Valor econômico, v. 19, n. 4501, 11/05/2018. Política, p. A8.

 

PDT diz que dará ao PSB prioridade para aliança

Fernanda Wenzel/ Cristiane Agostine/ Renato Rostás

11/05/2018

 

 

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem que busca uma aliança com o PSB e PCdoB, apesar de o empresário Benjamin Steinbruch (PP) ser cogitado para ser seu vice na chapa presidencial.

Ciro disse que tem se encontrado com a pré-candidata do PCdoB, Manuela d'Ávila, e que inclusive vem conversando "menos do que gostaria" com a deputada estadual e presidenciável, mas afirmou que respeita a candidatura própria do PCdoB. Nesta semana, o governador do Maranhão e uma das principais lideranças nacionais do PCdoB, Flávio Dino, defendeu a retirada da pré-candidatura de Manuela para uma união com Ciro.

O presidenciável do PDT, no entanto, pareceu mais confiante com uma aliança com o PSB, cujo principal nome, Joaquim Barbosa, desistiu de concorrer nesta semana. Segundo o pedetista, "o PSB sempre esteve e sempre estará na minha cogitação". Ciro disse que o partido "está em um esforço notável para voltar para sua melhor tradição de um partido socialista nacional comprometido com os interesses da classe trabalhadora".

O pré-candidato participou ontem de evento promovido pela Conferência Nacional dos Legisladores em Gramado (RS).

Ao falar sobre as especulações de que Benjamin Steinbruch, dono do grupo Vicunha Têxtil e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), seria seu vice na chapa, Ciro disse que o empresário é seu amigo há "mil anos", mas que não vai tomar nenhuma decisão antes de julho.

Steinbruch afirmou que ainda não recebeu o convite formal de Ciro para compor a chapa presidencial, mas demonstrou disposição. "Seria uma honra poder servir ao Brasil dessa forma, dar essa contribuição, mas não recebi formalmente nenhum compromisso", disse o executivo por meio da área de relações institucionais da CSN.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, no entanto, mostrou-se resistente a ter o PP como vice e disse que a prioridade do partido é o PSB. Na próxima semana, Lupi se reunirá com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, para discutir um possível acordo.

O dirigente ressaltou que tem mantido conversas com os governadores do PSB Ricardo Coutinho (Paraíba), Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal) e Paulo Câmara (PE); o senador Renato Casagrande (ES) e o prefeito de Recife, Geraldo Julio. Segundo Lupi, Ciro reuniu-se no mês passado com o governador de São Paulo, Márcio França, que resiste a um acordo do PSB com o PDT e pretende aliar-se a Geraldo Alckmin (PSDB).

O presidente do PDT disse que não tem negociado com o PP, apesar das especulações em torno de Steinbruch. "Não existe essa aproximação, não houve conversa com o PP. Soube disso pela imprensa", afirmou. "Nossa prioridade é o PSB", disse, depois de ter conversado ontem com Carlos Siqueira. "Ter um vice do PSB seria natural."

Segundo Lupi, a posição do PDT e de Steinbruch sobre temas sociais e econômicos, como a legislação trabalhista, é diferente e isso pode dificultar uma aliança.

O dirigente partidário também desconversou sobre uma aproximação com os partidos do chamado Centrão - DEM e PR, além do PP. "Se for uma iniciativa desses partidos nos apoiar, tudo bem. Mas não tenho conversado com eles. Hoje o que se vê [na imprensa] são declarações desses partidos para se valorizar, cacifar".

Lupi reforçou que o vice ideal para Ciro seria um empresário, desenvolvimentista, de São Paulo ou de Minas Gerais. Um dos cotados é o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB). Outro empresário com quem Ciro já conversou - e convidou para ser a vice - é Josué Gomes Alencar (PR), da Coteminas.

