O globo, n. 30999, 21/06/2018. País, p. 4​

 

DEM está mais perto de Alckmin, diz Maia

Bruno Góes

21/06/2018

 

 

Para o presidente da Câmara, decisão, que ‘é a mais natural’, pode ser tomada já na semana que vem

Em uma guinada de sua articulação política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou ontem que o seu partido, o DEM, está mais próximo de declarar apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin. Ao GLOBO, Maia admitiu que o caminho “mais natural” do partido no momento é costurar uma aliança com o PSDB. O movimento de aproximação de Maia com os tucanos aconteceu no mesmo dia em que o presidente nacional da sigla, o prefeito de Salvador, ACM Neto, se reuniu com Alckmin em Brasília.

Na avaliação de Maia, o programa partidário do DEM, mais próximo dos tucanos, deve ser fundamental na hora de fechar um acordo em torno de Alckmin. Apesar de ensaiar uma negociação com diferentes candidatos e emitir sinais contraditórios, o DEM sempre teve mais afinidade ideológica com o PSDB. Aliança histórica com os tucanos não impediu o presidente da Câmara de abrir conversas com o précandidato do PDT, Ciro Gomes, com quem jantou anteontem. Mas Maia procurou deixar claro, na conversa com O GLOBO, que um acerto com o pedetista não está no horizonte.

Maia manteve o discurso de que ainda é pré-candidato ao Planalto, mas disse que a decisão do partido sobre o apoio a Alckmin está sendo maturada, podendo ser tomada já “na semana que vem” ou daqui a um mês, quando o DEM faz sua convenção.

— Nós não caminhamos para isso (uma aliança com Ciro). Foi uma primeira conversa, como já tivemos com o Geraldo (Alckmin), o Alvaro (Dias). É claro que o caminho natural do DEM é apoiar o Geraldo Alckmin. Nós temos uma aliança em São Paulo. Esse é o caminho natural se o DEM não decidir pela minha candidatura. Agora, o que precisamos entender é que o Brasil precisa sair da política do ódio e ir para a política da conciliação — afirmou.

Maia acredita que a grande dificuldade dos partidos de centro-direita será fazer uma campanha no momento em que o campo de oposição ao presidente Michel Temer tem uma vantagem estratégica, dada a esmagadora desaprovação do governo. Na sua visão, o candidato vitorioso será um postulante disposto a fugir da polarização. Ao mesmo tempo, Maia concorda que os palanques regionais e o tempo de televisão serão importantes para a viabilidade de um candidato.

— Se você olhar o discurso do Geraldo, ele está fugindo da polarização com o PT. O discurso do Geraldo tem sido o do diálogo, está olhando outro caminho para crescer nas pesquisas. Então, está todo mundo vendo que essa polarização está, de fato, falida.

O FATOR TEMER

Para Maia, o governo terá um “papel pequeno” nas articulações.

— A sociedade não enxerga tudo aquilo que ele (Temer) conseguiu fazer. A sociedade olha o Lula. A presidente Dilma está fora da cronologia. Temos um governo que na área econômica tem avanços, mas erros que levaram a duas denúncias que tiraram o capital político para fazer a coisa mais importante, que era a reforma da Previdência.

Mesmo sem deslanchar nas pesquisas de intenções de voto, Alckmin deu um passo importante para aglutinar o apoio de outros partidos, segundo o presidente da Câmara.

— É claro que a minha candidatura interditou um espaço de diálogo do Alckmin. Talvez a outra questão tenha sido a demora para organizar a disputa em São Paulo (onde o PSDB já fechou aliança com o DEM). Ontem, pela primeira vez, ele disse que o candidato dele é o João Doria. Ele resolveu, no principal estado brasileiro, que o caminho dele para a eleição é o Doria. Demorou para fazer isso.

Ontem de manhã, integrantes da cúpula do DEM receberam Alckmin para uma conversa na residência do deputado Mendonça Filho (PE), ex-ministro da Educação do governo Michel Temer. No encontro, o tucano pediu que o DEM decida por apoiá-lo e consiga trazer todo o bloco do chamado centro. Após a reunião, Gerealdo Alckmin disse que a negociação com os demais partidos está avançando.

— Esse é um processo de aproximações sucessivas. As coisas estão caminhando bem. Tomei um café da manhã, com tapioca. Foi caprichado. Uma boa conversa — disse Alckmin, ao chegar ao Senado para um almoço com a bancada do PSDB.

O DEM cresceu desde a última eleição presidencial, e hoje tem uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, além de estar à frente de um grupo de partidos do chamado centrão. Turbinado, o partido não quer se colocar tão facilmente no colo do PSDB, com quem padece de um desgaste na relação. Por isso, integrantes da cúpula do DEM têm dito que as conversas com o PDT em torno de um eventual apoio a Ciro Gomes ainda estão abertas.

No encontro da noite de terça-feira com Ciro foram abordados dois temas espinhosos: o temperamento agressivo do pedetista, que não poupa nem integrantes do DEM, e sua agenda programática muito alinhada à esquerda. Segundo um dos participantes, o presidenciável do PDT fez um mea culpa sobre os arroubos verbais, e disse que, se estiver representando um grupo maior, saberá da responsabilidade que carrega.

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Chapa de Paes negocia aliança com o MDB

Bruno Góes

21/06/2018

 

 

Rodrigo Maia diz que tenta apoio do partido de Sérgio Cabral e Pezão

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu ontem que está negociando uma chapa com o MDB para a disputa ao governo do Rio. O pré-candidato do DEM, Eduardo Paes, saiu do MDB há dois meses, após longo processo de desgaste da legenda. Alvos de diversas fases da Operação Lava-Jato, alguns dos principais dirigentes do partido no Rio foram presos.

