O globo, n. 31029, 21/07/2018. País, p. 6

 

Acordo com centrão não é regra nos estados

Gustavo Schmitt

Silvia Amorim

21/07/2018

 

 

PSDB e partidos do bloco serão adversários pelo menos em Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Sergipe

O apoio do centrão ao presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) não conseguirá impedir que tucanos e partidos do bloco sejam adversários em, pelo menos, quatro estados nas eleições para governador. São consideradas improváveis as chances de composição entre PSDB e partidos como DEM e PP em Goiás, Mato Grosso, Sergipe e Rio Grande do Sul.

Uma liderança do DEM referiu-se ontem à disputa goiana como “a terceira guerra mundial” ao descartar qualquer possibilidade de um acordo para uma candidatura única do centrão e do PSDB no estado. O pré-candidato ao governo pelo DEM é o senador Ronaldo Caiado, que enfrentará o pré-candidato tucano, Zé Eliton, afilhado do ex-governador Marconi Perilo (PSDB). Caiado e Perilo são adversários políticos de longa data. Zé Eliton chegou a ser advogado do pré-candidato do DEM no passado, mas acabou se aliando ao tucano.

No Mato Grosso, o ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes, pré-candidato do DEM ao governo estadual, descartou qualquer chance de composição com o governador Pedro Taques (PSDB), que tenta a reeleição.

— Aliança nacional é uma coisa; estadual é outra. Cada um no seu quadrado — afirma Mendes, que enfrenta uma disputa acirrada com Taques.

‘ADVERSÁRIO OBSTINADO’

No Rio Grande do Sul, PP e DEM estão unidos contra o pré-candidato do PSDB, Eduardo Leite. O tucano disse ontem que tentou se aproximar do pré-candidato do PP, Luiz Carlos Heinze, no início da pré-campanha, mas sem sucesso. Atualmente, trabalha para atrair outros partidos do centrão:

— Heinze está obstinado pela candidatura dele — disse Leite.

Para piorar, a maior liderança do DEM no Rio Grande do Sul, Onix Lorenzoni, apoia a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto e de Heinze ao governo do estado.

No Nordeste, PSDB e DEM devem se enfrentar em Sergipe. Lá, interlocutores do deputado Mendonça Prado (DEM) dizem nem cogitar aliança com o senador Eduardo Amorim (PSDB).

— A chance é zero — diz um correligionário. Há também palanques regionais nos quais PSDB e partidos do centrão tentam uma pacificação com chances de sucesso. Minas Gerais é a prioridade neste caso. O próprio Alckmin estaria disposto a participar da costura de um acordo entre o senador Antonio Anastasia (PSDB) e o deputado Rodrigo Pacheco, do DEM. Como o tucano aparece como favorito na disputa, o esforço é convencer Pacheco a abrir mão da candidatura. O deputado do DEM permanece irredutível:

— Minha candidatura está mantida. Houve aliança nacional, mas com a liberação dos estados. Eu respeito e tenho grande apreço pelo Anastasia. E espero que ele (Anastasia) respeite a minha candidatura — disse Pacheco.

Diante da indefinição dos mineiros, uma liderança do DEM não descarta a possibilidade de dois palanques no segundo maior colégio eleitoral do país:

— Alckmin ficou de chamar Anastasia e Pacheco pra ver se consegue formatar um acordo. Caso não seja possível, teremos dois palanques.

Outro caso com perspectivas de acordo é em Santa Catarina. No estado, o PSDB tem como candidato a governador o senador Paulo Bauer e o PP tem o ex-senador Esperidião Amin:

— Temos conversado com os partidos, mas essa decisão não terá nenhuma relação com o processo nacional — afirmou Bauer.

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Temer e Valdemar influenciaram apoio a Alckmin

Cristiane Jungblut

21/07/2018

 

 

‘Destemperos’ de Ciro Gomes também contribuíram para decisão do centrão

A entrada do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que controla o PR, nas negociações, a atuação do próprio presidente Michel Temer e os destemperos do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, são apontados por dirigentes do centrão (DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade) como fatores decisivos para que os caciques do grupo optassem pela aliança com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

O acordo foi fechado na quinta-feira e já tem data para ser anunciado: no próximo dia 26. Temer disse a integrantes do centrão que Ciro não era confiável, e que os partidos que também integram seu governo não poderiam aceitar fazer campanha para quem o critica de forma voraz. O mesmo discurso foi usado por Valdemar nos encontros do centrão, dando fôlego aos aliados de Alckmin que sempre apontaram a instabilidade do pedetista como fator negativo para fechar uma aliança.

