O globo, n. 31032, 24/07/2018. País, p. 5

 

Marina: ‘condomínio de Alckmin é o mesmo de Dilma’

Dimitrius Dantas

24/07/2018

 

 

Em evento no interior de SP, pré-candidata não descarta encontrar seu vice entre ‘pratas da casa’

-PIRACICABA (SP)- Ainda sem apoio de nenhum partido, a pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, decidiu atacar o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) e os partidos do centrão que decidiram apoiá-lo. Num tom acima de como usualmente responde sobre a dificuldade de alianças, Marina associou o tucano ao PT por causa de sua atual proximidade com siglas antes aliadas à campanha de Dilma Rousseff.

— O condomínio do Alckmin é o condomínio que era da Dilma em 2014. Fizeram (o centrão) um serviço com a Dilma e o Temer. E agora acharam um novo condomínio para chamar de seu — disse ela, durante sua passagem por Piracicaba, no interior de São Paulo, após encontro numa chácara com cerca de 20 filiados da Rede.

Nas últimas semanas, o grupo de Marina trabalhou para atrair algum partido que lhe garantisse mais do que os 12 segundos aos quais a Rede tem direito. No entanto, tanto o PV quanto o PPS não devem se aliar à pré-candidata.

Marina Silva, no entanto, deve contar com apoios isolados nesses partidos. Na convenção estadual do diretório paulista do PV, feita no último sábado, Eduardo Jorge, candidato a presidente em 2014, anunciou que irá apoiá-la. No PPS, o senador Cristovam Buarque (DF) é visto como um dos defensores da ex-senadora.

A pré-candidata admitiu os problemas na costura de alianças e atribuiu as dificuldades à exigência que a Rede faz com os partidos de que seja feito um acordo programático. A convenção nacional da sigla, que irá indicar Marina como a candidata à Presidência, acontecerá no próximo dia 4 de agosto.

A tendência é que o vice seja também da Rede, mas não deve ser anunciado no mesmo dia. Um dos cotados é o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Pessoas próximas a ele afirmam que o flamenguista está disposto a cumprir o papel “que Marina mandar”.

— Temos excelentes pratas da casa. Ou ouros da casa — brincou a ex-senadora.

Além da pequena estrutura em comparação com os adversários, Marina também terá menos dinheiro. Aos simpatizantes do partido, ela brincou ao pedir doações de roupas para sua campanha. A ambientalista costura suas próprias mantas e também faz alguns dos acessórios que usa. A Rede planeja destinar R$ 5 milhões do seu fundo eleitoral de R$ 10 milhões para a campanha à Presidência.

Na última semana, a presidenciável lançou sua campanha de financiamento coletivo. A plataforma foi feita com a consultoria da empresa Bando, que fez o mesmo trabalho na campanha de Marcelo Freixo em 2016 à Prefeitura do Rio.

Assim como ele, Marina adotou uma estratégia de metas ao pedir doações. No último domingo, a primeira meta — a de garantir recursos para as viagens pelo país — foi alcançada com R$ 100 mil em doações. Os próximos R$ 100 mil serão destinados para a produção de vídeos e materiais gráficos.

 

GATOS, GRILOS E PAÇOCA

Após o encontro com os colaboradores, Marina participou de outro evento em uma paróquia de Piracicaba. A região é um dos núcleos em que o partido espera eleger um deputado federal, Zé Gustavo, um dos aliados mais próximos da précandidata. A Rede é um dos partidos que correm perigo com a cláusula de barreira e precisa eleger ao menos nove deputados federais em nove estados diferentes.

Apesar dos problemas, Marina admitiu que conversa com outros pré-candidatos, mas destacou que o diálogo não inclui que nenhum deles abra mão de suas campanhas. Entre os citados, a ambientalista afirmou que já conversou com Ciro Gomes (PDT) e Álvaro Dias (Podemos). Segundo ela, as conversas não precisam ser feitas apenas após a eleição, sobretudo entre as lideranças que não foram “pegas no doping” da Operação Lava-Jato:

— Temos conversado. Oque não significa que alguém tenha que desistir de seus projetos.

Sempre que possível, Marina repete que deseja fazer uma campanha franciscana. Ontem, na passagem por Piracicaba, fez jus à promessa: o evento político foi na casa de um colaborador, uma chácara permeada com sons de grilos, uma mesa típica do interior com paçoca e biscoitos, além de gatos passeando entre as cadeiras, inclusive a que a candidata se sentou, enquanto falava com jornalistas.

Quando chegou ao evento, Marina recebeu um helicóptero feito apenas com material reciclável. Ao pegar o presente na mão, brincou que ele serviria para “subir nas pesquisas”, simulando uma decolagem com o brinquedo.

A ex-senadora ocupa a segunda colocação nos levantamentos feitos sem a presença do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva.