O globo, n. 30998, 20/06/2018. Economia, p. 23​

 

Ibovespa volta a superar os 70 mil pontos

Luís Limas

20/06/2018

 

 

Na contramão dos mercados mundiais, Bolsa brasileira avança 2,26%, puxada por bancos e Petrobras

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, ficou na contramão das principais Bolsas globais ontem, que caíram pelo acirramento das ameaças de guerra comercial entre Estados Unidos e China. O indicador — que na véspera havia ficado abaixo dos 70 mil pontos, patamar que não era visto desde agosto de 2017 — encerrou aos 71.394 pontos, uma valorização de 2,26%. No mercado de câmbio, o dia também foi de trégua. Embora a divisa americana tenha se valorizado no exterior, aqui o dólar comercial avançou apenas 0,10%, a R$ 3,745. A entrada de estrangeiros na Bolsa contribuiu para segurar a moeda.

Analistas apontaram um movimento de correção técnica, com investidores aproveitando o preço baixo das ações das empresas brasileiras. Além disso, a expectativa de manutenção da Selic em 6,5% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina hoje, também é positiva para a Bolsa.

BC NÃO ATUA NO CÂMBIO, E DÓLAR SOBE 0,1%

Os contratos de juros futuros tiveram forte baixa, também seguindo um movimento de ajuste. O contrato de DI mais curto, para janeiro de 2019, fechou com taxa de 7,03%, contra 7,155% na véspera. Já os contratos mais longos, com vencimento em janeiro de 2021, terminaram com taxa de 9,58%, frente aos 9,79% da segunda-feira.

— A onda de pessimismo que inflou a alta do dólar, pressionou as taxas de juros futuras e derrubou a Bolsa na semana passada perdeu força. Com o preço das ações de empresas brasileiras baixo e a percepção de que não haverá alta de juros na reunião do Copom, muita gente voltou a comprar, inclusive estrangeiros. Com o fluxo de recursos para a Bolsa, o dólar deu uma trégua — explicou o economista de um banco nacional, que não quis ser identificado.

O Banco Central (BC) não atuou no mercado de câmbio, como vem fazendo diariamente desde o fim de maio, com a venda de novos contratos de swap cambial, operação que equivale a uma venda de dólar no futuro. Na semana passada, o BC informou que ofertaria pelo menos US$ 10 bilhões desses papéis esta semana. Na segunda-feira, foi US$ 1 bilhão. No exterior, o índice Dollar Spot, da Bloomberg, que mede o comportamento da divisa frente a uma cesta de dez moedas, subiu 0,27%.

Nas casas de câmbio do Rio, o dólar turismo continuava em torno de R$ 4. Para o papel-moeda, as cotações iam de R$ 3,90 a R$ 3,98. Já no caso do cartão pré-pago, ficavam entre R$ 4,09 e R$ 4,14. Os valores já incluem o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,1% para a moeda em espécie de de 6,38% para o plástico.

Cleber Alessie, operador da H.Commcor Corretora, avalia que o dólar e os juros já haviam saído das máximas recentes, e agora foi a vez de o Ibovespa corrigir a forte queda das últimas semanas:

— Estava aos 85 mil pontos em janeiro e caiu abaixo de 70 mil. Agora, nos próximos dias, deve voltar aos 75 mil ou 76 mil pontos.

Na B3 (antiga Bovespa), os papéis dos bancos figuraram entre as principais altas, depois de terem perdido muito nos últimos dias. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) do Banco do Brasil subiram 7,01%, a maior alta do dia entre os bancos, a R$ 26,24. Já o papel preferencial (PN, sem voto) do Bradesco avançou 5,17%, a R$ 26,24, enquanto o do Itaú teve valorização de 4,56%, a R$ 39,45. A votação do projeto do cadastro positivo na Câmara, prevista para ontem, contribuiu.

— Os papéis dos bancos estavam muito depreciados por diversos motivos, como o aumento do dólar, rumores de alta de juros, entre outros fatores. É como uma mola, que, quando pressionada, uma hora reage — disse Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.

Para Cristiano Afonso Natividade, analista da Mirae, a reação veio depois de o Ibovespa atingir os 69 mil pontos na segunda-feira. Ele lembra que, nas últimas sete semanas, as ações dos bancos haviam perdido 40% de seu valor.

A Petrobras também se destacou entre as principais altas do Ibovespa. As ações ON tiveram valorização de 3,71%, a R$ 17,87, enquanto as PN avançaram 6,34%, a R$ 15,51. Nas máximas do dia, saltaram 6,45% e 8,41%, respectivamente. Segundo analistas, esse desempenho deveu-se à perspectiva de votação, na Câmara, do projeto de lei sobre a cessão onerosa do présal, que facilitaria o fechamento de um acordo entre a estatal e a União. Para Monteiro, da Renascença, a Petrobras também se beneficiou de uma recuperação técnica.

‘GUERRA COMERCIAL É SEMPRE RUIM’

Já os papéis da Eletrobras registraram ganho de 3,15% (ON, a R$ 13,45) e 4,20% (PN, a R$ 15,65). Isso foi reflexo da intenção do governo de acelerar a venda das distribuidoras da estatal que operam no Norte e Nordeste.

A Vale, porém, recuou 1,85%, devido à queda de 2,98% do minério de ferro. A mineradora pode ser fortemente afetada por uma eventual guerra comercial entre EUA e China, que é o maior importador global da commodity.

— Uma guerra comercial é sempre ruim, porque se sabe como começa, mas nunca se sabe como termina. Ela afeta o desempenho financeiro das empresas e também tem efeitos negativos no crescimento global. Embora alguns países possam ser beneficiados momentaneamente com a abertura de novos mercados, uma guerra comercial é ruim para todo mundo — afirmou Álvaro Bandeira, sócio e economistachefe da Modalmais.