Título: Grécia define futuro na União Europeia
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2012, Economia, p. 1
A turbulência política ainda deixa incerto o futuro da economia grega. O líder do partido de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, não conseguiu formar um governo de coalizão e o cenário mais provável agora é que o país tenha de encarar novas eleições parlamentares. Isso porque o partido social-democrata Pasok, terceiro colocado no pleito do último domingo, também terá dificuldades de conseguir acordo com legendas contrárias à política de austeridade imposta pela chamada troika — grupo formado pela União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Syriza ficou em segundo lugar nas eleições (16,7% dos votos) e recebeu a missão de formar o governo depois que os conservadores do Nova Democracia (ND), do líder Antonis Samaras, que ficaram em primeiro, jogaram a toalha. "Sem maioria, não conseguimos formar um governo de esquerda que se oponha à austeridade", resumiu Tsipras. Com a desistência dele, restou ao Pasok tentar alcançar o bloco majoritário.
O problema é que o resultado obtido pelos três partidos mais bem colocados no pleito esbarra na resistência ao ajuste fiscal. Pasok e ND são as únicas siglas que não rejeitam o aperto orçamentário como condição para acessar o socorro bilionário ao país. Mesmo assim, ambas já sinalizaram que os acordos assinados com a UE devem ser revisados. Segundo analistas, uma nova rodada nas urnas poderá servir como um plebiscito sobre a permanência ou não do país na Zona do Euro.
O líder do Pasok, Evangelos Venizelos, protagonista da terceira tentativa de formar o bloco parlamentar majoritário, já conseguiu convencer Fotis Kouvelis, da Esquerda Democrática, a aceitar a tese de um "governo ecumênico". Se ele fracassar, a Grécia terá de repetir eleições dentro de um mês, com alto risco de estourar nova crise na eurozona.
Tsipras enviou ontem carta aos comandantes da troika afirmando que o segundo pacote de resgate para a Grécia não é mais válido. Ele ressalta que a crise da dívida não é grega, mas sim europeia, e precisa ser resolvida pela UE como um todo. "O voto do povo grego não dá legitimidade ao acordo de resgate assinado pelo governo anterior", disse. Autoridades do bloco europeu já avisaram que o acordo assinado pela Grécia em março é inegociável.
As medidas adotadas com o pacote de ajuda internacional estão tendo pesado impacto sobre a economia grega. O governo informou ontem que a taxa de desemprego atingiu novo recorde, de 21,7% em fevereiro. Trata-se do pior indicador desde 2004, quando começou a ser acompanhado. Com isso, o total de desempregados já passa de 1 milhão.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou ontem que os ajustes fiscais da Europa não funcionaram. "Os países estão vendo o agravamento da crise que não conseguiram resolver. A estratégia de cortar gastos, despedir pessoas e reduzir salário não funciona e já derrubou governantes. Eles terão de rever a estratégia", afirmou ele, lembrando que o desemprego já estava muito elevado no continente. Nesse sentido, Mantega elogiou o presidente eleito da França, o socialista Francois Hollande, pelas "posições corretas", favoráveis a estímulos à economia. (Colaborou Rosana Hessel)