O globo, n. 31028, 20/07/2018. País, p. 6

 

Geddel e Estevão, agora presos em segurança máxima

Mateus Coutinho

Daniel Gullino

20/07/2018

 

 

Decisão de juíza é contra regalias na Papuda; ex-ministro e ex-senador serão transferidos para celas individuais; Cápsulas de café, cafeteira, chocolate e macarrão importado já foram encontrados na cela do ex-senador no Complexo da Papuda

O ex-ministro Geddel Vieira Lima, o ex-senador Luiz Estevão e o ex-deputado Márcio Junqueira foram transferidos para a ala de segurança máxima da Penitenciária da Papuda, para pôr fim às regalias de que desfrutavam na cadeia. Ajuíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), determinou ontem a transferência do ex-ministro Geddel Vieira Lima, do ex-senador Luiz Estevão e do ex-deputado Márcio Junqueira para o Pavilhão de Segurança Máxima do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

De acordo com a magistrada, a medida foi tomada contra regalias, para “resguardar suas respectivas integridades físicas e também primar pela manutenção da segurança e da estabilidade carcerárias”.

A decisão cita a suspeita de que Luiz Estevão atua como “dono” da Papuda, levantada na Operação Bastilha, que investigou supostas regalias ao ex-senador e a Geddel. Segundo a juíza, a suspeita é exagerada, mas isso não quer dizer que Luiz Estevão não tenha benefícios na cadeia.

“Se por um lado não se pode afirmar que Luiz Estevão seja ‘o dono da cadeia’, porque não há prova do descontrole total do Estado ou vácuo de poder, por outro, há indícios de que ele vem exercendo liderança negativa no ambiente em que atualmente está recolhido, pois, através de alguma das hipóteses acima elencadas (ou eventualmente de qualquer outra sequer imaginada) ele já foi flagrado, pelo menos duas vezes, na posse de objetos proibidos, tudo estando a indicar que, se não for imediatamente realocado em outro local, além de dificultar a efetiva apuração dos fatos, pode vir a conseguir novamente outros privilégios”, escreveu.

Após a operação, o governo do Distrito Federal afastou, preventivamente, o diretor do Centro de Detenção Provisória (CDP), José Mundim Júnior, e o subsecretário do Sistema Penitenciário, Osmar Mendonça de Souza.

Estevão já se envolveu em outras polêmicas na prisão. Em 2016, ele foi denunciado pelo Ministério Público por ter financiado a reforma do local onde estava preso. O prédio abriga a chamada ala de vulneráveis, destinada a expoliciais, presos federais e outros detentos que correm riscos se colocados em meio à massa carcerária. Nas celas, havia itens considerados luxuosos para cadeias, tais como sanitário e pia de louça, chuveiro e cerâmica no chão, segundo a denúncia.

Os promotores afirmam que o caso lembrava “um marco histórico da criminalidade, quando Pablo Escobar construiu La Catedral, sua própria prisão na Colômbia”. Também foram denunciados gestores do sistema prisional que teriam agido em conluio com Estevão entre 2013 e 2014, quando as obras começaram.

No início de 2017, o ex-senador foi colocado em isolamento, por dez dias, por falta disciplinar. Foram encontrados cafeteira, cápsulas de café, chocolate e macarrão importado, entre outros itens proibidos no presídio, na sua cela e na cantina.

Em junho deste ano, Geddel também foi colocado no isolamento, após ter se desentendido com um agente penitenciário. Estevão foi condenado em 2006 por desvio de recursos públicos destinados à construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.

Geddel Vieira Lima é réu, no STF, por lavagem de dinheiro e associação criminosa, no caso dos R$ 51 milhoes encontrados em um apartamento em Salvador que seria utilizado pelo ex-ministro. Márcio Junqueira foi preso em abril, suspeito de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato.

Advogado de Luiz Estevão, Marcelo Bessa, disse que a transferência é “absurda” e as condições da cela, degradantes. Segunda a defesa de Geddel, a decisão é contraditória com resultado semelhante ao regime disciplinar diferenciado em desacordo com a lei. Para os advogados de Junqueira, a transferência busca fragilizá-lo em busca de delação.