O globo, n. 31000, 22/06/2018. País, p. 3

 

Pedra no caminho

22/06/2018

 

 

Prisão de ex-secretário de Alckmin em operação da PF aumenta pressão sobre candidatura tucana

 

Ex-secretário de Geraldo Alckmin, Laurence Lourenço foi preso sob a suspeita de irregularidades na construção do Rodoanel. Ex-secretário de Transportes do estado de São Paulo na gestão do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), Laurence Casagrande Lourenço foi preso ontem, temporariamente, por sua participação na assinatura de aditivos que, segundo a Polícia Federal, podem ter gerado prejuízos de R$ 600 milhões no Rodoanel, a principal obra rodoviária das gestões tucanas no estado. Embora não implique diretamente o pré-candidato do PSDB à Presidência, a investigação causa desgaste a um dos temas mais sensíveis para sua candidatura: o discurso da honestidade.

Outros tempos. Alckmin e Laurence, durante lançamento do início de obras para construção de ponte sobre o Rio Tietê; aliados admitem desgaste com operação policial
Lourenço é acusado de irregularidades na época em que era diretor-presidente da Dersa, a empresa de obras em estradas controlada pelo governo paulista. Ele é principal alvo da operação. Até ontem, o servidor, que não é filiado ao PSDB, presidia a Companhia Energética de São Paulo (Cesp). Após a operação, ele renunciou.

Líderes tucanos, atuantes ou não na campanha de Alckmin, reconheceram que o caso traz prejuízos. Eles avaliam que o maior patrimônio político de Alckmin é dilapidado a cada episódio envolvendo personagens do seu entorno com a LavaJato. Mas negam que este episódio ponha em risco a confirmação do tucano como o candidato.

Em nota, Alckmin disse ontem que apoia as investigações e a punição dos culpados. Acrescentou que na sua gestão a Dersa colaborou com a apuração do Tribunal de Contas da União (TCU). As denúncias, no entanto, enfraquecem estratégia de pôr Alckmin em posição distante às denúncias relacionadas ao PSDB, desgastado por suspeitas de corrupção e pela participação com ministérios no governo Temer.

Na campanha, Alckmin será confrontado com o fato de ser alvo de inquérito por suspeita de caixa 2 nas campanhas de 2010 e 2014. Delatores apontam o cunhado dele, Adhemar Ribeiro, como operador das transações. Ambos negam irregularidades.

A Operação Pedra no Caminho, da PF, cumpriu 14 mandados de prisão. A juíza Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara de Justiça Federal de São Paulo, considerou que havia risco de obstrução de Justiça e coação de testemunhas. Num dos locais de busca e apreensão, policiais encontraram R$ 100 mil e US$ 1 mil dólares, em espécie.

O contrato entre a Dersa e a OAS, no valor de R$ 604 milhões, foi assinado em 2012, e teve pelo menos quatro aditivos, que resultaram em 22 acréscimos de serviços não programados, que levaram ao aumento dos preços pagos pelo estado.

Até agora, já foi identificado sobrepreço de R$ 143 milhões nos aditivos, segundo o TCU. Para os procuradores, há indícios de que o esquema ocorreu com o consentimento de Lourenço. A juíza considerou que os fatos trazem indícios da prática de fraude e associação criminosa. Os investigadores acreditam que documentos apreendidos podem esclarecer se houve pagamento de propina ou não.

 

ESCALADO PARA INVESTIGAR CORRUPÇÃO

A PF diz que as empresas utilizavam o que é conhecido como “jogo de planilhas”, quando escondem o sobrepreço de algum dos itens da obra com a indicação de valores abaixo do mercado para outros. Após a contratação da obra por um preço artificialmente baixo, afirmou o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, as empresas assinaram com o governo uma série de aditivos que estavam sendo formalizados até o ano passado, três anos após o início da Lava-Jato.

Para a procuradora Thamea Danelon, a presença de empreiteiras investigadas na Lava-Jato nas irregularidades é preocupante. — Isso demonstra que as práticas continuam. Lourenço foi escalado na gestão Alckmin justamente para investigar denúncias de corrupção na Dersa atribuídas a Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto — ex-diretor da estatal apontado como operador de propina de tucanos. Na ocasião, Alckmin anunciou que seu governo adotara uma “política de governança” na empresa com a estruturação de um departamento de auditoria. Lourenço havia trabalhado antes na Kroll, empresa que atua na área de investigações corporativas.

Foi o departamento de auditoria da Dersa que chegou à conclusão de que a estatal havia praticado irregularidades no pagamento de indenizações a falsos beneficiários durante a gestão de Paulo Preto. Paulo Preto é réu em uma ação que trata dessa suposta fraude, que chegaria a R$ 7 milhões.

