O globo, n. 31039, 31/07/2019. País, p. 7

 

Escassez de verba para operações contrasta com viagens em excesso

31/07/2018

 

 

Ministro afastado passou 109 de 186 dias de gestão fora da capital federal

Enquanto os servidores que combatem o trabalho escravo penam para deflagrar operações, não faltaram recursos no Ministério do Trabalho para garantir viagens do ex-ministro Helton Yomura, investigado por corrupção e afastado do cargo por ordem do Supremo Tribunal Federal. Dos 186 dias deste ano em que esteve no comando da pasta, Yomura passou 109 dias fora de Brasília. As viagens custaram R$ 110 mil aos cofres públicos, segundo o portal da Transparência.

Somente em uma viagem para Genebra, o gasto foi de R$ 28.023,18. Yomura ficou quase 15 dias na Europa participando de eventos como “Almoço do Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil” e “jantar em honra dos ministros do G-20, proporcionando uma oportunidade de troca informal de pontos de vista relativos ao emprego”.

O destino mais recorrente do ex-ministro, no entanto, foi o Rio de Janeiro, onde mora. Em geral, as viagens para o estado ocorriam na quinta ou na sexta-feira, com volta na segunda ou na terça-feira. Sempre com alguma agenda no fim e no começo da semana.

Numa quinta-feira de março, Yomura foi para o Rio “proferir palestra na feira Super Rio Expofood”, segundo os registros oficiais. No sábado, participou de “inauguração da nova Gerência Regional do Trabalhador em Petrópolis”, voltando no domingo a Brasília. O tour custou R$ 7.607,52 .

Numa passagem por São Paulo, em junho, quando foram gastos R$ 2.878,93, Yomura tinha apenas uma agenda: “Sessão solene de outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do estado de São Paulo ao deputado Campos de Machado”.

A assessoria de Helton Yomura afirmou, em nota, que o ex-ministro “seguiu rigorosamente a legislação sobre viagens” e destacou que os deslocamentos “foram para cumprir agenda oficial e se justificam em razão da capilaridade do Ministério do Trabalho”. Muitas das viagens foram para “explicar e dirimir dúvidas” sobre a reforma trabalhista.

Em Genebra, Yomura participou da Conferência Anual da Organização Internacional do Trabalho, “cuja duração é de duas semanas, tendo participado de apenas uma semana”. A missão foi defender “a modernização trabalhista que poderia resultar em sanção para o Brasil caso comprovada violação às convenções internacionais ratificadas”.