Correio braziliense, n. 20185, 26/08/2018. Política, p. 4

 

Bolsonaro acusa MPT de obstruir economia

Renato Souza

26/08/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Candidato do PSL à Presidência afirma, no interior paulista, que atuação de procuradores do Trabalho impede o país de "ir para frente"

Em mais uma declaração controversa, o deputado Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, atacou a atuação do Ministério Público do Trabalho (MPT). Durante uma entrevista concedida ontem à TV Tem, em São José do Rio Preto (SP), o parlamentar disse que o órgão é um entrave para o crescimento do país. Também falou sobre a reforma da Previdência, e disse que, se for eleito, vai realizar mudanças graduais na aposentadoria, começando por servidores públicos.

Bolsonaro criticou o MPT usando como referência uma conversa que teve com o dono de uma propriedade rural da cidade vizinha de Catanduva (SP).  “Conversei com um piscicultor agora há pouco aqui sobre as dificuldades, imposto, energia cara e licença ambiental. Um país que tem um Ministério Público do Trabalho atrapalhando não tem como ir para frente”, completou.

Ao longo do dia, o candidato do PSL percorreu áreas rurais e conversou com produtores. Ele faz campanha no interior do estado há quatro dias e ontem se dedicou a visitar fazendas. Afirmou que é necessário desburocratizar o processo para conseguir licenças e na contratação de trabalhadores.  “O maior incentivo que a gente pode dar ao setor produtivo é tirar o Estado do cangote do produtor”, afirmou.

Em seguida, ele repetiu assuntos que já tinham sido abordados anteriormente. O candidato afirmou que, se eleito, vai incentivar o armamento da população, para que os cidadãos “reajam à criminalidade”. Disse também que vai criminalizar as invasões de terra, classificando-as como “terrorismo”.

Com relação a mudanças nas regras do INSS, ele disse que o aumento da idade mínima para homens e mulheres se aposentarem deve ser realizado gradualmente, a cada nova gestão de governo, e que os servidores públicos devem ser os primeiros atingidos pelas as alterações.

Elton Duarte Batalha, professor de direito do trabalho da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, criticou as afirmações de Bolsonaro quanto ao Ministério Público do Trabalho. “O MPT defende os interesses sociais e individuais dos trabalhadores. É evidente que a instituição é uma coisa e as pessoas que a compõem são outras. Se ocorrer algum abuso por parte de procuradores do trabalho, existem maneiras jurídicas para corrigir isso. Mas o trabalho do órgão é fiscalizar se os empregadores estão cumprindo as leis trabalhistas e intermediar uma solução, ou apresentar denúncia em caso de violações”, afirmou.

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Marina busca voto feminino

26/08/2018

 

 

Mirando os votos das mulheres, a candidata Marina Silva participou de um encontro com a militância feminina em Mauá, na região do ABC Paulista. Essa foi a primeira agenda de rua da candidata na campanha. Hoje, ela também participará de um encontro com mulheres no Capão Redondo, zona sul da capital paulista.

Para tentar atrair mais votos, a candidata da Rede informou que, se eleita, vai se cercar por pessoas honestas, e se comprometeu a fazer uma campanha limpa.  “Não fico preocupada em escolher meus rivais, me preocupo em escolher quem são meus aliados. E eu já fiz minha escolha: meus aliados são os homens, mulheres, jovens e empresários de bem. Tenho certeza de que escolhi sem a velha mania de querer substituir a população pelo centrão”, declarou a candidata.

O alvo das declarações foi o candidato Geraldo Alckmin (PSDB), que fez alianças com o centrão.

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A escolha errada

Luiz Carlos Azedo

26/08/2018

 

 

Um país de dimensões continentais como o Brasil não costuma andar para trás. Seu progresso tem uma inércia poderosa, que empurra o país para frente em situações difíceis, como aconteceu, por exemplo, no governo Sarney: em plena hiperinflação, todos os indicadores sociais avançaram. Por isso mesmo, previsões catastrofistas não costumam se confirmar. No governo Dutra, após a redemocratização de 1945, a esquerda dizia que o país havia entrado num processo de “atraso progressivo”, porém, a industrialização avançava. Àquela época, muita gente acreditava que não haveria industrialização com “latifúndio e dominação imperialista”; deu-se exatamente o contrário, a industrialização avançou com o capital estrangeiro; a monocultura de exportação possibilitou a modernização do campo. Entretanto, quase 70 anos depois, uma parte da esquerda ainda acredita nisso.

