Correio braziliense, n. 20177, 18/08/2018. Política, p. 2

 

Um debate com mais confrontos

Bernardo Bittar, Leonardo Cavalcanti e Deborah Fortuna

18/08/2018

 

 

Segundo encontro entre presidenciáveis na televisão teve temperatura mais quente, com embate entre Bolsonaro e Marina. Evento da Rede TV! também serviu para outros candidatos marcarem território no início oficial da campanha

Quem ficou prejudicado no primeiro debate entre os presidenciáveis tentou ganhar musculatura no evento promovido ontem pela Rede TV!. Foi o caso de Marina Silva (Rede), que cresceu ao atacar Jair Bolsonaro (PSL) em questionamento envolvendo a remuneração das mulheres. Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e Guilherme Boulos (PSol) entraram e saíram com o mesmo peso, enquanto Cabo Daciolo (Patriota) teve o isolamento evidenciado pela falta de perguntas dos adversários.

O ponto alto do debate foi a discussão entre Bolsonaro e Marina. Os demais candidatos aparentavam tranquilidade. A possibilidade de escolher o adversário para discutir os temas fez com que houvesse uma verdadeira troca de figurinhas entre eles. Alckmin, por exemplo, se aproximou de Ciro. Marina fez o mesmo com Alvaro Dias. Meirelles e Boulos acabaram juntos em vários momentos, ainda que com baixo rendimento. Daciolo, rejeitado por todos, acabou com Bolsonaro na maior parte do tempo.

No embate entre Marina e Bolsonaro, a candidata da Rede questionou o ex-capitão do Exército sobre a paridade salarial entre homens e mulheres. Bolsonaro até tentou reagir, citando que Marina era a favor de um plebiscito sobre descriminalização das drogas e do aborto, mas a ex-senadora voltou à carga, deixando Bolsonaro visivelmente irritado. “Quando a gente é presidente, não pode fazer vista grossa, dizer que não precisa se preocupar. Precisa se preocupar. Precisa ser contra a injustiça”, disse Marina.

Em outro momento, Bolsonaro perguntou a Marina se ela era a favor do desarmamento. “Não”, respondeu. E aproveitou para atacar o capitão, falando sobre a diferença de salário entre homens e mulheres. Bolsonaro contra-atacou: “Temos uma evangélica que defende plebiscito para aborto e maconha”, disse. “Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência. Você fica ensinando nossos jovens que têm que resolver na base do grito. Esses dias você pegou na mão de uma criança e ensinou a atirar. É esse ensinamento que quer dar a nossas crianças”, rebateu Marina.

Alvaro Dias e Ciro Gomes aparentavam estar mais à vontade que no primeiro debate, na semana passada. Alckmin e Meirelles não se destacaram tanto. Daciolo, com discurso excêntrico em torno da religião, deixou de impressionar. Boulos, que abusou das frases feitas e acabou alvo de troco ao provocar Alckmin. “Desses 50 tons de Temer, 40 são vermelhos”, reagiu o tucano. 

Oito dos 13 candidatos à Presidência da República participaram do debate. Na última quinta-feira, o ministro Sérgio Banhos, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rejeitou um pedido do PT que buscava permissão para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participar do debate. Foi colocado um púlpito vazio para Lula, mas o espaço acabou retirado após pedido dos adversários. O único contrário à remoção foi Boulos.

Robôs

No debate da Rede TV!, suspeitas sobre uso de robôs nas redes sociais voltaram a ser levantadas. Na semana passada, o Correio revelou que o encontro dos presidenciáveis, na TV Band, chegou a ser assunto do momento na Rússia. A reportagem mostrou movimentos atípicos detectados na rede na noite de quinta-feira. A pedido do Correio, o professor Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da UFES, levantou as referências a quatro candidatos durante o debate da Band: Bolsonaro, Ciro, Alckmin e Marina.

A partir dali, foi possível dividir publicações por idiomas. Procurado, o Twitter informou “que conduziu a própria investigação sem identificar ações coordenadas em relação a hashtags”. A suspeita de marqueteiros foi a de que pudesse ocorrer compra ou aluguel de contas russas, por exemplo, para produzir tuítes em massa. O TSE, por sua vez, prometeu, na sexta-feira, baixar resolução com regras para atuação nas redes. Não confirmou absolutamente nada até o momento. Ontem, o Twitter reforçou os desafios a contas falsas na rede. E, hoje, vai apresentar relatório.

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Tempo, um bem precioso

Rodolfo Costa

18/08/2018

 

 

A otimização do tempo será a tônica dos candidatos nesta eleição. Com os próximos seis debates — a ocorrerem entre setembro e outubro —, os candidatos terão algo em torno de 48 dias para divulgação da campanha, de hoje a 4 de outubro, prazo final para comícios ou reuniões públicas. Se levarmos em consideração que, por vezes, a preparação para um debate pode envolver mais de um dia, o intervalo pode cair para um período entre 36 e 42 dias. Bem pouco, se comparado à corrida de 2014, que contou com 90 dias.

O provérbio de que tempo é dinheiro nunca fez tanto sentido. Na campanha em que os recursos também são mais escassos — limitados a R$ 70 milhões —, as candidaturas estão focadas em quatro pilares centrais: sabatinas, entrevistas à imprensa, corpo a corpo com os eleitores e redes sociais. Com os pontos nevrálgicos identificados, os partidos traçam as melhores táticas. As redes sociais são os canais de maior alcance de disseminação das ideias depois dos debates. Por essa razão, o meio digital será muito utilizado a fim de levar ao eleitor as propostas e possibilitar que os candidatos concentrem tempo em visitas a grandes centros populares e em eventos e sabatinas organizados por entidades da sociedade civil.

A escolha dos estados varia entre cada presidenciável. Em suma, há uma estratégia de privilegiar diretórios estaduais em que o partido tenha força maior, com algum candidato a governador ou senador da mesma legenda. A candidata da Rede, Marina Silva, por exemplo, viaja ao Amapá neste fim de semana. Ela fará campanha com o líder da sigla no Senado, Randolfe Rodrigues. O mesmo estado, no entanto, não está nos planos de Henrique Meirelles, do MDB, que já esteve por lá.

Outra estratégia para otimizar o tempo é fechar a semana em regiões próximas. É a tática do PDT, de Ciro Gomes. Na próxima semana, ele participará de atos públicos em Brasília, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Na capital federal, ele fará o corpo a corpo na Feira de Ceilândia. “A ideia em potencializar nosso tempo é escolher estados próximos de uma mesma região. Lá, vamos conversar com o povo em centros de grande movimentação e participar de sabatinas e conferências com representantes da sociedade nos dias em que não houverem debate. A cada semana, passamos dois ou três dias”, explicou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

Hora de convencer

Os candidatos terão que otimizar o tempo para convencer o máximo de eleitores 
até as eleições de 7 de outubro. Entenda o planejamento dos presidenciáveis e motiva essa preparação.

» Campanha mais curta: diferentemente da última eleição, são apenas 50 dias, 
não mais 90.
» Debates: os candidatos terão mais seis debates até o primeiro turno, 
em 7 de outubro.
9/9    TV Gazeta
18/9    Poder 360/YouTube/Piauí
20/9    TV Aparecida
26/9    SBT
30/9    Record
4/10    Globo

» Em face do calendário mais curto, a maioria das campanhas vai apostar em estratégias diversas, como redes sociais; participação em sabatinas realizadas pela imprensa ou entidades; e “corpo a corpo” com a população. Comícios, no entanto, não devem ser utilizados pela maioria dos presidenciáveis.