Título: Grécia enfrenta a falta de governo
Autor: Garci, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2012, Economia, p. 11

A insatisfação da população grega, após dois anos de crise econômica, foi refletida diretamente nas eleições parlamentares do último domingo — o resultado do pleito mudou o rumo da política no país. O líder do Nova Democracia (ND), partido de direita com maior porcentagem de votos , Antonis Samaras, jogou a toalha e anunciou que não conseguirá for mar um governo de coalizão. A sua legenda (ND), em parceria com o socialista Pasok, de esquerda moderada, que gover nam em parceria desde 1974, não conseguiram alcançar mais de 50% do eleitorado. Com isso, ganhou três dias para negociar com as outras alianças. “Fizemos tudo que pudemos. Era impossível”, justificou Saramas.

Pasok e ND conseguiram, juntos, apenas 32% dos votos frente a 77% das eleições anteriores, em 2009. Após Samaras ter desistido das negociações, os líderes de todos os partidos poderão tentar um acordo, que pode levar dias, já que a Constituição não fixa prazos. “No momento, as expectativas são de uma nova eleição dentro das próximas semanas ou meses”, opinou o fundador do centro de pesquisas Greek Politics Specialist Group, Roman Gerodimos.

Cortes

As correntes extremistas, contra medidas de austeridade, ganharam espaço no cenário político grego e geraram ainda mais incertezas em relação ao acordo com o Fundo Monetário Internacional e com a União Europeia (UE). “A Grécia precisa implementar uma série de medidas de resgate e reformas na administração pública ao longo dos próximos meses para garantir a sua própria sustentabilidade econômica e seu lugar na zona do Euro”, explicou Gerodimos.

Com o sistema político é incapaz de produzir um governo de coalizão estável, o país pode enfrentar pressões de seus credores e dos mercados, o que só agravaria a crise”, completou o especialista. Sem um governo, o país terá dificuldades para negociar com o fundo e o bloco a ajuda de US$ 4,3 bilhões para este mês. Além disso, os financiadores pedem que o país corte mais US$ 15 bilhões de seu orçamento para 2013 para continuar com o auxílio, medida combatida pelas correntes extremistas.

Um país em colapso

Gregos irritados com os ter mos de resgates internacionais — que provocar am cortes de salár ios , deixar am a taxa de desemprego em um dos maiores níveis da Europa e provocaram uma série de suicídios — desistiram dos políticos, cr iando um cenár io de instabilidade no país. Com isso, a Grécia pode ficarsem dinheiro até o final de junho se não tiver um governo instaurado para negociar a próxima parcela de ajuda com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Inter nacional (FMI), disseram auto idades do Ministér io das Finanças. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde , tem sido intransigente nas exigênicas de ajuste, ainda que as medidas tenham provocado a queda de 11 líderes europeus, incluindo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, de quem foi ministra da Fazenda. A bolsa grega chegou a cair 6% ontem, indicador que , por pouco, não contaminou os demais índices da Zona do Eur o . Alain G audr y, analista de Deutsche Bank, disse que “ a preocupação sobre a Europa se concentra sobre a Grécia e não sobr e a chegada dos socialistas ao poder na França, que já havia sido antecipada pelos mercados”.

Os bancos que possuem em seus cofres títulos da dívida pública grega têm sido penalizados com avaliações de agências de ating, que medem o r isco , uma vez que esses papéis dificilmente serão honrados pelo valor de face caso a UE e o FMI cor tem qualquer tipo de ajuda. A ausência de interlocutor es e os sucessivos protestos dos gregos cr iam, assim, clima ainda mais confuso na região.

Volos cria a sua moeda

A cidade de Volos, na Grécia, está usando de criatividade para driblar a crise na Zona do Euro e assegurar a presença de turistas na região. Em vez de usar o euro, parte dos moradores estão usando o seu próprio dinheiro, o TEM. A moeda que só vale no comércio local visa estimular as compras de produtos e serviços mantendo ativa a sua economia.

A cidade Volos, que abriga o terceiro maior porto grego, tem enfrentado dificuldades para atrair turistas, mesmo tendo importante museu arqueológico e ser o local de onde Jasão e Argonautas teriam partido em busca do Velo de Ouro, uma das histórias da Odisseia de Homero. Nem o terremoto de 1955, que dizimou parte da cidade, foi suficiente para arrefecer o ânimo da população, que sempre lutou para manter sua história, identidade e economia.

Yianni Grigoriou, criador da moeda alternativa, disse ao jornal Greek Reporter que o sistema é simples: prestadores de serviços e comerciantes recebem o pagamento no dinheiro virtual e o usam também em suas compras no mercado local. A moeda — cujos créditos são organizados por um sistema de contas-correntes na internet — circula sem a interferência dos altos e baixos do euro no mercado financeiro europeu e alheia à inflação grega.

Grigoriou garante que as pessoas encontraram esperança no sistema que tem sido usado em diversas partes do mundo por comunidades carentes, inclusive no Brasil.

» De pacas a veredas

No Brasil, cerca de 65 comunidades usam as chamadas moedas sociais, algumas com nomes divertidos como pacas, veredas, potiguaras, tupis, castanhas, palmas e sampaios. Na cidade de Chapada Gaúcha (MG), a 340 quilômetros de Brasília, a vereda vale mais que o real. Já no Parque Potira, bairro com cerca de 20 mil habitantes da cidade de Caucaia (CE), a opção é a potiguara. O modelo criativo foi a forma encontrada por algumas comunidades para ampliar a circulação do dinheiro no local. No Rio de Janeiro, os comerciantes da carente Cidade de Deus, adotaram o CDD e a pessoa troca os reais por essa moeda local para usufruir de compras com desconto no bairro.