Nos momentos em que o país retrocedeu ou se estagnou, as escolhas políticas erradas foram deliberadas, para privilegiar determinados grupos de interesse. Foi o que aconteceu no longo reinado de Dom Pedro 2º, por exemplo. Em 1800, o Brasil contava com uma população de 4,4 milhões de habitantes, um pouco menos que os Estados Unidos, que tinham 5 milhões. O porte das duas economias era semelhante. Por causa da escravidão, com o tempo, a distância se tornou abissal. A renda per capita do norte-americano triplicou entre 1820 e 1900, passando de 1,3 mil para 4 mil dólares, cinco, sete vezes a do brasileiro. A população norte-americana, com o fim da escravidão, saltou de 35 milhões, em 1865, para 63 milhões em 1890, 4,5 vezes maior que a brasileira. A renda per capita cresceu 55%. A produção agrícola representava apenas 22% do valor da produção, enquanto a indústria atingia 41%.

Ou seja, enquanto os Estados Unidos faziam a sua revolução industrial, o Brasil fazia tudo para manter a escravidão. De 1820 a 1890, a nossa renda per capita subiu apenas de 670 para 704 dólares anuais.  Nesse período, a renda da Argentina subiu de 1,3 para 2,7 mil dólares; e a de Portugal chegou 1, 4 mil dólares. São escolhas políticas que determinam o futuro das nações. Basta olhar aqui para o lado, a Venezuela, a maior potência petrolífera do continente, mergulhada no autoritarismo político, no caos econômico, no paramilitarismo e na corrupção. O governo de Campos Sales, por exemplo, promoveu uma das maiores recessões da história, deliberadamente, porque o presidente da república e seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, eram contra a industrialização e se aliaram às velhas forças retrógradas do Império, que queriam manter seus privilégios.

A crise econômica em que o Brasil mergulhou durante o governo Dilma Rousseff foi um desses momentos em que o país andou para trás. Ao final de 2016, a economia havia encolhido quase 8% em dois anos. A última vez que algo parecido havia acontecido fora no biênio 1930-31, em meio à Grande Depressão, quando a geração de riquezas diminuiu pouco mais de 5%. Dilma assumiu o Planalto em 2011, herdando um crescimento econômico de 7,53% no ano anterior, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alardeando que o Brasil foi o último país a entrar e o primeiro a sair da crise internacional. O discurso triunfalista se baseava numa política  de expansão do crédito e de aumento do salário real que não tinha lastro no aumento da produtividade e na ampliação do deficit público, e nas demandas de commodities de alimentos e minérios geradas pela expansão da economia chinesa, além do chamado bônus demográfico, que reduziu o número de dependentes em relação à população economicamente ativa e com renda.

Nova matriz

Dilma aprofundou as políticas de Luiz Inácio Lula da Silva e adotou outras, que chamou de “nova matriz econômica”. O tripé formado por metas de inflação, superavit primário e câmbio flutuante, herança do governo de Fernando Henrique Cardoso, seguido à risca pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro mandato, foi substituído por intervenções mais acentuadas na taxa de juros e nos preços administrados; por reforços na proteção à indústria nacional, em especial a automotiva; e pela ampliação das desonerações tributárias e do crédito subsidiado a empresas. A maior recessão da história brasileira nasceu da obsessão de Dilma e do PT pelo crescimento a qualquer custo.

A população somente se deu conta do problema quando veio a onda de desemprego e o endividamento em massa. As medidas anticíclicas adotadas no fim do governo Lula, que tinham por objetivo combater a recessão, tornaram-se permanentes. Ainda que a economia tenha crescido quase 4% no primeiro ano do governo, Dilma continuou elevando gastos e abrindo mão de arrecadação. Com orçamento engessado por vinculações e indexações, várias delas criadas nas administrações petistas, um governo mão aberta dependeria de crescimento econômico alto e ininterrupto para conseguir pagar suas contas. Não foi o que aconteceu.

O controle de preços tirou dinheiro do Tesouro e de estatais. A crise da zona do euro e o fim do superciclo das commodities se somaram à desaceleração. Sem reformas para elevar a produtividade, esgotou-se o crescimento anabolizado por consumo e endividamento. O país mergulhou na recessão e no desemprego em massa, a inflação disparou, em meio a escândalos de corrupção, entre os quais o da Petrobras. O governo não conseguiu cumprir suas metas fiscais, recorreu a malabarismos contábeis e adiou sistematicamente pagamentos bilionários devidos a bancos públicos, prática que ficou conhecida como “pedalada fiscal” e serviu de pretexto ao impeachment. Dois anos depois, o ex-presidente Lula, seu eventual substituto, o ex-prefeito Fernando Haddad, e a própria Dilma, disputam as eleições como se nada disso tivesse ocorrido. Prometem repetir os mesmos erros.