O globo, n. 31034, 26/07/2018. País, p. 6

 

Debate sobre vice de Alckmin cria divergências no centrão

Cristiane Jungblut

26/07/2018

 

 

Partidos do bloco não querem que cargo seja ocupado pelo DEM

-BRASÍLIA- Com a sinalização do empresário Josué Gomes de que não aceitará ser o vice de Geraldo Alckmin (PSDB) na chapa à Presidência da República, os partidos do centrão (DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade) divergem na discussão sobre um novo nome para o posto. Parte do bloco não aceita que o indicado seja do DEM, por considerar que o partido já tem muito poder na aliança, inclusive com a provável manutenção da presidência da Câmara com o deputado federal Rodrigo Maia

— Só acho que o vice não pode ser do DEM, porque aí seria muita coisa. O único consenso do bloco era o Josué — disse o presidente do PRB, Marcos Pereira, que se reuniu com Alckmin na manhã de ontem.

— Se não for o Josué, não define o vice hoje (ontem) — disse o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), pouco antes de se encontrar com o précandidato tucano, à tarde.

Ontem, Alckmin passou o dia em reuniões com os dirigentes dos partidos a fim de resolver a questão do vice. O tucano comemorou as declarações de Josué a seu favor por considerar que o apoio público do empresário serve de anteparo às pretensões do PT de inviabilizar a aliança tucana com o PR em âmbito nacional. Mesmo com a resistência do empresário, Alckmin ainda tentava ontem cortejar Josué. “Agradeço ao jovem líder empresarial Josué Gomes pelas palavras de apoio em seu ótimo artigo publicado hoje”, escreveu no Twitter, em referência a texto publicado no jornal “Folha de S.Paulo”.

A indefinição, no entanto, fez com que os líderes passassem o dia discutindo o nome de um substituto. O indicado poderia sair do DEM, que escolheria o deputado Mendonça Filho (PE); do Solidariedade, que ofereceria o ex-ministro Aldo Rebelo, ou ainda do PP, que teria o deputado Ricardo Barros (PR).

 

JOSUÉ DIZ TER VETO DA MÃE

O debate, no entanto, parece estar longe de uma definição. Marcos Pereira e Ciro Nogueira disseram ao tucano que não havia consenso dentro do bloco sobre o plano B, com uma recusa de Josué. O possível interesse do DEM de ocupar a vice do tucano divide os caciques. Eles argumentam já terem fechado questão sobre apoiar a recondução do partido, por meio da candidatura de Rodrigo Maia, ao comando da Câmara. Dar também o cargo de vice ao DEM seria demais.

Josué disse aos integrantes do centrão que a sua mãe, Mariza, de 83 anos, não quer que ele dispute a eleição. A família é muito amiga do ex-presidente Lula, que teve o pai de Josué, José Alencar, como vice-presidente da República nos dois mandatos do petista.

— Ele não quer desobedecer a mamãe — disse Marcos Pereira.

Diante do impasse, o centrão deve oficializar hoje, em Brasília, a aliança em torno da pré-candidatura de Alckmin ainda sem a definição de um candidato a vice.

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Bolsonaro tenta aliança com o PROS

Eduardo Bresciani

26/07/2018

 

 

Partido foi acusado de ter recebido R$ 7 milhões para apoiar Dilma em 2014

 

-BRASÍLIA- Em busca de um vice e de alianças que aumentem o seu tempo de TV, o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, abriu negociações com o PROS, partido acusado de vender apoio político a Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), se reuniu com Eurípedes Júnior, presidente do PROS, para tentar atrair o partido. Eurípedes foi acusado na delação da Odebrecht de ter recebido R$ 7 milhões para o PROS, por meio de caixa dois, em troca do apoio a Dilma. O PROS nega e afirma que todas as doações “foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral”.

Sozinho pelo PSL, Bolsonaro tem 4 segundos em cada bloco de 12m30s de propaganda eleitoral. O PROS lhe acrescentaria mais 17 segundos por bloco.

Na semana passada, o PROS divulgou propostas para as negociações com os presidenciáveis. Colocou ainda à disposição o nome do ex-deputado Maurício Rands, que já foi de PT e PSB, para compor uma eventual chapa.

“Até o momento, o diálogo ocorreu com o pré-candidato Henrique Meirelles, do MDB; com o senador Alvaro Dias e a presidente do Podemos, Renata Abreu; com a presidente e o vice-presidente do PT, Gleisi Hoffmann e Márcio Macêdo, e com o coordenador do plano de governo da sigla, Fernando Haddad; com Laís Garcia e Pedro Ivo, porta-vozes nacionais da Rede de Marina Silva; com Carlos Lupi, presidente do PDT e com Geraldo Alckmin, précandidato do PSDB”, informou nota divulgada pelo PROS.

Questionado sobre as negociações com aliados de Bolsonaro, o PROS confirmou que foi procurado por Onyx.

“O deputado Onyx Lorenzoni esteve na sede do PROS para promover diálogo com o partido. Ouvimos e estamos avaliando as possibilidades”, afirmou Eurípedes ao GLOBO, por meio de sua assessoria.

Presidente do PSL de São Paulo, o deputado Major Olímpio confirmou que Onyx mantém conversas fora do PSL que podem levar à indicação de um nome para vice de Bolsonaro.

— O Onyx sabe o limite de onde pode chegar, onde é exequível. Ele é aquela pessoa que tem essa capacidade, esse trânsito nos partidos para fazer isso — afirmou Major Olímpio.

O GLOBO não conseguiu contato com Onyx.

Bolsonaro tentou um vice do PR, mas a negociação fracassou após a recusa do senador Magno Malta (ES) em ocupar o posto e pela divergência sobre alianças em São Paulo e no Rio. O presidenciável foi refutado pelo nanico PRP, o que inviabilizou a indicação do General Heleno. A negociação com Janaína Paschoal, filiada ao PSL, enfrenta entraves programáticos.