*Para o Valor

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Caciques do PP veem como 'natural' articulação com pedetista

Vandson Lima 

11/05/2018

 

 

A abertura de conversas do chamado Centrão - PP, PR e DEM - com o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, podendo se consolidar até em um apoio formal a ele na eleição, é vista como natural por alguns dos principais caciques do PP. Nem mesmo aqueles que, em tese, seriam contrários, veem com surpresa a articulação.

Na visão da sigla, caso se mantenha unido, o Centrão será decisivo e viabilizará o candidato que escolher apoiar. Assim, negociará o melhor lugar para estar.

Apesar de liderar a bancada governista de Michel Temer na Câmara dos Deputados, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) diz não ter objeções a um eventual acerto com Ciro. "Para a gente do Nordeste, não seria estranho [aliar com Ciro]. Hoje temos várias candidaturas de centro, pulverizadas em um percentual pequeno de intenção de voto. O movimento é para que esse grupo com PP, PR e DEM se mantenha ligado, decida um caminho conjunto. E para onde ele for, de fato ele viabiliza uma candidatura", afirmou ao Valor.

Ex-ministro da Saúde do governo Temer, Ricardo Barros (PP-RS) segue o mesmo raciocínio. "Vejo essa articulação com absoluta serenidade. Não me surpreende, não. As negociações são abertas, todos os candidatos são opções ao partido". A manutenção da união do centro, reforça, é a prioridade. "Se jogarmos em bloco, temos mais chances de sermos decisivos na eleição. É o que esse grupo quer ser, decisivo em prol do candidato que resolver apoiar".

Barros articula um grande palanque no Paraná, onde sua esposa, Cida Borghetti (PP), tornou-se governadora após Beto Richa (PSDB) deixar o cargo em abril. Ela concorrerá à reeleição. Tradicionalmente, lembra, o PP dos Estados do Sul tende a um alinhamento mais à direita do espectro ideológico e o Norte, à esquerda. Mas mesmo que haja um acordo em âmbito nacional, os acordos locais não devem sofrer restrição, garante. "A conveniência política no Sul e no Norte sempre será diferente. O partido sempre libera os Estados para decidir como lhes for melhor. Como o PP tem como prioridade a formação de base parlamentar, pode ter uma aliança nacional, mas permitindo os acertos regionais que contemplem a formação dessa base".

Apesar de defender a candidatura do empresário Flávio Rocha (PRB), o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) também se diz pouco preocupado com um eventual acerto nacional em outra direção. Ele conta que em reunião com a bancada gaúcha, o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que manteria um compromisso com a eventual candidatura presidencial de Rodrigo Maia [DEM], presidente da Câmara, até junho. Mas que, seguisse nessa direção ou em qualquer outras, os Estados seriam liberados para o acerto que lhes conviesse. "Não vou criticar a possibilidade de aliança com Ciro Gomes porque acredito que o presidente vai cumprir a promessa e liberar os acordos locais. Em 2014, o PP fechou com o PT e nós fomos em outra direção. Não muda nada", lembra. NO Rio Grande do Sul, diz o deputado, a base do PP simpatiza com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e outros nomes, como a senadora Ana Amélia, tendem a apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).

Sobre a possibilidade de o PP indicar o empresário Benjamin Steinbruch para a vice de Ciro, os cabeças do PP novamente colocam a lógica do pragmatismo em prol da vitória eleitoral. "Benjamin é um nome bom. Um quadro que conhece o país, com uma contribuição importante no setor produtivo e que conversa bem com o mercado. Vai dar uma ótima contribuição na candidatura presidencial que resolvermos apoiar", diz Ribeiro.

A discreta filiação de Steinbruch ao PP, em abril, tendo o cálculo eleitoral futuro em vista, tampouco passou despercebida dos integrantes do PP. "Em política, não existe segredo. Existe discrição", avalia Barros.

Esta é também a regra do presidente Ciro Nogueira, que estaria por trás das negociações com o PDT. Contatado pelo Valor por mensagem de texto, encaminhou apenas um emoji (imagem que transmite uma ideia) de um rosto com um zíper na boca e a mensagem: "Não posso falar, amigo. Desculpa".