O globo, n. 31036, 28/07/2018. País, p. 3

 

Marqueteiros 'outsiders'

Jussara Soares

28/07/2018

 

 

Presidenciáveis gastam menos em propaganda, e publicitários perdem protagonismo

Os principais candidatos à Presidência devem gastar menos para dar publicidade às suas campanhas, no momento em que “supermarqueteiros” saem da cena política. Ao fim da erados chamados“super marqueteiros ”— publicitários que movimentaram milhões de reais e tiveram suas contas devassadas pela Justiça até que fossem alvos de denúncias de corrupção —, os principais nomes que disputam a Presidência este ano devem desembolsar menos recursos para tentar dar publicidade às suas campanhas. Menos, mas, em alguns casos, ainda na casa dos milhões.

A mudança acontece ao passo em que saem cena alguns dos nomes que mais fizeram fama no meio da publicidade política. João Santana, que trabalhou para o PT, está em prisão domiciliar desde que deixou a carceragem da PF em Curitiba. Duda Mendonça, por sua vez, chegou a admitir ter recebido dinheiro de caixa 2.

Se hoje os recursos são mais escassos, em 2014 os números não disfarçavam a abundância. Santana, que trabalhou para Dilma Rousseff, ganhou, oficialmente, R$ 70 milhões. Foi a mesma quantia depositada ao marqueteiro Paulo Vasconcelos, que trabalhou para o tucano Aécio Neves naquela eleição. Ambos foram acusados de movimentar recursos de caixa 2.

Oficialmente, ninguém fala o quanto pretende gastar exclusivamente com quem tentará moldar sua imagem à expectativa do eleitor.

A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, pretende gastar R$ 10 milhões com Lula Guimarães, enquanto Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas, tem garantido que fará uma campanha modesta. O pré-candidato já informou que pretende gastar R$ 1 milhão.

Ciro Gomes (PDT) buscou ajuda num discípulo de Duda para sua campanha. Ao contrário do mestre, no entanto, o publicitário Manoel Antonio Canabarro prefere a discrição. Também com uma campanha modesta, Marina Silva (Rede) não pretende apostar em “grifes” da publicidade. Vai trabalhar com voluntários.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Auxílio luxuoso de grifes da comunicação

28/07/2018
 
 

Bolsonaro teve gravação supervisionada por Medina, e Marina volta a contar com Fernando Meirelles

Sem marqueteiros conhecidos e com menos recursos para financiar as campanhas, os presidenciáveis Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) vão contar com auxílios luxuosos, ao menos de forma pontual, em suas produções. O capitão da reserva do Exército foi dirigido pelo publicitário Roberto Medina, o criador do Rock in Rio, em um dos filmes para sua propaganda, e a ex-senadora contará novamente com o apoio do cineasta Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus.

Medina disse ter conhecido Bolsonaro há cerca de 15 dias, em um almoço na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico. Na mesma ocasião, acompanhou as gravações para o programa eleitoral, como noticiou o colunista Lauro Jardim na semana passada.

— Nunca tive ligação com Bolsonaro. O Paulo Marinho pediu para ir almoçar na casa dele e assistir a uma gravação. Ouvi as ideias dele (Bolsonaro), dei os meus pitacos sobre o Rio de Janeiro e sobre meu pensamento de comunicação — afirmou o empresário. Ele negou, porém, que trabalhará na campanha do deputado.

Já Meirelles, que também trabalhou voluntariamente para Marina em 2010, revelou ao GLOBO, no mês passado, a mensagem a ser transmitida:

— Já posso até dar uma palhinha do que vem por aí neste programa: o combate feroz e incondicional às desigualdades dentro de um modelo de desenvolvimento sustentável.