O Estado de São Paulo, n.45571 , 25/07/2018. Política, p.A9

PF vai investigar ato pró-Lula no STF

Rafael Moraes Moura

Teo Cury

 

 

Grupo que pedia soltura do ex-presidente joga tinta vermelha em área usada para passagem dos ministros do Supremo; ninguém foi detido

 

A Polícia Federal vai investigar ato de manifestantes que ontem pela manhã jogaram tinta vermelha no salão branco do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. O local, uma área externa do prédio, é usado para a passagem dos ministros quando chegam às sessões plenárias. O STF está em recesso até o dia 31 de julho.

Cerca de 20 pessoas favoráveis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Operação Lava Jato, protestaram na entrada do edifício-sede da Corte. O ato durou pouco mais de 10 minutos. Até a conclusão desta edição, nenhum dos integrantes do grupo havia sido identificado e ninguém foi detido.

Eles iniciaram o protesto na Praça dos Três Poderes e terminaram atrás do prédio principal do Supremo. Seguranças presentes no momento do ato mostraram à reportagem fotos e vídeos dos manifestantes, que gritavam “Lula livre” e carregavam cartazes pedindo a liberdade do petista. O grupo levava cartazes representando a carteira de trabalho brasileira, a Constituição Federal e a marca da Petrobrás. Um dos seguranças que tentou impedir a ação ficou com uma marca de mão em sua camisa. Em seguida, os manifestantes saíram em duas vans.

Em nota, o STF informou que a Secretaria de Segurança do tribunal já está adotando as providências para apurar o episódio. “Imagens e informações dos envolvidos, bem como números de placas de veículos, foram coletadas pela segurança do tribunal e contribuirão para as investigações”, comunicou a assessoria do STF. De acordo com a equipe de segurança da Corte, os manifestantes são os mesmos que na última sexta-feira criticaram decisões recentes do tribunal, o salário dos magistrados e a prisão de Lula.

O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Jayme de Oliveira, repudiou o ato de vandalismo. “Não se pode admitir, sob qualquer pretexto, atos de vandalismo como este que atinge a mais alta instância do Judiciário brasileiro. A AMB reafirma a defesa do Estado Democrático de Direito e entende que atos dessa natureza não podem permanecer impunes”, disse Oliveira.

Em dezembro de 2016, a estátua da Justiça, localizada na frente do edifício-sede do STF, foi alvo de tinta vermelha atirada por um grupo que contestou decisão da Primeira Turma da Corte sobre aborto. À época, o colegiado abriu um precedente ao entender que não é crime o aborto realizado durante o primeiro trimestre de gestação – independentemente do motivo que leve a mulher a interromper a gravidez.

 

Prédio. Em abril deste ano, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) jogaram tinta vermelha no prédio em que a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, mantém apartamento no bairro Santo Agostinho, na região centro-sul de Belo Horizonte.

À época, o coordenador do MST em Minas Gerais, Silvio Netto, afirmou que o protesto foi uma forma de mostrar que os trabalhadores estão dispostos a lutar. “Cármen Lúcia se tornou a inimiga número um dos mineiros”, disse Netto.