O globo, n. 31007, 29/06/2018. País, p. 3

 

Propostas ainda vagas

29/06/2018

 

 

A 22 dias das convenções, pré-candidatos não detalham planos para temas críticos do país

-BRASÍLIA- A pouco mais de 20 dias do início do período de convenções partidárias, os cinco pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas resistem a apresentar propostas detalhadas do que pretendem fazer na Presidência, caso vençam a disputa. Os planos de governo só devem ser divulgados no período de formalização das candidaturas, que ocorrerá entre 20 de julho e 5 de agosto. Por ora, os políticos esboçam planos genéricos para tratar dos temas mais relevantes e espinhosos, como as reformas econômicas e os projetos para áreas tradicionalmente negligenciadas, como segurança, saúde e educação.

Patinando nas pesquisas, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, se antecipou aos demais postulantes e divulgou ontem uma lista com 20 diretrizes que integrarão o eixo do seu plano de governo. Mas limitou-se a tópicos genéricos, como “infraestrutura”, “saúde”, “políticas sociais” e “defesa”. O plano de voo tucano não aprofunda o debate em nenhuma das 20 áreas. Os idealizadores do programa não querem detalhar as propostas neste momento da pré-campanha porque temem cair no que chamam de “armadilha” de 2014, quando a então candidata pelo PSB, Marina Silva, hoje postulante da Rede, passou a campanha se explicando sobre as propostas do seu programa, apresentado antes das campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves. A plataforma de Alckmin deverá ter entre 150 e 170 páginas.

Alckmin tem dito que, se for eleito, irá encaminhar ao Congresso, nas primeiras semanas de governo, projetos de reformas política, tributária, administrativa e previdenciária — a mais discutida antes da campanha. Porém, da mesma forma que seus adversários, não se aprofunda em detalhes da reforma da Previdência. Em maio, por exemplo, todos os principais pré-candidatos foram questionados pelo GLOBO sobre o tema e silenciaram.

— Todos os pontos do plano de governo terão três coisas a serem respondidas: melhoria da gestão, foco na qualidade do serviço para o cidadão e como financiar o setor — diz o coordenador do programa, Luiz Felipe d´Avila.

Primeiro colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) pretende apresentar seu plano de governo apenas no fim de julho. O economista Paulo Guedes está à frente da área econômica, e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) cuida dos demais setores do programa. As principais propostas, no entanto, ainda não vieram a público. Ele já ensaiou um discurso sobre privatizações, em que defende a ampliação das operações, mas com restrição à venda de empresas consideradas estratégicas. Ontem, chegou a dizer que pretende ampliar de 11 para 21 o número de ministros do STF. Até mesmo as ações em segurança pública, um dos motes da campanha do deputado federal, são vagas. A não ser algumas ideias já antecipadas, como distribuir fuzis a agricultores.

— No que depender de mim, o produtor rural vai ter um fuzil em sua propriedade.

Depois de apresentar propostas antes dos adversários na eleição passada, Marina Silva tem dito que não tem pressa para lançar o programa. Se eleita, Marina diz que revisará algumas das políticas mais importantes de Michel Temer, como o teto de gastos de longo prazo, mas não menciona os detalhes sobre como pretende enfrentar a crise fiscal. Informa que a prioridade do primeiro ano de governo seria a aprovação de uma reforma da Previdência, sobre a qual informou que pretende unificar regras dos setores público e privado. Também já avisou que pretende levar ao Congresso proposta para fim da reeleição a presidente.

Marina, porém, já detalhou pontos que pretende revisar na reforma trabalhista, já aprovada, como a regra de estabelece que o acordado entre patrão e empregado se sobrepõe ao legislado. No capítulo da sustentabilidade, uma das propostas é limitar as fronteiras agrícolas na Amazônia.

Ciro Gomes (PDT), por sua vez, também faz mistério sobre o plano de governo e só deve finalizar seu programa no fim do mês. A tendência é seguir o roteiro de Alckmin, com diretrizes genéricas sobre saúde, educação, emprego, economia. Uma das propostas de Ciro mais adiantadas é o Projeto Nacional de Desenvolvimento, cujo objetivo central seria a geração de empregos. O pedetista tem falado sobre a necessidade de retomar os incentivos à indústria nacional.

— Temos que fazer aqui o que estamos comprando lá de fora — discursou recentemente.

Ciro já avisou, porém, que irá cancelar os leilões do pré-sal e que nem pensa em privatizar setores estratégicos, como o de combustível (Petrobras) e energia (Eletrobras), também que desagradam investidores e operadores do mercado financeiro.

Na campanha de Alvaro Dias (Podemos), o programa deve ficar pronto um pouco antes da convenção. O nome do documento será “A refundação da República”, mote usado pelo pré-candidato.

— Em algumas áreas, a gente vai detalhar mais, como Previdência, educação, saúde, segurança e emprego. Quanto ao resto, também não podemos ser muito genéricos. Na economia, dá para tratar de forma mais abrangente, como falar sobre o déficit fiscal e outras preocupações evidentes — diz o consultor legislativo André Fernandes, um dos principais colaboradores do programa de Alvaro Dias.

 

Ideias. Bolsonaro tem a segurança como mote de campanha, mas ainda não detalhou planos para tentar reduzir criminalidade

Escaldada. Marina pretende revisar pontos da reforma trabalhista, mas avança pouco nos planos para a Previdenciária Social

Falante. Embora já tenha anunciado que vai suspender leilões do pré-sal, Ciro deve lançar plano genérico antes das convenções

Planos. Geraldo Alckmin lançou ontem 20 diretrizes para um futuro governo, porém todos abordados de forma vaga

Escolha. Alvaro Dias promete explicar ações de Previdência, educação, saúde, segurança e emprego; plano sai perto da convenção