O globo, n. 31030, 22/07/2018. País, p. 10

 

PSOL lança Boulos com críticas veladas a Ciro

Alessandro Giannini

22/07/2018

 

 

Candidato ataca centrão, que chegou a negociar apoio a pedetista

Com um discurso em concorrência com o de Ciro Gomes (PDT), o líder nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, foi lançado candidato à Presidência da República pelo PSOL ontem, em São Paulo. No encontro, o partido escolheu como candidata a vice Sônia Guajajara, que se torna, assim, a primeira indígena a participar de uma disputa presidencial.

Em discurso na convenção que homologou sua candidatura, Boulos fez críticas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e ao pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. E defendeu a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba e inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

— Esta candidatura condena e não aceita a prisão política de Lula. Não é uma questão de candidatura do Lula ou do PT, é uma questão de democracia — disse Boulos. — Nós defendemos o direito do Lula ser candidato porque entendemos que foi vítima de condenação injusta e sofreu uma prisão política.

Assim como Ciro, Boulos disputa os votos de eleitores identificados com Lula e o PT. Além de defender Lula, Boulos alfinetou o concorrente do PDT ao criticar o blocão, o grupo de partidos de centro, que negociou com Ciro, mas se deslocou para Alckmin.

— Esse centrão (blocão) é a turma do Eduardo Cunha, é o partido da corrupção do Brasil, do toma lá, dá cá, balcão de negócios. Vão para a oposição porque não queremos nada com essa turma — afirmou.

Egresso do movimento por moradia, Boulos se filiou ao PSOL em março, para ser candidato. Aparece nas pesquisas de intenção de voto com 1%.

Militantes do movimento sem-teto lotaram o auditório onde ocorreu a convenção, em um hotel no centro de São Paulo. O discurso de Boulos tratou, em grande parte, da questão habitacional.

— (Me perguntam) Como quer ser presidente se anda do lado de sem-teto? Digo com muito orgulho que ando do lado de sem-teto, sem-terra, só não andamos ao lado dos semvergonha — disse. — Queiram eles ou não, vamos mudar a política habitacional.

Boulos afirmou ainda que, se eleito, vai revogar medidas tomadas pelo governo de Michel Temer, como a reforma trabalhista. Defendeu ainda a descriminalização do aborto e a desmilitarização das polícias. Criticou o fato de o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, ter convidado candidatos para conversar.

— Quem sabatina é o povo.

Na presença do deputado estadual Marcelo Freixo, e dos deputados federais Luiz Erundina, Ivan Valente e Chico Alencar, Boulos lembrou a morte da vereadora Marielle Franco, que era filiada ao partido.

— Enquanto não houver essa justiça, a democracia brasileira permanecerá manchada — disse.

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Sem PRB, Indio lança chapa puro-sangue

Igor Mello

22/07/2018

 

 

‘Antes só do que mal acompanhado’, diz candidato, sem citar racha com Crivella

Rompido com o PRB do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, Indio da Costa decidiu se lançar ao governo do estado com uma chapa puro-sangue do PSD, tendo como candidato a vice o deputado estadual Zaqueu Teixeira. A decisão foi oficializada na convenção do partido, realizada ontem no Club Municipal, na Tijuca.

Durante o encontro, tanto Indio quanto seus aliados repetiram diversas vezes a mesma máxima: “Antes só do que mal acompanhado”. Apesar da mudança de rumos no partido de Crivella, que está prestes a fechar o apoio ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP), Indio negou que haja um afastamento em relação ao PRB. Porém, mesmo questionado, negou-se a dizer se desejava o apoio do prefeito do Rio.

— Tem que perguntar para o PRB. Todos aqueles que não quiserem colocar os interesses político-partidários à frente do interesse do estado têm espaço com a gente. Cada partido vai decidir por si — disse.

Ao tratar do possível apoio do PRB a Garotinho, o candidato do PSD negou que haja um rompimento com o grupo político de Crivella.

— O Garotinho deu apoio para ele durante a campanha e não há nenhum rompimento — afirmou, preferindo desconversar sobre uma possível reaproximação. — Não teve distanciamento, portanto não tem reaproximação. O PRB está livre para escolher o caminho dele.

Segundo o deputado federal Hugo Leal, uma das principais lideranças do PSD no Rio, o partido encerrou as negociações com o PRB. Indio concorreu com Crivella na disputa pela prefeitura do Rio, em 2016, mas o apoiou no segundo turno e foi seu secretário de Urbanismo. Ele tinha a ambição de contar com a máquina da Igreja Universal na corrida pelo Palácio Guanabara. Leal diz que Crivella seria “um peso” na campanha.

— O Indio fez a opção de não fazer barganha. Eu sempre disse que o PRB não estaria com ele — disse, minimizando o apoio de Crivella. — Quanto menos peso tivermos que carregar na campanha, melhor.

ACENOS A ALCKMIN E MARINA

Também durante a convenção do PSD, Indio fez acenos ao PSDB de Geraldo Alckmin e à Rede Sustentabilidade de Marina Silva, partidos ainda sem rumo certo na eleição estadual. Ele destacou a presença do deputado federal Miro Teixeira (Rede), um dos aliados mais próximos de Marina, no encontro, mas disse que era “visita de cortesia”.

— Não tem nenhum acordo partidário. E é nessa linha, independentemente de aliança, que a gente vai caminhar. Com pessoas de bem — destacou, antes de cortejar o PSDB. — Vou votar no Alckmin independentemente do apoio. O partido dele é um dos que eu gostaria muito de ter ao meu lado. É um partido de gente séria, gente proba.

A Rede desistiu da candidatura de Miro Teixeira ao governo do estado, e ainda não definiu seu posicionamento no Rio. O PSDB também não bateu martelo sobre o que fará, mas conversa com o PPS, que mantém a pré-candidatura de Rubem César, diretorexecutivo da ONG Viva Rio.

PSC FORMALIZA CANDIDATURA

O PSC também homologou ontem a candidatura do ex-juiz federal Wilson Witzel ao governo do estado. Durante a convenção do partido, ele afirmou que suas prioridades serão a luta contra a corrupção e a violência.

— A minha experiência como juiz criminal me qualifica para liderar esse processo — disse.