Título: Congelamento contra o câncer
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Fonte: Correio Braziliense, 02/05/2012, Saúde, p. 17
Belo Horizonte — O congelamento das células cancerígenas pode ser a solução para os tumores que atingem os ossos. Na crioterapia, como a técnica é conhecida, o osso é retirado do paciente e passa por um processo de congelamento em nitrogênio líquido. Considerada uma das mais avançadas técnicas para o tratamento desses tipos de tumor, a crioterapia ganhou destaque no 8º Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica, que ocorreu no mês passado em Tiradentes, região central de Minas Gerais, com especialistas do Brasil, da América Latina e da Europa. "O procedimento mata as células cancerígenas e as do osso. No entanto, quando é recolocado (o osso), as células doentes não voltam e as boas repovoam o local", informa o presidente do congresso, Rodrigo de Andrade Gandra Peixoto.
A crioterapia é indicada para crianças, adolescentes e adultos com até 30 anos. "O procedimento não é indicado a todos os pacientes. Apenas para os que responderam bem à quimioterapia", afirma Alejandro Enzo Cassone, coordenador do Centro de Oncologia Infantil Domingos Boldrini, em Campinas (SP). Embora a crioterapia seja uma técnica cada vez mais usada no Brasil, os tumores também podem ser tratados por meio de cirurgia para a retirada das células cancerígenas, seguida de procedimentos como o enxerto, que se caracteriza pela colocação de tecidos ósseos de doadores (homólogo) ou retirados de outra parte do corpo do doador (autólogo), e de implante de próteses de titânio. A técnica de cirurgia a ser escolhida varia de acordo com a idade do paciente, a localização e a extensão do tumor.
Alejandro lembra que os avanços no tratamento possibilitam índices de cura de até 75%, principalmente quando os tumores estão no estágio inicial. Com isso, o número de amputação dos membros acometidos pelo tumor cai consideravelmente, ocorrendo em apenas 20% dos casos. "É um percentual muito bom. Antigamente, era o inverso. Com essas técnicas conseguimos salvar os membros em mais de 80% dos casos", diz.
A intensidade e a combinação dos tratamentos (quimioterapia, radioterapia e cirurgias) vão depender de cada caso. A crioterapia vem sendo realizada em outros países há 10 anos. No entanto, no Brasil, a aplicação da técnica é recente. "Por uma questão de cautela, nós aguardamos para avaliar os resultados", diz Rodrigo. No caso de enxertos ou de colocação de próteses, a rejeição varia de 7% a 10%. A vantagem da crioterapia é ter o mesmo índice de cura de outras técnicas e, pelo fato de o procedimento recolocar o osso do próprio paciente, a área fica como antes do acometimento da doença.
Os tumores de câncer que atingem os ossos podem ser de dois grupos: primários, quando surgem das células do próprio osso, e os oriundos de metástases, quando migraram de outro lugar. Os provenientes de metástases representam em torno de 60% dos casos. Esses tumores atingem indivíduos de ambos os sexos, em qualquer faixa etária.
O diagnóstico pode ser feito por meio de radiografia simples. Informações cedidas pelo paciente e combinadas com a consulta clínica são usadas por especialistas para identificar a presença de tumores primários ou metastáticos. "Daí a nossa preocupação em chamar a atenção do ortopedista para o diagnóstico precoce e o pronto encaminhamento do paciente para o especialista", destaca Rodrigo. O diagnóstico feito de maneira tardia dificulta o tratamento, podendo em alguns casos levar à amputação da parte afetada e até a morte.
A maior parte dos pacientes sente uma dor leve na área envolvida. Ela é gradativa na intensidade e na duração, até se tornar constante e só ser aliviada, parcialmente, pelo uso de analgésicos. Em muitos pacientes, a dor é acompanhada de inchaço da região comprometida. Há pessoas, no entanto, que não sentem dor, apenas apresentam inchaço. "Mas as pessoas não devem achar que todo problema ortopédico é um tumor", acalma Rodrigo.
Sustentação O tecido ósseo compõe o sistema músculo-esquelético e exerce várias funções no organismo. Os ossos armazenam minerais, como o cálcio, e é na medula óssea que são formadas as células do sangue. Também fazem a sustentação do corpo e a locomoção. Cabe a esse tecido a proteção de órgãos vitais, como o coração e o pulmão, protegidos pelo tórax, e o cérebro, que fica dentro do crânio.
Não só os tumores acometem os ossos. Entrea s doenças que podem atacar uma das partes mais resistentes do organismo estão a osteoporose, que se caracteriza pela perda de densidade óssea; e a artrite e artrose, que ocorrem devido ao desgaste das articulações Também bastante conhecidas são as doenças reumáticas, caracterizadas por processos inflamatórios que levam à destruição das articulações. Os ossos podem ainda ser atacados por bactérias e fungos, uma das principais causas de infecções.