O globo, n. 31005, 27/06/2018. País, p. 6

 

Em viagem a Pernambuco, Ciro busca apoio do PSB

Catarina Alencastro 

27/06/2018

 

 

Pedetista conversou com viúva do ex-governador Eduardo Campos

-BRASÍLIA- Num movimento estratégico para consolidar uma possível aliança com o PSB, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, viajou ontem ao Recife para tentar convencer duas das principais lideranças do partido a apoiá-lo. O pedetista, que já conta com a simpatia da maioria da cúpula do PSB, empenhou-se pessoalmente em obter o aval do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e da viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos.

Reduto tradicional do PSB, o diretório pernambucano é considerado crucial para sacramentar a aliança. Além da máquina do estado, o PSB conta com a prefeitura do Recife e outros 60 municípios no interior do estado. Se conseguir fechar um acordo com o PSB, Ciro ganha 45 segundos de tempo de TV e amplia sua musculatura Brasil afora. O PSB governa hoje cinco estados e pretende dobrar o número de governadores.

— Atribuo ao movimento que o PSB puder fazer ao seu tempo o peso praticamente de garantir a minha eleição, o que quer dizer a fundação de um campo democrático, popular, nacional, comprometido em encerrar essa agenda antipovo, antipobre e antinacional que o país está amargando — disse Ciro após encontro com Câmara.

Candidato à reeleição, Câmara rivaliza com a petista Marília Arraes, que também pleiteia o governo do estado e está bem colocada nas pesquisas. Em conversas de bastidores, o PT negocia a retirada da candidatura de Marília em troca do apoio do PSB à candidatura do ex-presidente Lula, preso desde abril e tecnicamente inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

— A posição que for tomada pelo governador Paulo Câmara terá influência decisiva no caminho a ser seguido pelo PSB nacional. Se for a de coligar-se ao PDT, colocará Ciro na condição de favorito para a Presidência — acredita Cid Gomes, irmão de Ciro e seu principal articulador político.

A ida de Ciro a Pernambuco já vinha sendo ensaiada há várias semanas. Além de estratégica, é simbólica. Viúva de Eduardo Campos, Renata sempre foi considerada uma figura importante no partido. Eduardo sempre a consultava, e ela participava de todas as negociações políticas. Com a morte do marido em 2014, continuou sendo uma espécie de oráculo dos integrantes do PSB.

— Renata carrega uma simbologia muito grande no partido. Sem dúvida foi um gesto importante de Ciro ir ao seu encontro. Essa ida dele ajuda Paulo Câmara e Renata a terem mais simpatia a uma adesão à sua candidatura — avalia Renato Casagrande, um dos membros da cúpula do PSB que defendem um apoio nacional a Ciro.

 

NEUTRALIDADE CRITICADA

Na última segunda-feira, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, reuniu-se com os presidentes dos diretórios regionais do partido. A eles disse que, diante da grave crise política que o Brasil atravessa, seria um “erro grave” o partido ficar neutro nessas eleições.

Ciro, que já foi filiado ao PSB, tem um discurso afinado com o dos políticos do PSB. Quem participou da reunião disse que ficou claro que a maioria quer se unir a Ciro. E quem não defende expressamente esse casamento, não se opõe.

— A maioria do partido quer que o PSB tenha uma posição. Não dá para não termos uma opinião numa hora dessas, seria muito ruim. Eu sou a favor de uma aliança com Ciro — diz Casagrande.

O tempo corre contra a indefinição do PSB. Os que defendem a aliança nacional querem que a decisão saia logo, para que os estados possam se adequar à nova realidade. Um acordo deve acontecer na próxima semana. Caso se confirme o apoio a Ciro, o PSB nem faria uma convenção para ratificar a escolha. Isso porque no congresso do partido, em março, foram postas duas hipóteses, além da candidatura própria: a neutralidade ou o apoio a alguém do mesmo campo político do partido. Ciro se enquadra nessa segunda hipótese.

— PSB e PDT são partidos afins. É o caminho natural. Acho que até o dia 30 isso está fechado. Pode ser até o começo de uma fusão entre os dois partidos — pontua Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

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Em vídeo, PSDB esconde ex-presidente Aécio

Cristiane Jungblut

27/06/2018

 

 

Senador ficou de fora de evento que comemorou os 30 anos do partido

-BRASÍLIA- O vídeo de comemoração dos 30 anos do PSDB exclui o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que comandou o partido entre 2013 e 2017, período no qual foi o candidato da legenda nas eleições presidenciais de 2014. O senador mineiro foi um dos ausentes do ato para celebrar a data, realizada ontem em Brasília, que contou com a presença do précandidato Geraldo Alckmin.

O senador não gravou depoimento para o vídeo, e aparece apenas de relance, ainda jovem, ao lado do avô Tancredo Neves, em registro da época da campanha das Diretas Já. Tancredo morreu em 1985, três anos antes da fundação do partido.

Aécio se afastou da presidência do PSDB após ter sido gravado pelo empresário Joesley Batista pedindo R$ 2 milhões. Por esse episódio, ele tornouse réu no Supremo Tribunal Federal (STF), em abril, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O vídeo abre com Mário Covas, exgovernador de São Paulo e um dos principais fundadores do partido, afirmando que o PSDB surgiu como o “partido da esperança". Depois, há um depoimento do ex-presidente Fernando Henrique, que disse que o PSDB foi um partido “que nasceu para dar rumo ao país, sempre pensando no povo".

O material cita ainda a implantação do Plano Real, em 1994, quando Fernando Henrique era ministro da Fazenda. Também aparecem o ex-governador Franco Montoro, primeiro a assinar a criação do PSDB, e ex-ministros do governo de Fernando Henrique.

Há depoimentos ainda do senador Tasso Jereissati (CE), que não compareceu ao evento; do ex-governador Marconi Perillo; dos líderes do PSDB na Câmara, Nílson Leitão (MS), e no Senado, Paulo Bauer (SC). O vídeo encerra com o depoimento do atual presidente da sigla e pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin.

Além de Tasso e Aécio, a comemoração dos 30 anos do PSDB também não contou com o ex-presidente Fernando Henrique ou do candidato ao governo de São Paulo, joão Doria. Depois do evento, realizado num auditório de um hotel de Brasília, o presidente nacional da sigla e précandidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse que o PSDB “não fará aliança de qualquer jeito", ao ser perguntado sobre os acordos em negociação e sobre a proximidade do PR com o précandidato do PSL, Jair Bolsonaro.

— Não vamos fazer aliança de qualquer jeito, queremos fazer aliança com baseado em propostas, programas para a governabilidade. Quem assumir o governo em janeiro do ano que vem, não será uma situação simples — disse Geraldo Alckmin. E ensaiou uma crítica indireta a Bolsonaro: — Não vamos chegar à Terra Prometida com o voluntarismo.

O tucano repetiu que as negociações estão “bem encaminhadas" com cinco partidos: PSDB, PSD, PTB, PV e PPS. A ideia, segundo ele, é anunciar uma coligação ao final de julho.