ou notificações no aplicativo e que vai ofertar linhas de crédito parceladas com menor custo. As condições variam de acordo com o perfil de cada cliente, e as soluções passam pelo crédito consignado (em média, 2,45% ao mês) até a linha de parcelamento de cheque especial, mas o banco não informou quanto de juro será cobrado do cliente. Segundo dados do Banco Central, as taxas de juros do cheque especial no BB são de 11,99% ao mês e 288,97% ao ano.

O Bradesco informou que terá uma linha de crédito específica. O refinanciamento será com taxas e prazos pré-fixados. Como o BB, não informou os juros aplicados e o número de parcelas. Hoje, clientes da rede pagam juros de 11,95% ao mês e 287,39% ao ano no cheque especial.

O Santander não vai criar um produto, mas oferecerá opções existentes, com juros de 1,40% ao mês (crédito consignado) até 7,89% (crédito pessoal), dependendo do relacionamento do cliente com o banco. As taxas no cheque especial são de 14,76% ao mês e 421,83% ao ano.

A Caixa, que cobra juros de 12,43% ao mês e 308,08% ao ano no cheque especial, afirma que as linhas estarão disponíveis nas agências e que seguirão outras existentes como referência, como a do crédito consignado, de 1,4% ao mês, entre outras. O Itaú não respondeu. O banco cobra 11,52% ao mês e 269,97% ao ano.

O BC afirmou que não tabela juros, e as instituições são livres para fixarem suas taxas.

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Dívida brasileira bate recorde: R$ 5,1 tri

Gabriela Valente

30/06/2018

 

 

Mercado instável ajuda indicador a subir R$ 87,5 bi em um mês

A dívida brasileira bateu novo recorde. De acordo com o Banco Central, o endividamento bruto do país em maio chegou a R$ 5,1 trilhões, o que corresponde a 77% do Produto Interno Bruto (PIB). A alta foi grande: R$ 87,5 bilhões em apenas um mês. Em abril, esse percentual era de 76% do PIB. A escalada ocorreu por causa da turbulência no mercado financeiro. O Tesouro Nacional emitiu mais títulos de dívida para serem negociados. E o BC fez operações no mercado de câmbio para controlar a alta do dólar. Os dois movimentos aumentaram o endividamento.

— O país tem um déficit primário (tem mais despesas do que consegue arrecadar) e uma conta de juros. São dois elementos que levam a dívida a crescer. Voltar a ter superávit primário é fundamental para fazer a dívida pública cair — afirmou o chefe do departamento econômico do BC, Fernando Rocha.

A trajetória do endividamento é o principal problema do governo. É para esse indicador que as agências de classificação de risco olham na hora de avaliar um país. Segundo especialistas, reformas estruturais, como a da Previdência, são essenciais para equilibrar as contas públicas, que têm déficits há quase cinco anos seguidos.

No mês passado, o governo não conseguiu fechar as contas. Houve um novo rombo, de R$ 8,2 bilhões em maio. Mesmo assim, é o melhor resultado para o período em três anos.

— Houve uma melhora do resultado primário, que decorre da receita, que vem crescendo, mas também pelo controle das despesas — disse Rocha.

Como ficou no azul em alguns meses deste ano, o resultado acumulado em 2018 é negativo, mas em uma proporção muito menor: R$ 933 milhões. A meta da equipe econômica é manter o rombo das contas públicas em R$ 159 bilhões este ano. Nos últimos 12 meses, o déficit é de R$ 95,9 bilhões: 19% a menos do que o resultado negativo acumulado até abril.

JUROS EM 12 MESES: 5,77% DO PIB

Apesar de ser um resultado melhor do que nos últimos anos, o que o governo poupou foi insuficiente para pagar os juros que a dívida gerou nesse período. De janeiro a maio, o Brasil teve uma conta de R$ 158,5 bilhões de juros para pagar.

Houve impacto na conta de juros da atuação do BC no mercado de câmbio. Como o Banco Central pôs contratos de swap (que equivalem a operação de venda de moeda no mercado futuro) na praça, e o dólar subiu 7,35% em maio, foi necessário arcar com uma conta de R$ 6,9 bilhões no mês passado. Nos últimos 12 meses, os juros da dívida somaram R$ 384,3 bilhões. Isso representa 5,77% do PIB.

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Fundo cambial foi a melhor aplicação no mês

Ana Paula Ribeiro

30/06/2018

 

 

Com alta do dólar, ganho foi de 1,54% em junho e 15,54% no ano

Com a escalada do dólar, os fundos cambiais se firmam como o melhor investimento não só do mês, mas também do ano. Essas carteiras, que acompanham a variação de diferentes moedas, mas em especial a americana, têm alta de 1,54% no mês e, no ano, os ganhos já chegam a 15,54%. Na lanterna, as aplicações atreladas a ações, que passaram a cair com mais força após as constantes revisões para baixo do crescimento da economia.

BOLSA PERDEU 5,2% EM JUNHO

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, explica que a alta do dólar que favoreceu os fundos cambiais decorre do ambiente de maior aversão ao risco nos ambientes interno e externo:

— Estamos em meio a um movimento de proteção contra o risco. Isso começou em abril, mas ganhou força em maio. Os investidores aproveitaram para colocar os ganhos conquistados no início do ano no bolso. E, em um cenário de incerteza política, o dólar é o que mais reflete essa busca por proteção.

No último pregão do mês, o dólar subiu 0,82% ante o real, fechando a R$ 3,889. No acumulado do mês, o ganho foi de 4,97% e, no ano, de 17,31% — o dólar comercial valia no fim do ano passado R$ 3,315. Já o Ibovespa, principal índice de ações local, subiu 1,38%, aos 72.762 pontos. No mês, a queda é de 5,2%, pouco maior que o desempenho no semestre: uma desvalorização de 4,76%.

Um fator externo ajuda a justificar o fortalecimento do dólar e o recuo na Bolsa. Com o processo de elevação dos juros nos Estados Unidos, os investidores tendem a achar aplicações em países emergentes menos atraentes. Mas, internamente, o crescimento da economia mais fraco que o esperado e a incerteza eleitoral deixam os investidores inseguros.

Os fundos de ações que acompanham índices recuou 5,62% no mês, e, no ano, a queda é de 5,49%, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que considera os dados até 26 de junho.

Já a caderneta de poupança tem ganho de 0,37% no mês e de 2,32% no ano, embora positivo, ainda está abaixo da inflação medida pelo IGP-M.

Economistas acreditam que a volatilidade vai aumentar com a proximidade das eleições. Por essa razão, recomendam aplicações mais seguras, como títulos públicos ou fundos de renda fixa, ou multimercados.

— Ainda há a questão comercial que pode agravar a aversão ao risco global. Internamente, o quadro político começará a ter peso maior na definição dos preços. Para quem tem aversão ao risco, não é o momento para Bolsa — disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.