E, na quinta-feira, Temer se encontrou com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e ainda com o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Na conversa com Ciro Nogueira, o presidente reiterou as preocupações a respeito de Ciro, que o chamou de “quadrilheiro”. Temer lembrou que o pedetista chamou os partidos do seu governo de “picaretas” e destacou que não era possível ser do governo e apoiar um candidato com essa postura. Temer preferia que o grupo estivesse com o MDB, que tem Henrique Meirelles como pré-candidato, mas sabe que isso não seria possível. Os partidos evitam se atrelar a Temer, devido à sua impopularidade.

Nas reuniões do centrão, a postura do PR deu ânimo à ala do PP ligada a Temer e ainda aos democratas que estavam perdendo força dentro do DEM diante da campanha de Rodrigo Maia em favor de Ciro Gomes. Na reta final, o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) se sentiu confortável para defender publicamente a aliança com Alckmin, assim como o deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP), que foi secretário de Alckmin no governo paulista e ontem foi oficializado como vice de João Doria ao governo de São Paulo.

Acertados, os cinco partidos partiram para o encontro com Alckmin, na quinta-feira, com uma pauta de reivindicações e com um recado: querem ser tratados como iguais, reclamando que muitos tucanos tratam os integrantes das siglas do centrão como inferiores.

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PT lança eixos de programa de governo para o Planalto

Sérgio Roxo

21/07/2018

 

 

Texto divulgado ontem fala em reformas do sistema bancário e de Justiça

O PT aprovou ontem, durante reunião de sua executiva nacional, os eixos centrais do programa de governo do partido para a disputa presidencial. O texto fala em promover reformas dos sistemas bancário e de Justiça. Temas como responsabilidade fiscal e reforma da Previdência não são abordados. A legenda planeja registrar a candidatura de Lula no dia 15 de agosto, apesar de o ex-presidente estar preso há mais de três meses e preencher os requisitos para ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Os pontos centrais do programa foram apresentados pelo ex-prefeito Fernando Haddad, um dos cotados para substituir Lula na cabeça da chapa. De acordo com a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), ainda há “divergências internas” sobre alguns pontos.

Gleisi afirmou que o programa é um dos “mais avançados” já apresentados pelo partido desde 1989, mas negou que o documento signifique uma guinada à esquerda da legenda após os governos de Lula e Dilma Rousseff.

O texto divulgado é dividido em cinco temas: promover a soberania nacional e popular na refundação democrática do Brasil; iniciar uma nova era de afirmação de direitos; liderar novo pacto federativo para promoção de direitos sociais;promover novo modelo de desenvolvimento; e iniciar a transição ecológica para nova sociedade do século 21.

O item 1 fala em “revogação das medidas do governo golpista (legislação e privatizações)”. O programa prevê também nesse tópico a realização de uma constituinte.

O partido diz que pretende “reformar o sistema de Justiça para garantia de direitos” e implantar a renda básica de cidadania. O PT é crítico da Operação Lava-Jato e dos métodos adotados pela operação, principalmente do mecanismo das delações premiadas.

Segundo Gleisi, as mudanças no Judiciário fazem parte da “reforma do Estado”. A presidente do PT evitou atrelar a proposta às críticas à Operação Lava-Jato.

— Como você faz para o Estado brasileiro ser a favor da população? É um Estado que tem acabar com os privilégios, que tem que ser mais republicano.

O programa também prevê a “federalização do combate ao tráfico de drogas”. São abordadas ainda “a reforma tributária para o desenvolvimento, com justiça social e distribuição de renda e riqueza” e a “reforma bancária para aumentar o crédito barato às famílias e empresas”:

— A questão do sistema bancário tem muito a ver com barateamento de crédito, democratização e desconcentração — disse Gleisi.

O programa trata da regulação dos meios de comunicação, chamada no documento de “democratização”.

— A regulação dos meios de comunicação, na verdade aqui está democratização, é uma regulação econômica. É uma proposta super liberal. Todos os países desenvolvidos regulam os seus meios de comunicação. Não é novidade nenhuma. É uma regulação econômica — afirmou Gleisi.