Título: CPI traça os rumos da investigação
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 03/05/2012, Política, p. 2

Delegados e procuradores serão os primeiros a prestar depoimento. Deputados e senadores não vão convocar governadores

A CPI mista instaurada para apurar a relação de políticos e agentes privados com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começou tirando da alça de mira os governadores dos estados onde agiam os investigados na Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro. O plano de trabalho apresentado ontem pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), não prevê a convocação de Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro; Marconi Perillo (PSDB), de Goiás; e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal. Os trabalhos começarão com convites de comparecimento a delegados da Polícia Federal e procuradores da República que participaram das operações Monte Carlo e Vegas.

Outro personagem fundamental está, por enquanto, poupado da convocação: Fernando Cavendish, sócio da construtora Delta, empreiteira que está no foco das denúncias.

Enquanto os governadores ficam fora do cronograma aprovado pelo colegiado, os integrantes da CPI dedicaram tempo e empenho às disputas políticas, a começar pelo relator. Parlamentares, sobretudo da oposição, entenderam que a proposta de trabalho original de Odair Cunha restringiria a investigação à empresa Delta, focando as apurações à atuação da empreiteira na região Centro-Oeste.

A tese foi rechaçada por Odair, que decidiu não alterar o relatório.

"A investigação vai em todos os locais onde a organização criminosa atuou. O texto é claro: "Vamos investigar a relação da organização com setores empresariais e agentes de mercado, inclusive com a diretoria da Delta no Centro-Oeste". Será um ponto de partida. Não escrevi que iríamos investigar exclusivamente a Delta no Centro-Oeste".O deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) foi um dos que criticaram o relator: "O correto é vermos quem essa cachoeira vai molhar ou quem essa catarata vai afogar, seja quem for".

As peças-chave da crise deflagrada a partir das operações da Polícia Federal, o senador Demóstenes Torres (sem partido- GO) e Carlinhos Cachoeira, serão ouvidas pela CPI ainda em maio. O primeiro a comparecer será o bicheiro, no dia 15. Já o parlamentar vai depor em 31 de maio. Durante a sessão, o colegiado aprovou requerimentos de quebra de sigilo telefônicos, fiscal e bancário nos últimos 10 anos de Cachoeira, como pessoa física, deixando de fora as informações da movimentação das empresas dele. Os parlamentares decidiram ainda que os depoimentos dos delegados da Polícia Federal e procuradores da República serão realizados em sessão secreta, sob argumento de não fornecer subsídios à defesa dos suspeitos.

Reclamações

O primeiro capítulo da CPI gerou revolta de alguns integrantes do colegiado. "Fico pensando no povo brasileiro, que está nos ouvindo agora. Uma investigação que envolve governadores, senadores e outros agentes públicos, começamos falando sobre convocação de delegados e procuradores", ironizou o senador Pedro Taques (PDT-MT) durante a sessão, que durou aproximadamente seis horas.O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) fez coro: "O plano de trabalho é omisso quando não solicita a convocação dos governadores. O senhor Cavendish está no coração de todo o esquema. Não podemos aceitar uma CPI pela metade". Pela manhã, oficiais de Justiça entregaram ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e ao relator um envelope com nove mídias, material colhido na Operação Vegas. Os parlamentares foram informados, porém, que as informações da Monte Carlo ainda estão na 11ºVara Federal de Goiás.Durante a sessão, a CPI aprovou requerimento para enviar à Justiça Federal uma solicitação de compartilhamento do que foi apurado durante a operação.

Cronograma

Confira as datas dos primeiros depoimentos que serão tomados pela CPI do Cachoeira

8 de maio » Delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques, responsável pela investigação da Operação Vegas.

10 de maio » Delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e dos procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, responsáveis pela investigação da Operação Monte Carlo.

15 de maio » Contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

17 de maio » Reunião administrativa para votação de requerimentos.

22 de maio » José Olímpio de Queiroga Neto, Gleyb Ferreira da Cruz, Geovani Pereira da Silva, Wladimir Henrque Garcez, Lenine Araújo e outros. Todos ligados a Carlinhos Cachoeira.

24 de maio » Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, Jairo Martins e outras pessoas ligadas a Cachoeira.

29 de maio » O ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Dias de Abreu.

31 de maio » Senador Demóstenes Torres.