Título: Obama em visita relâmpago a Cabul
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Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2012, Mundo, p. 15

No primeiro aniversário de sua execução por um comando de elite norteamericano, Osama bin Laden transformou-se em pivô de um bate-boca eleitoral entre o presidente Barack Obama e seu provável adversário na eleição de novembro, o ex-governador republicanoMitt Romney. Obama desembarcou de surpresa na capital do Afeganistão, Cabul, minutos depois das 23h locais (15h30 em Brasília), para uma visita surpresa de poucas horas. A agenda oficial previa a assinatura de um acordo de parceria estratégica com o governo do presidenteHamid Karzai, para consagrar uma "relação especial" a partir de 2014,comasaídadastropasamericanas do país.Mas Romney e outros políticos da oposição não deixaram escapar a coincidência e criticaram o uso eleitoral do "inimigo número 1".

O presidente desembarcouna base militar de Bagram, a 50km da capital afegã, e seguiu de helicóptero para o encontro com Karzai. Falando às tropas norte-americanas, Obama reiterou o tom de "missão cumprida" que tem mantido sobre o Afeganistão desde a morte de Bin Laden. "Haverá tristeza, dores e dificuldades no futuro, mas há uma luz no fim do túnel, graças aos sacrifícios que vocês fizeram", elogiou. Mais tarde, em pronunciamento endereçado ao público americano, disse ver em breve "o fim de uma década sob as nuvens da guerra". Obama anunciou que via "ao alcance da mão" o objetivo de "derrotar a Al-Qaeda e impedir que ela retorne".

O acordo estratégico assinado por Obama e Karzai, já na madrugada de hoje pelo horário local, prevê a possibilidade de que soldados americanos permaneçam em território afegão depois da retirada ofical das forças de combate, em 2014. O documento não contempla a instalação de bases permanentes dos EUA no país, mas o governo de Cabul compromete-se a "dar acesso e permitir que forças americanas atuem até 2014 e depois dessa data". Prevê ainda a possibilidade de que as tropas permaneçam para treinar forças afegãs e combater membros da Al-Qaeda, informou a agência de notícias France-Presse, que ouviu uma fonte da Casa Branca. Segundo esse funcionário, o Afeganistão passaria a ter o mesmo status do Barein, considerado um "aliado principal não integrante da Otan".

Bate-boca

Na véspera, ainda em Washington e antes que a viagem a Cabul fosse de conhecimento público, o primeiro aniversário da execução do mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001 já havia desembarcado no debate eleitoral. Comentando um vídeo da campanha pela reeleição do presidente, no qual o ex-presidente Bill Clinton saúda calorosamente a decisão de enviar um comando clandestinamente ao Paquistão, apesar dos riscos políticos, o virtual candidato republicano à Casa Branca fez uma comparação irônica entre Obama e outro ex-mandatário democrata, Jimmy Carter — que deixou de ser reeleito pelo fracasso no resgate de reféns no Irã. "Até Carter teria dado essa ordem", disse Romney quando questionado sobre a atuação do rival.

Obama retrucou no mesmo dia, depois de ter recebido em seu gabinete o premiê japonês, Yoshihiko Noda, e lembrou que seu desafiante na eleição de novembro chegou a criticar o governo por "mover céu e terra e gastar bilhões (de dólares) para capturar apenas uma pessoa". "Em relação ao meu papel pessoal e ao que outros teriam feito, eu me contento em recomendar a todos que observem as declarações anteriores das pessoas sobre a questão de saber se era conveniente ir ao Paquistão e eliminar Bin Laden", alfinetou.