O globo, n. 31039, 31/07/2018. Caderno Especial Vacinação, p. 1

 

Hora de se proteger das doenças graves

31/07/2018

 

 

A AMEAÇA VOLTOU. Não só as crianças, mas também os adultos e os idosos precisam se imunizar

Com a volta de doenças que estavam erradicadas, o GLOBO publica especial sobre vacinação, com um serviço para adultos e crianças se imunizarem e detalhes das moléstias mais graves que só podem ser evitadas dessa maneira. Amobilização da população permitiu, ano após ano, proteger diferentes gerações de brasileiros contra doenças graves que levavam à morte. O Brasil chegou a ganhar certificados internacionais de imunização pelo sucesso de suas campanhas de vacinação. Mas a procura pelos postos de saúde diminuiu, e a cobertura vacinal chegou a índices preocupantes. Tanto que trouxe de volta surtos de sarampo e risco de a poliomielite se alastrar novamente nas cidades.

Neste caderno especial, o GLOBO traz detalhes das vacinas — e as doses necessárias — para que crianças e adultos possam se proteger. Explica os sintomas e efeitos perversos das doenças contagiosas. Ensina os cuidados que devem ser tomados também em viagens para fora do país.

Os últimos registros mostram que o quadro, que já é preocupante, pode piorar. Das dez vacinas previstas para crianças de até 15 meses de vida, apenas uma alcançou a meta de cobertura em 2017: a BCG, que protege contra tuberculose. Mapeamento do Ministério da Saúde revela que, ano passado, 312 cidades do país tiveram dificuldades de avançar na proteção contra a pólio: a vacinação não atingiu sequer 50% do público-alvo.

O Brasil já registra 822 casos confirmados de sarampo, de acordo com o último boletim epidemiológico do ministério, divulgado na quarta-feira passada. O Rio de Janeiro também entrou no novo mapa da doença, com 14 pessoas infectadas.

Especialistas entrevistados pelo GLOBO alertam que a vacinação de crianças é fundamental para mudar essa realidade. Começa, inclusive, na próxima segunda-feira, uma campanha nacional de combate ao sarampo e à poliomielite, que se estende até o dia 31 de agosto.

A atenção, no entanto, não se limita aos menores. Adultos também precisam seguir um calendário de vacinação. A preocupação aumenta por vivermos em uma época de deslocamentos fáceis e rápidos, seja entre estados ou países diferentes. As doenças viajam conosco. O foco são aqueles que têm entre 18 e 50 anos.

— No caso do sarampo, por exemplo, estima-se que, entre os adultos, a cobertura seja de somente 5%. O cenário é de uma catástrofe em potencial — avalia Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), alerta que as gerações mais novas não conheceram o sarampo e não sabem o impacto dessa doença.

—E incluo aí os próprios médicos —afirma Sáfadi. — É uma doença altamente contagiosa.

A entrada de venezuelanos com sarampo no Brasil desencadeou o problema, mas médicos lembram que, se a população estivesse blindada, o impacto seria menor. Os índices de cobertura vacinal têm despencado para as diferentes doenças. No caso da poliomielite, por exemplo, passou de 98,2%, em 2015, para apenas 77%, em 2017.

Entre os motivos para a queda na procura aos postos de saúde está o o próprio sucesso de campanhas anteriores; o horário de funcionamento limitado das unidades, que funcionam apenas das 8h às 17h durante a semana, o que dificulta o acesso de adultos e responsáveis de crianças que trabalham nesse período; além do movimento antivacina.