Ele foi diretor-presidente da Dersa até abril passado. Estava no cargo desde 2011, mas ocupou outras funções de confiança no governo, como secretário de Transporte e assessor na secretaria de Segurança Pública. Lourenço era ligado a um dos homens fortes de Alckmin, o atual secretário de Governo, Saulo de Castro.

As irregularidades que constam na investigação de agora foram apontadas por um ex-funcionário da Dersa, estatal paulista responsável pelas obras do Rodoanel. Esse servidor era gerente de obras, subordinado ao diretor de engenharia Pedro da Silva, que respondia diretamente a Lourenço. O empregado se negou a assinar aditivos para a obra porque “não concordou com algumas alterações que estavam sendo feitas no contrato para ajustar valores”. Após o episódio, ele foi afastado.

Num único caso, de remoção de rochas com uso de explosivos, o custo inicial foi aumentado em 987%, o que significou R$ 21 milhões a mais. Para os investigadores, os reajustes serviram para gerar pagamentos indevidos.

A defesa de Laurence Casagrande Lourenço não foi encontrada para comentar as acusações da Polícia Federal. Ja a Dersa, em nota, afirmou que “havendo qualquer eventual prejuízo ao erário público, o Estado adotará as medidas cabíveis, como já agiu em outras ocasiões.”

Daniel Bialski, que defende Pedro da Silva, diretor de Engenharia da Dersa, ressalta que “a prisão é desnecessária. Não podemos esquecer que a custódia em qualquer modalidade é uma exceção e não há demonstração de que era imprescindível". “Ele prestará todos os esclarecimentos necessários, já que não praticou qualquer ilicitude" finaliza Bialski.

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Alckmin diz que ação da polícia não afeta campanha

Jeferson Ribeiro

22/06/2018

 

 

Tucano defendeu a investigação, mas afirmou que não se pode ‘tirar conclusões precipitadas’

“A gente não deve tirar conclusões precipitadas, vamos aguardar para não cometer injustiça. O importante é investigar” Geraldo Alckmin Pré-candidato do PSDB à Presidência

Poucas horas depois da prisão do presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), Laurence Lourenço, ontem em São Paulo, o ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou, que a operação policial não tem “nenhum” efeito sobre sua campanha. E, questionado sobre sua responsabilidade na indicação do servidor para a função no governo paulista, disse que não se deve tirar “conclusões precipitadas” sobre o caso.

— Eu acho que a gente não deve tirar conclusões precipitadas, vamos aguardar para não cometer injustiça. O importante é que imediatamente se apure e investigue. Se tem qualquer tipo de desvio, punição exemplar, e, se não tem, que se esclareça rapidamente — argumentou o tucano, após participar de um almoço com empresários da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Alckmin admitiu que sabia da existência de contestações do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação à obra, mas que isso teria sido resolvido com o órgão regulador. Mas se disse surpreso quanto à existência de investigação sobre sobrepreço ou superfaturamento.

Mais tarde, em Nova Iguaçu, Alckmin falou sobre outros temas da campanha e rejeitou que sua estratégia seja “jogar parado” nesse momento da disputa.

— Nós estamos nesse período que não pode fazer campanha percorrendo o Brasil. Tive nesta semana em Minas (Gerais), quarta-feira, em Brasília, hoje (ontem) no Rio capital e Baixada. Amanhã (hoje), Pernambuco. Sábado, Paraíba. Então, eu estou suando a camisa — brincou o tucano, ao ser questionado sobre a cobrança de aliados para que ele fosse mais incisivo na campanha.

O tucano tem sofrido para atrair o apoio de aliados, principalmente por não ter melhorado seus índices de intenções de voto nas pesquisas. Nos últimos dias, porém, ele tem intensificado os contatos políticos. Alckmin também comentou a possibilidade de o DEM apoiar sua candidatura, como sinalizou o presidente da Câmara e pré-candidato do partido, Rodrigo Maia.

— Do ponto de vista político, estou conversando com os partidos, claro respeitando os que têm candidato próprio. No caso do DEM, tenho estima pessoal pelo Rodrigo Maia e, como o partido o lançou a pré-candidato, tem que ter respeito. No que depender de nós, temos que estar juntos pelo Brasil por um programa para o país voltar a crescer. E temos identidade com o Democratas e outros partidos que pensam como nós, que não vamos chegar à terra prometida com voluntarismo — afirmou o tucano, antes de negar que o termo “voluntarismo” tenha sido um recado a Ciro Gomes: — Quem quiser que vista a carapuça, mas o fato é que não tem mágica. O Brasil precisa ter agenda de competitividade para retomar a confiança.