Título: Aproximação do Congresso
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2012, Política, p. 5

A presidente Dilma Rousseff decidiu convocar para hoje à tarde mais uma reunião do Conselho Político. A decisão surpreendeu até os líderes da Câmara e do Senado, que costumam ser quem pede o encontro. O tema será a situação econômica do país e a queda de braço que o governo tem mantido com os bancos privados para reduzir as taxas de juros. A iniciativa da presidente tem o objetivo de aproximar mais o Palácio do Planalto do Congresso.

Conforme ocorreu na última reunião do Conselho Político, em fevereiro, quem vai presidir o encontro será o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Logo no começo, fará uma apresentação da situação econômica do país, em um cenário diferente de dois meses atrás. Na época, ainda havia uma preocupação com a crise econômica internacional e em como ela poderia afetar a economia brasileira. Agora, a preocupação da presidente é a batalha que tem travado com os bancos privados para reduzir as taxas de juros e o spread bancário — a diferença entre o preço de compra (procura) e venda (oferta) de uma ação, título ou transação monetária. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também participa do Conselho Político.

A presidente tem se manifestado com frequência para criticar os altos juros pagos pelos brasileiros. Dilma mandou que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal baixassem suas taxas, para constranger e forçar os bancos privados a fazerem o mesmo. Não satisfeita, a presidente determinou também a redução das taxas de juros para crédito imobiliário e as taxas de administração de alguns fundos de investimento.

Dilma não faz questão de esconder sua insatisfação e de reiterar que acredita que pode ser feito ainda mais. No pronunciamento da última segunda-feira à noite, por ocasião do Dia do Trabalho, a presidente subiu o tom e criticou em rede nacional a postura dos bancos. “Os bancos não podem continuar cobrando os mesmo juros para empresas e para o consumidor enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável, e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos. O setor financeiro, portanto, não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros”, disparou.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que recebeu um telefonema da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, na quinta-feira passada e ficou “surpreso” com a convocação. “Não havia nenhuma sinalização e normalmente é a base que sugere”, disse. “Mas é sempre uma iniciativa positiva, uma coisa boa”, completou.

Fora do palanque A iniciativa da presidente é vista pelos líderes dos partidos aliados como uma tentativa de se aproximar mais do Congresso. No último encontro, Dilma disse estar muito satisfeita e prometeu ter reuniões do Conselho Político com mais frequência, uma vez por mês. Como a presidente teve uma agenda cheia de viagens nos últimos meses, a reunião de hoje ocorre em um espaço de quase dois meses do último encontro.

Será a segunda reunião do Conselho Político este ano. Na última, em 14 de fevereiro, Dilma abriu com uma apresentação da situação econômica do país e mandou dois recados para os presentes. O primeiro foi o de que não toleraria o uso da máquina pública nas eleições municipais. O temor era justificado pelo fato de que, em 2011, Dilma perdeu três de seus ministros por denúncias de uso da máquina para favorecimento pessoal: Alfredo Nascimento (PR), dos Transportes; Carlos Lupi (PDT), do Trabalho; e Orlando Silva (PCdoB), do Esporte.

O outro recado foi de que Dilma não subiria em palanque na campanha eleitoral municipal em 2012. Com uma base aliada grande, e sem acordo em diversos municípios, a presidente deixou claro que não estava disposta a interferir.

"Não havia nenhuma sinalização e normalmente é a base que sugere. Mas é sempre uma iniciativa positiva, uma coisa boa”

Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara, sobre a convocação surpresa para a reunião do Conselho Político