O globo, n. 31007, 29/06/2018. País, p. 4

 

Ciro Gomes promete pedir desculpa ao DEM

Luís Lima

29/06/2018

 

 

Após declarações polêmicas, presidenciável busca aproximação

Depois de atacar um vereador do DEM e declarar que procuraria o apoio do partido apenas depois de formatar uma “hegemonia moral” com outras siglas, o pré-candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes, disse que está disposto a pedir desculpas pelas ofensas. A promessa foi feita ontem a jornalistas, após encontro de duas horas e meia com investidores, em São Paulo:

— Tudo que precisar fazer de humildade, de habilidade, de paciência (vou fazer). Até porque nunca foi meu objetivo ofender ninguém. Falei pro ACM Neto (Antônio Carlos Magalhães Neto, presidente do DEM): “Faça a lista de quem você quer que eu ligue, que eu ligo, sem nenhum problema”.

Um dos que devem ser procurados por Ciro é o deputado federal amazonense Pauderney Avelino, a quem ele chamou de “corretor de Fernando Henrique Cardoso”, em 2016, durante uma palestra. Pauderney processa Ciro por injúria, pela insinuação de que ele participou de uma compra de votos da emenda que permitiu a reeleição de presidentes da República (à época FH), governadores e prefeitos.

O ataque mais recente de Ciro a um integrante do DEM foi feito na semana passada, em entrevista à rádio “Jovem Pan”. Ciro chamou o vereador paulistano Fernando Holiday de “capitãozinho do mato”. Holiday, que também é um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), classificou a fala como racista e disse que vai processar o presidenciável. EM DIREÇÃO AO CENTRO Na manhã de ontem, Ciro fez outro movimento em direção aos partidos de centro: recebeu, em seu apartamento em São Paulo, o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, entre outros diretores da entidade.

— Conversamos sobre reforma trabalhista e o que precisamos refletir sobre Previdência Social. Questões mais pragmáticas do sindicalismo — afirmou Ciro Gomes.

Em paralelo à aproximação aos partidos do centro, Ciro também defende uma aliança com a esquerda. Cita, nominalmente, o PCdoB e o PSB para uma “hegemonia moral e intelectual” de sua chapa à Presidência.

No caso do PSB, Ciro tem se dedicado pessoalmente a conseguir apoio de líderes partidários. Na última terça-feira foi ao Recife conversar com integrantes da cúpula da legenda, como o governador Paulo Câmara e o prefeito Geraldo Júlio, além da viúva de Eduardo Campos, Renata Campos.

 

“MUITO RESPEITO” NO MERCADO

— Eles (PSB) têm o tempo deles. É normal e eu respeito — disse. — A conversa foi boa, mas estão com uma situação delicada e tem que respeitar — afirmou, referindo-se à aproximação da legenda com o PT pernambucano. Com o PSB ao seu lado, o tempo de TV de Ciro mais que dobra, dos atuais 33 segundos para 1 minuto e 18 segundos, além de ter uma eventual injeção de recursos do fundo de campanha. A expectativa é que, se o PSB fechar o apoio, o PCdoB repita o movimento na sequência.

Durante a tarde, após a palestra na XP Investimentos, o pedetista disse que foi recebido com “muito respeito” pelos investidores.

A falta de alinhamento entre Ciro Gomes e o seu principal assessor na área econômica, Mauro Benevides Filho, na apresentação de propostas é um dos motivos de preocupação do mercado financeiro em relação ao presidenciável.