— Estou procurando todos os partidos, inclusive o MDB. Mais uns 15, 20 dias, vamos lançar a candidatura do Eduardo. Vou conversar com o Solidariedade, MDB, PR. Acho que temos de fazer uma ampla aliança mostrando que a gente precisa recuperar o Estado do Rio de Janeiro, que foi à falência — afirmou Maia.

Apesar de não mencionar que os emedebistas Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão estiveram no cargo durante o pior momento de crise — Cabral, inclusive, está na cadeia —, Maia disse que é preciso fazer “uma nova forma de política”.

— O MDB vem? Vem entendendo qual é a política que o Rio precisa daqui para frente. O PP, o PR, todos os partidos... A política vai demandar dos políticos uma nova forma de fazer política — disse Maia.

De acordo com o presidente da Câmara, a principal agenda da candidatura de Eduardo Paes será a “recuperação do estado”. E, para isso, seria preciso contar com um líder político “experiente”.

Hoje, o MDB do Rio é liderado pelos deputados Leonardo Picciani e Marco Antônio Cabral, ambos filhos de, respectivamente, Jorge Picciani e Sérgio Cabral. Por envolvimento com o esquema criminoso desvendado pela Lava-Jato, ambos estão na presos. Picciani cumpre pena em casa por problemas de saúde.

No início do mês, as conversas entre MDB e DEM esfriaram após o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), homem de confiança de Paes, ter criticado Pezão pela forma como conduz a recuperação fiscal.

MAIS PROPAGANDA

Maia minimizou o arranjo político. Ao levar o MDB para composição de Paes, o DEM mira o tempo de TV para fazer a propaganda eleitoral.

— O líder do processo é o DEM. O Eduardo foi um grande prefeito do Rio. Como meu pai também foi um grande prefeito. Nós temos dois prefeitos que foram grandes gestores. A organização que nós fizemos da máquina pública em 1992 gerou todos os avanços nos 20 anos seguintes. Então, nós temos como mostrar o que nós fizemos com meu pai e agora com o Eduardo, porque a origem dele é o DEM — disse o presidente da Câmara dos Deputados.

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Marina janta com Huck, mas sem ‘instrumentalizar’​

Jeferson Ribeiro

Adriana Mendes

Dimitrius Dantas

21/06/2018

 

 

Ela diz que entende as limitações políticas do apresentador

A précandidata da Rede à Presidência, Marina Silva, jantou ontem, no Rio, com o apresentador de televisão Luciano Huck, que já foi cotado para disputar o Palácio do Planalto.

Marina sinalizou apoio ao grupo Renova BR, movimento suprapartidário que tem proximidade com Huck. A pré-candidata da Rede vem enfrentando dificuldades para costurar alianças. Pouco antes do encontro, Marina disse que compreende as limitações que Huck teria para apoiar sua précandidatura publicamente.

— O Luciano, pelo que sei, tem um impedimento que serviu até para sua própria candidatura e eu tenho respeito pela situação dele. Ele é membro (do Agora), mas, pelo que eu saiba, não está podendo se colocar e não tenho a pretensão de instrumentalizar ninguém — afirmou a ex-senadora, após participar de um debate com o movimento Roda Democrática, no Centro do Rio.

SEM FORMALIDADES

Questionada sobre a possibilidade de o Agora apoiá-la formalmente, Marina disse que o movimento já tem vários précandidatos filiados à Rede, mas que não queria “antecipar uma decisão que era deles”.

Segundo ela, entre os movimentos cívicos apenas o Brasil 21 já anunciou adesão integral à sua pré-campanha, mas há diálogo com outros que podem apoiar sua pré-candidatura futuramente.

No mês passado, Luciano Huck não quis adiantar se vai declarar apoio a algum nome, mas deixou claro que nenhum dos concorrentes despertava sua admiração.

— Você olha para política e vê um cenário de terra arrasada. Dos candidatos não tem ninguém que eu admire. Tem pessoas que você aceita — disse o apresentador em um debate sobre eleições.

Com uma campanha que se diz “franciscana” e que não pretende contratar marqueteiro tradicional, Marina voltou a 2010 e decidiu recorrer à ajuda do cineasta Fernando Meirelles. Diretor de filmes como “Cidade de Deus” e “Ensaio sobre a Cegueira”, Meirelles já participou de reuniões de campanha, além de contribuir para o programa de governo. Ao GLOBO, o diretor disse que quer ser uma espécie de ombudsman da equipe de comunicação da candidata da Rede. Ele não descartou alguma forma de colaboração para a comunicação da campanha, como a produção de algumas peças de publicidade. Há oito anos, na primeira tentativa da ex-senadora de chegar ao Palácio No Rio. Marina, que costura alianças à sua maneira do Planalto, o cineasta ajudou a montar a equipe que produziu os programas eleitorais e contribuiu com ideias para as propagandas da ambientalista. Agora, Meirelles tem interesse em atuar na área de comunicação que tocará a campanha, mas de fora e com sugestões.

— Gostaria de colaborar fazendo filmetes sobre agricultura, educação, energia e conectividade, áreas do programa, no qual há ideias transformadoras que me agradam. Vamos ver se me deixam — disse o cineasta ao GLOBO.

Os integrantes do grupo responsável pelo programa de governo prometem que o texto trará uma proposta incisiva contra a desigualdade. Entre os economistas que fazem parte da equipe estão Eduardo Giannetti, André Lara Resende e Ricardo Paes de Barros, este último um dos idealizadores do Bolsa Família.