CENTRÃO SE AFASTA DE CIRO E FECHA APOIO A ALCKMIN

 Recorte capturado

 

Eleições. Bloco partidário, que indicava um acerto com o presidenciável do PDT, muda de rota e faz acordo com O tucano, que deverá contar com o maior arco de alianças

 

Felipe Frazão

Vera Rosa / BRASÍLIA

 

Na véspera da convenção que vai oficializar a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência, o Centrão mudou de lado e decidiu fechar aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB. A reviravolta de última hora, isolando Ciro, ocorreu depois que o PR, chefiado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, se juntou ao bloco formado por DEM, PP, Solidariedade e PRB.

Em reunião realizada ontem, em São Paulo, dirigentes do Centrão disseram a Alckmin que, se não houver nenhum obstáculo no meio do caminho, o acordo será anunciado oficialmente no dia 26. O candidato a vice na chapa do tucano será o empresário Josué Gomes da Silva (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar, morto em 2011.

No mercado eleitoral, o apoio do Centrão é visto como muito importante na disputa pelo Palácio do Planalto. Juntos, os partidos têm no mínimo 4 minutos e 12 segundos por dia no horário eleitoral de rádio e TV, que começa em 31 de agosto. O PR dispõe de mais preciosos 45 segundos. Na Câmara, esses partidos abrigam uma bancada de 164 deputados, dos atuais 513.

A mudança do bloco, que até os últimos dias estava inclinado a avalizar a candidatura de Ciro, foi resultado da soma de fatores políticos. O peso maior, porém, é atribuído a Valdemar, que atuou como uma espécie de fiel da balança no bloco e exigiu uma composição com Josué de vice.

Alckmin cancelou compromissos em Montes Claros (MG), ao lado do senador Antonio Anastasia – pré-candidato do PSDB ao governo de Minas – para conversar ontem com representantes do Centrão. Diante da resistência do Solidariedade à aliança com Alckmin, o ex-governador se comprometeu a avaliar uma forma de compensar o fim do imposto sindical. “Vamos governar juntos. Ninguém faz política sozinho”, disse ele.

Antes do acordo, o PR negociava apoio ao deputado Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, que está em primeiro lugar nas pesquisas em cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso da Lava Jato, na disputa eleitoral. Como a dobradinha com Bolsonaro não vingou, Valdemar se juntou ao Centrão.

Um jantar com integrantes do bloco, na casa do senador Ciro Nogueira (PP-PI), na quartafeira, praticamente selou o destino do grupo. Ali, Valdemar manifestou preferência por Alckmin, mas disse que seguiria a posição dos colegas, qualquer que fosse.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estava no Chile e não participou do jantar, mas foi consultado por telefone. De volta, foi anfitrião de um café da manhã com o bloco ontem, em sua casa. Ouviu as ponderações de Valdemar e percebeu que não tinha maioria nem no DEM para o aval a Ciro.

Além disso, declarações do pré-candidato do PDT – consideradas desastradas –, como o xingamento a uma promotora de Justiça, na ação movida por injúria racial em declaração crítica ao vereador paulistano Fernando Holiday (DEM), contribuíram para o Centrão ficar com receio de marchar com ele.

 

Discurso. Pesou ainda contra Ciro o fato de ele não ter conseguido manter uma retórica alinhada com o que os liberais do Centrão acreditam. A pedido de Maia, o economista Claudio Adilson Gonçalez se reuniu com Mauro Benevides, responsável pelo programa econômico da campanha do PDT, e saiu da conversa dizendo que a linha de pensamento “não é conciliável”. Afirmou também que o discurso de Ciro é “perigoso e desestabilizante”. Outro fato que irritou o Centrão foi a crítica do presidenciável do PDT ao acordo da Embraer com a Boeing, chamado por ele de “clandestino”.

Além de oferecer Josué como vice, o bloco exigiu como condição para o apoio a recondução de Maia à presidência da Câmara, se o deputado e Alckmin forem eleitos. O tucano aceitou.

Na quarta-feira, o ex-governador elogiou o filho de José Alencar. “Josué é uma pessoa pela qual tenho grande estima”, disse Alckmin.

 

Resistência

Embora o Centrão tenha decidido apoiar o tucano Geraldo Alckmin, o Solidariedade, legenda ligada à Força Sindical, ainda resiste à aliança com o ex-governador. Ala do partido quer fazer campanha para Ciro Gomes, do PDT.

 

Movimento

● A articulação dos partidos do Centrão na disputa presidencial

 

Ciro Gomes (PDT) / Geraldo Alkmin (PSDB)

 

CENTRO

12/5

DEM, PP, PRB e Solidariedade começam a discutir a formação de um bloco para as eleições

 

5/6

Rodrigo Maia (DEM) sinaliza que não será candidato a presidente

 

20/6

Ciro propõe ao Centrão 'novo polo de poder'

 

28/6

Em busca de apoio, Ciro diz que solicitou ao DEM lista de pessoas para pedir desculpas

 

5/7

Rodrigo Maia compara Ciro Gomes a César Maia e diz que DEM está entre 'ideias'

 

11/7

Planalto ameaça cortar cargos do Centrão para evitar apoio a Ciro

 

14/7

Ciro reage e faz aceno a bloco. Ele promete concessão em programa de governo em troca de apoio do Centrão

 

16/7

PR diz ‘não’ a Bolsonaro e volta a negociar com o Centrão

 

18/7

Indicado pelo DEM, economista diz que pensamento de Ciro com bloco ‘não é conciliável’

 

19/7

Centrão decide fechar aliança com Alckmin, após o PR se juntar ao bloco formado por DEM, PP, Solidariedade e PRB

 

“Nós aqui podemos estar construindo um novo pólo de poder político no Brasil”

Ciro Gomes, presidenciável do PDT, a dirigentes do Centrão

 

 

“Do ponto de vista dos palanques estaduais, é muito mais difícil fechar esse quebra-cabeças (com o PSDB). Os diretórios regionais têm mais afinidade com Ciro"

Rodrigo Maia, presidente da Câmara (DEM)

 

 

Não sou contra reforma trabalhista, sou contra esta reforma. (Termo) revogar é cacoete de professor”

Ciro Gomes, durante evento com empresários

 

“Sou um profissional de economia. Apenas mostrei alguns perigos no discurso do Ciro"

Claudio Adilson Gonçalez,

economista ligado ao DEM