Correio braziliense, n. 20176, 17/08/2018. Economia, p. 8

 

3,2 milhões buscam vaga há mais de dois anos

Vera Batista e Hamilton Ferrari

17/08/2018

 

 

TRABALHO » Grupo representa quase um quarto dos 12,96 milhões de desempregados no país, de acordo com dados do IBGE relativos ao segundo trimestre. Número de desalentados - que desistiram de procurar emprego - bate recorde e chega a 4,8 milhões

O número de pessoas em busca de emprego há mais de dois anos bateu recorde no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,16 milhões de brasileiros estavam nessa condição no segundo trimestre de 2018. Eles representavam 24% dos 12,966 milhões de trabalhadores desempregados no período. Além desses, 1,86 milhão de trabalhadores procuram emprego há mais de um ano. A maior parte dos desempregados (6,079 milhões) está em busca de oportunidade há menos de um ano. Na faixa dos que tentam um trabalho há menos de um mês, há 1,869 milhão de pessoas.

De acordo com a Pnad, no segundo trimestre de 2018, 27,6 milhões de pessoas estavam sem emprego ou em ocupações abaixo da sua qualificação. A chamada taxa de subutilização da força de trabalho — que agrega os desempregados, os subocupados e a força de trabalho potencial — foi de 24,6% no período, percentual que ficou estável em relação aos três primeiros meses do ano (24,7%), mas subiu na comparação com o mesmo período de 2017 (23,8%).

Pelos dados do IBGE, no segundo trimestre de 2018, 91,2 milhões de pessoas estavam ocupadas, sendo 67,6% empregados, 4,8%, empregadores, 25,3%, pessoas que trabalham por conta própria e 2,3%, trabalhadores familiares auxiliares.

Um dado que chama a atenção, segundo Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa, é o contingente de desalentados, que chegou a 4,4% da força de trabalho, o maior nível da série histórica, iniciada em 2012. A quantidade de pessoas desalentadas — que não procuraram emprego porque acham que não têm chance de conseguir — chegou a 4,8 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 14 anos, 200 mil  a mais do que no primeiro trimestre (4,6 milhões) e bastante acima do resgistrado no segundo trimestre de 2017 (4 milhões).

“Muitos dos desalentados sequer têm dinheiro para pagar passagem e procurar emprego. Os dados mostram um mercado de trabalho que não está em evolução”, assinalou Azeredo. O IBGE informou, ainda, que, reunidos, os índices de subocupação e desemprego chegam a 8,7%, o que representa 6,5 milhões de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e 13 milhões de desocupados. Ou seja, 19,5 milhões ao todo. A quantidade de pessoas que não têm condições de trabalhar no momento (força de trabalho potencial) é de 8,1 milhões.

Eleições

Na análise de especialistas do mercado financeiro, a situação poderá melhorar ou piorar, a depender de quem vai ocupar o Palácio do Planalto em 2019. “Todos os indicadores mostram que a economia está fragilizada, os contribuintes estão deixando de honrar seus compromissos básicos, as empresas não contratam e o endividamento público aumenta. Só será possível ter uma noção do que vai acontecer no país após os políticos eleitos anunciarem as diretrizes da política econômica, e como conduzirão as principais reformas”, disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. Ele explicou que os investimentos estão em compasso de espera, principalmente os de longo prazo. “Pouco será feito enquanto não se destravar o nó político”, afirmou.

O resultado da Pnad Contínua, em 2018, já era esperado, na análise de César Bergo, sócio-investidor da corretora OpenInvest. “Fala-se muito da greve dos caminhoneiros e da dificuldade de recuperação, principalmente da indústria de construção civil. A paralisação apenas expôs a falta de infraestrutura e de estratégias de distribuição”, afirmou. “A partir de outubro, ao ficar delineado quem vai mandar no país, os empresários vão se antecipar e abrir novas vagas. O emprego é crucial. Não se pode viver com esses números”, disse.

Para Bergo, a economia ainda pode piorar se não forem divulgados projetos para resolver o desemprego, encaminhar as reformas estruturais e um programa efetivo de combate à corrupção. “No momento, o que se vê é um plano Frankenstein. Cada um apresenta uma proposta boa e 10 ruins”, avaliou.

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No segundo trimestre de 2018, a taxa de desocupação no país foi de 12,4%. Entre as unidades da Federação, registraram as maiores taxas Amapá (21,3), Alagoas (17,3%), Pernambuco (16,9%), Sergipe (16,8%) e Bahia (16,5%). As menores foram observadas em Santa Catarina (6,5%), Mato Grosso do Sul (7,6%), Rio Grande do Sul (8,3%) e Mato Grosso (8,5%).

As mulheres eram maioria na população em idade de trabalhar no Brasil (52,4%). Porém, entre as pessoas ocupadas predominavam os homens (56,3%). De acordo a Pnad Contínua, o nível da ocupação dos homens era de 63,6% no segundo trimestre, e o das mulheres, de 44,8%. Elas representavam 51% da população desocupada e também se mantiveram como a maior parte da população fora da força de trabalho (64,9%).

Segundo os dados do IBGE, o desemprego afeta mais significativamente também as populações de pretos e pardos. Em 2012, antes da crise provocada pelo governo de Dilma Rousseff, havia 7,6 milhões de pessoas desempregadas no país, sendo que 48,9% eram pardos, 10,2%, pretos e 40,2%, brancos. Hoje, do contingente de 13 milhões de desempregados, os brancos são 35%, os pardos representam 52,3% e os  pretos, 11,8%. A diferença também é percebida na taxa de desocupação. O índice para os que se declararam brancos ficou abaixo da média nacional (12,4%), em 9,9%, enquanto pretos têm 15% e pardos, 14,4%