O globo, n. 31035, 27/07/2018. País, p. 5

 

Fake news: especialistas cobram clareza

Jeferson Ribeiro

27/07/2018

 

 

Facebook é contestado sobre os critérios usados para retirar perfis e páginas do ar

Numa ação inédita no Brasil, o Facebook baniu anteontem 196 páginas e 87 contas por violarem regras de condutas da rede, o que ampliou o debate sobre propagação de notícias falsas na internet a dois meses da eleição. Segundo o Facebook, as páginas não foram apagadas propriamente por divulgar fake news, mas por ferir o código de autenticidade da plataforma, porque “escondiam das pessoas a natureza e origem de seu conteúdo” e tinham o propósito de “gerar divisão e espalhar desinformação”.

Para analistas ouvidos pelo GLOBO, a iniciativa é importante, mas precisa ser feita com o máximo de transparência. O coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fábio Malini, lembra que a situação é complexa pois o Facebook não divulgou exemplos concretos de como as páginas infringiram as regras. Houve casos de contas de pessoas reais que foram excluídas por administrarem robôs e ajudarem a divulgar desinformação.

— Falta entender um pouco a relação dos usuários reais derrubados com a rede e quais irregularidades cometeram para serem banidos. Precisa saber quais regras de banimento foram aplicadas a essas pessoas. Agora, não é uma novidade banir pessoas, e nem será no futuro. A empresa tem sua regras próprias. É controverso, também, porque a gente não sabe todos os métodos e o que implicou essa derrubada. Como a gente não sabe as motivações técnicas para a derrubada, gera controvérsia — diz Malini.

As páginas tinham vínculo com o Movimento Brasil Livre (MBL) e seriam usadas para disseminar conteúdos que incluíam notícias falsas. O Facebook, porém, disse que não levou em consideração o conteúdo compartilhado por essa rede para retirar as páginas perfis do ar.