Título: Ameaça de silêncio
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2012, Política, p. 2

O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, envia sinais de que deverá permanecer em silêncio durante depoimento na CPI, marcado para a próxima terça-feira. Ontem à tarde, o advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende o bicheiro, deixou claro que seu cliente não vai se pronunciar se não tiver acesso irrestrito aos autos dentro de um período considerado razoável. Bastos, que foi ministro da Justiça do governo Lula, chegou de surpresa ao Senado. Reuniu-se com o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para pedir todo o material referente às operações Monte Carlo e Vegas e tentou o adiamento do interrogatório. O pedido ainda vai ser submetido aos integrantes da comissão.

“Pedimos acesso aos autos antes que ele venha aqui. Se isso não ocorrer, ele não tem condições de prestar depoimento. A imprensa tem mais informação do que eu. Por isso, se não tiver acesso aos autos, ele pode se refugiar no seu direito de ficar em silêncio para não se incriminar.” A ação do advogado é uma estratégia para tentar esperar o julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em relação ao habeas corpus impetrado em favor de Cachoeira. Desta maneira, haveria a possibilidade de o contraventor não ser ouvido na condição de réu preso, o que evitaria a possibilidade de ser visto algemado e com vestes prisionais.

A sessão do STJ deve ocorrer em 15 de maio, exatamente na mesma data em que foi marcado o depoimento na CPI. A Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ontem ao STJ parecer pela manutenção da prisão preventiva do bicheiro. O relatório também pede que Cachoeira retorne a um presídio de segurança máxima. Atualmente, ele está preso na ala federal da Papuda, em Brasília. O parecer será apreciado pelo ministro Gilson Dipp, relator do habeas corpus no STJ.

Durante entrevista bastante tumultuada, Thomaz Bastos garantiu que Cachoeira irá à comissão. “Ele vai obedecer a todas as prescrições da Justiça e da CPI. O material que tivemos acesso não é necessário para se fazer a defesa. O presidente da CPI garantiu que irá colocar o meu pedido para apreciação dos líderes e do parlamentar relator.”

O advogado afirmou que o contraventor está bastante tranquilo. “Ele vem em qualquer condição, desde que a gente tenha acesso a tudo.” Questionado se existe algum temor de que seu cliente preste depoimento algemado e com roupa de presidiário, Thomaz Bastos desconversou. “Não existe relação entre o meu pedido e o julgamento do habeas corpus.”

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) ironizou a solicitação de Thomaz Bastos. “Acho estranho. Ele (Cachoeira) sempre se mostrou disposto a falar tanto, com tantas bravatas, dizendo que estava a ponto de explodir, deveria querer falar amanhã e não adiar.” Para o parlamentar, a defesa fez o pedido de olho no julgamento do STJ. “O advogado deve ter alguma informação de que vai ser concedido o habeas corpus.”

Grampos A defesa de Cachoeira informou ainda que entrou ontem com um novo habeas corpus, no Tribunal Regional Federal (TRF), pedindo a nulidade de todas as interceptações telefônicas por terem sido obtidas, segundo o advogado, de maneira ilegal. Márcio Thomaz Bastos disse acreditar que Cachoeira será solto. “Não existe nenhum motivo legal para ele ficar preso.” Questionado por repórteres se o poder econômico do contraventor não poderia ser utilizado para obstruir as investigações, o advogado limitou-se a responder que “não”.

A CPI mista vai ouvir, na tarde de hoje, o delegado da Polícia Federal Alexandre Marques de Souza, responsável pelas investigações da Operação Vegas. Existe a possibilidade de a reunião ser fechada. Na quinta-feira, a comissão ouvirá o delegado da Polícia Federal responsável pela Operação Monte Carlo, Matheus Mella Rodrigues, e os procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira.

"Pedimos acesso aos autos antes que ele venha aqui. Se isso não ocorrer, ele não tem condições de prestar depoimento. A imprensa tem mais informação do que eu" Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira

15 de maio Data marcada para o depoimento de Carlinhos Cachoeira à CPI

MP defende prisão preventiva Marcado inicialmente para hoje, o julgamento do habeas corpus de Carlinhos Cachoeira acabou adiado para a semana que vem. O relator do caso, ministro Gilson Dipp, avisou que o pedido deverá ser apreciado pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) somente na próxima terça-feira. O motivo do adiamento é o fato de Dipp ter sido convocado para atuar hoje, excepcionalmente, em outra turma do STJ. Em parecer, o Ministério Público Federal recomenda a manutenção da prisão preventiva de Cachoeira para “neutralizar ou, ao menos, enfraquecer seu poder de articulação e penetração que sabidamente exerce na sociedade”. (Diego Abreu)