O globo, n. 30997, 19/06/2018. País, p. 6​

 

Ex-tucano, Álvaro Dias é entrave para crescimento de Alckmin

Cristiane Jungblut

19/06/2018

 

 

Pré-candidato do PSDB ofereceu cargos em troca da desistência do adversário

Companheiro de partido do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, durante mais de uma década, o presidenciável do Podemos, senador Álvaro Dias, tornou-se, nesta eleição, um dos principais obstáculos ao projeto de poder tucano. Com 4% das intenções de voto no último Datafolha, Dias virou uma barreira para o crescimento de Alckmin nos estados de Sul e Sudeste, onde o PSDB costuma ter um bom desempenho.

Estagnado nas pesquisas — registrou 7% no último Datafolha —, Alckmin decidiu intensificar agendas de campanha no Sul para reconquistar o território perdido. Ontem, ele disse que precisar ser “mais conhecido” no país. O tucano já esteve no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Ele deve voltar a Florianópolis hoje.

Integrantes da campanha do PSDB admitem que os votos perdidos pelo crescimento de Dias estão fazendo falta no Sul e em São Paulo. Para estancar a sangria, os tucanos tentaram, há alguns meses, demover o Podemos de manter a candidatura de Dias a presidente. Emissários de Alckmin ofereceram à direção do partido secretarias no governo de São Paulo, mas o plano de cooptação não deu certo.

A relação entre Dias e a campanha de Alckmin passou a ser tensa desde então. Embora tenha pregado a união de partidos em torno de um candidato de centro, o senador do Podemos não pensa em associar seu projeto eleitoral ao tucano. Parlamentares do PSDB do Paraná, como o deputado Luiz Carlos Hauly, já avisaram ao comando que farão campanha para Alckmin, mas que não podem sair criticando Dias nem fazer campanha contra ele. Alguns tucanos ainda sonham que, na convergência dos partidos de centro, Dias volte a se aliar ao PSDB — o próprio senador, no entanto, tem descartado essa possibilidade em conversas com aliados.

Álvaro Dias já foi líder do PSDB no Senado, mas deixou o partido, em 2016, depois de muito desgaste e de bater de frente com as posições da sigla, especialmente no processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele criticava a decisão do comando do partido de apoiar apenas a saída de Dilma, aceitando até mesmo a participação no governo de Michel Temer, que era vice e assumiu a Presidência com o afastamento da petista. Nas disputas internas, Álvaro também viu seus planos no Paraná serem preteridos pelo projeto do ex-governador Beto Richa (PSDB), aliado de Aécio.

ALCKMIN BUSCA OUTROS PARTIDOS

Ciente do estrago que está fazendo na base eleitoral do PSDB no Sul e Sudeste, Dias diz que “ninguém é dono dos votos” e, por isso, trabalha para crescer até mesmo em São Paulo, terra do pré-candidato tucano. Para superar o impacto da candidatura de Dias, além das viagens, Alckmin quer intensificar as alianças com os partidos de médio porte, como o PSD, de Gilberto Kassab. Na noite de domingo, ele jantou com a cúpula do PSD, em São Paulo, na residência de Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O encontro contou com as presenças do coordenador político da campanha de Alckmin, o exgovernador de Goiás Marconi Perillo, e do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, além do ex-senador Jorge Bornhausen, ex-DEM e ligado a Kassab.

Segundo Bornhausen, as conversas estão muito bem encaminhadas. No encontro, Alckmin repetiu ter o apoio de pelo menos quatro partidos, já incluindo aí o PSD e o PTB, de Roberto Jefferson. O PV e o PPS completariam a lista de apoios. Além disso, Alckmin teve uma reunião para definir os próximos passos com o seu núcleo de campanha, composto por Perillo e os tucanos José Aníbal, que foi senador e deputado, e Pimenta da Veiga, ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso.

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Comandante do Exército recebe pré-candidatos

Bruno Góes

Cristiane Jungblut

19/06/2018

 

 

General Eduardo Villas Bôas tem manifestado preocupação com orçamento para 2019

De olho no orçamento do Exército para os próximos anos, o general Eduardo Villas Bôas tem realizado uma série de conversas com os principais pré-candidatos à Presidência da República. Nas últimas semanas, o comandante conversou com Álvaro Dias (Podemos), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). Ontem, foi a vez do tucano Geraldo Alckmin e do pedetista Ciro Gomes. O petista Fernando Haddad ainda será convidado para falar com o general em nome do PT, já que o pré-candidato do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está preso em Curitiba.

Segundo o próprio comando do Exército, esta é a primeira vez, desde a redemocratização, que o comando da caserna atua para defender a inclusão de projetos da instituição nos programas de governo dos postulantes ao Planalto. Nos encontros, Villas Bôas manifestou preocupação com a falta de dinheiro em projetos estratégicos.

Alguns dos exemplos citados são o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) e o treinamento de militares para ações de segurança e defesa nacional. O general tem destacado a importância do Exército na intervenção federal no Rio de Janeiro e durante a greve dos caminhoneiros.

— Já tivemos R$ 2,5 bilhões de orçamento em 2017. Neste ano, caiu para R$ 2 bilhões. O próximo ano pode ter só R$ 1,4 bilhão. Então, o comandante do Exército tem conversado com os pré-candidatos, num movimento sem precedentes na instituição, para reforçar a importância de investir em defesa — diz um general ligado ao comando do Exército.