O globo, n. 31039, 31/07/2018. Economia, p. 16
Rombo nas contas públicas atinge R$ 13,5 bi
Gabriela Valente
31/07/2018
Em relação a junho do ano passado, déficit tem queda de 31%. No acumulado em 12 meses, resultado está negativo em R$ 89 bi, bem abaixo da projeção do governo para o ano, de R$ 161 bi. Paralisação dos caminhoneiros prejudicou desempenho
Mesmo com crescimento da arrecadação e redução dos gastos, o Brasil teve um rombo de R$ 13,5 bilhões em junho. Mas, apesar de negativo, o resultado das contas públicas da União e dos estados, municípios e empresas estatais melhorou, de acordo com o Banco Central. Foi o melhor para meses de junho desde 2016. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o déficit caiu 31%.
No primeiro semestre, o desempenho está no vermelho em R$ 14,4 bilhões. O governo prevê um rombo, no ano, de, no máximo, R$ 161,3 bilhões. Para chegar a esse resultado, os dados teriam de piorar bastante até o fim do ano. Ao ser perguntado se essa era a expectativa, o chefeadjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Lemos, disse que qualquer projeção deve ser feita pelo Tesouro Nacional, não pelo Banco Central.
— É bastante evidente que está em linha com a meta de superávit —limitou-se a dizer.
No acumulado dos últimos 12 meses, o déficit está em R$ 89,3 bilhões. Isso representa 1,34% do Produto Interno Bruto (PIB). É o segundo mês consecutivo de recuo desse percentual.
ENDIVIDAMENTO CRESCE
A paralisação no setor de transportes também afetou as contas públicas. O BC gastou R$ 7,1 bilhões para conter a disparada do dólar em junho. Esse foi o custo com os contratos de swap cambial (operação que equivale à venda de dólar no futuro) oferecidos ao mercado.
Com isso, o país ficou com uma conta de R$ 44,5 bilhões de juros para pagar no mês passado, alta de 41% frente a junho de 2017. A tendência teria de ser de queda, porque a inflação sob controle e a taxa básica (Selic) está em seu mínimo histórico. No entanto, a greve dos caminhoneiros atrapalhou as previsões.
Como o Brasil não consegue economizar nem mesmo para pagar os juros da dívida, tem de se endividar mais para não dar calote. Por isso, no mês passado, a dívida bruta do governo geral chegou a R$ 5,2 trilhões. Passou de 77,1% do PIB para 77,2% do PIB, um novo recorde. O aumento seria ainda maior se o BNDES não tivesse pago R$ 30 bilhões ao Tesouro. Isso freou o crescimento do endividamento, que é a maior preocupação da equipe econômica.
Nos últimos 12 meses, a conta dos juros atingiu R$ 397 bilhões, ou 5,94% do PIB. Sem dinheiro, o governo emitiu mais dívida para honrar os compromissos.
77,2% do Produto Interno Bruto (PIB)
É o percentual da dívida bruta do governo registrada em junho, um novo patamar recorde
5,94% do PIB: é a conta dos juros em 12 meses
Governo teve de emitir dívida para honrar seus compromissos