O globo, n. 30998, 20/06/2018. País, p. 4​

 

Os arrependidos da CPI

Bruno Góes

20/06/2018

 

 

MEDO DE REJEIÇÃO - Com 190 nomes divulgados, deputados resolvem voltar atrás e retirar suas assinaturas de comissão que se dedicaria a investigar as delações da Operação Lava-Jato

A pouco mais de três meses da eleição, a divulgação da lista de 190 deputados que assinaram a criação de uma CPI, dedicada a escrutinar delações da Operação Lava-Jato, provocou ontem uma verdadeira correria na Câmara. Temendo perder eleitores com a iniciativa, os deputados, antes favoráveis à chamada CPI das Delações, tentaram retirar suas assinaturas da matéria. Até o fechamento desta edição, pelo menos 48 deputados haviam tentado excluir seus nomes.

Como O GLOBO revelou em 12 de junho, parlamentares de todos os partidos assinaram o pedido de CPI, protocolado no dia 30 de maio. Ontem, para desalento dos deputados, a Câmara informou que o regimento interno da Casa não prevê a figura do arrependimento, mas a CPI não deve sair do papel por decisão da presidência da Casa.

Com toda a sinceridade que a hora permitia, a deputada Laura Carneiro (DEM-RJ) alegava ontem que nem ela e nem seus colegas teriam lido o texto antes de avalizar a proposta.

— É simples. As pessoas, quando assinaram, leram somente a ementa, que é pequena. E as pessoas, quando viram tudo, tomaram um susto, porque não querem acabar com a Lava-Jato. No plenário você não lê a justificativa — disse.

Vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (MDBRS) também estava no grupo dos arrependidos que ontem juravam apoiar a Lava-Jato:

— Assinei, mas fui induzido ao erro. Depois que li com mais cuidado as justificativas do pedido, entendi que a CPI em questão não ajuda em nada ao Brasil, tampouco o combate à corrupção. Não vou avalizar nenhuma iniciativa que tenha como objetivo atrapalhar o trabalho que vem sendo feito para passar o país a limpo.

Todo o desespero dos deputados em retirar a assinatura decorre de uma simples equação. Responsável por desmantelar um esquema bilionário de desvio de dinheiro na Petrobras, a Lava-Jato caiu no gosto popular como uma das maiores operações de combate à corrupção já feitas no país. Nas últimas pesquisas eleitorais, a corrupção tornou-se a principal preocupação dos brasileiros, à frente inclusive da saúde. Nesse contexto, para qualquer deputado que pretenda concorrer à reeleição, apoiar uma CPI contra a LavaJato seria prejuízo garantido.

Integrante do PSD de São Paulo, o deputado Goulart foi o primeiro a protocolar o pedido de retirada de assinatura. Ele diz ter sido convencido a assinar pelo colega petista Carlos Zarattini (SP), mas resolveu voltar atrás.

— Me cantaram a bola de que isso (a CPI) teria alguns objetivos do PT por trás. E não quero ser confundido com quem quer parar a Lava-Jato — disse Goulart.

Opositor da medida, o deputado Daniel Coelho (PPS-PE) subiu ontem à tribuna para cobrar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a possível instalação da CPI. Maia deu sinal de que pode engavetar o pedido:

— Fique tranquilo. Tudo que fazemos aqui será respeitando as lei, a Constituição. Ainda não li o teor, o mérito do documento. Mas fique tranquilo.

Líder do PT e autor da proposta, Paulo Pimenta (PT-RS) subiu à tribuna para dizer que a Câmara estava “acovardada”.