O globo, n. 31027, 19/07/2018. País, p. 3

 

Sozinho na trincheira

Bruno Góes

Jeferson Ribeiro

Karla Gamba

Jussara Soares

Marco Grillo

19/07/2018

 

 

Partido de general nega aliança e leva Bolsonaro ao isolamento na véspera de convenção

Após o fracasso da negociação com o PR, a campanha de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República sofreu ontem novo revés, com a negativa do Partido Republicano Progressista (PRP) para a indicação do nome do general da reserva Augusto Heleno ao posto de candidato à vice. Faltando quatro dias para a convenção que deve confirmar a candidatura de Bolsonaro, o PRP diz que, por ora, não pode fechar a aliança.

Na última semana, Heleno passou a ser tratado como a principal aposta de Bolsonaro, após o naufrágio da articulação para que o senador Magno Malta (PR-ES) integrasse a chapa. Da mesma forma que os acordos estaduais impediram o avanço das negociações com o partido de Valdemar Costa Neto, as pretensões do nanico PRP nos estados também comprometeram as ambições do ex-capitão do Exército. Coligada ao governador petista da Bahia, Rui Costa, por exemplo, a sigla não quer pôr em risco alianças que já foram costuradas.

Logo pela manhã, o PRP afirmou, por meio de sua assessoria, que a aliança estava “descartada” e que o general será candidato ao Senado pelo Distrito Federal. Heleno, contudo, negou a informação e disse que pretende sair do partido. À tarde, porém, Bolsonaro ainda nutria esperanças de contar com Heleno, apesar da negativa do militar da reserva e de seu partido. O pré-candidato afirmou que existe “uma frestinha” para um acordo, que poderia envolver alianças para os cargos proporcionais (deputado federal e estadual) em alguns estados.

— Ainda ficou uma frestinha e talvez esse acordo feche amanhã (hoje) — disse Bolsonaro, que lidera todas as pesquisas sem a presença do ex-presidente Lula.

Para tentar reabrir as negociações, o pré-candidato flexibilizou os termos da aliança e, agora, diz aceitar um acordo para a disputa proporcional, mas isso ainda vai depender dos presidentes das legendas em cada estado.

— Vai depender das perspectivas estaduais. Aqui no Rio, por exemplo, é meu filho (deputado Flávio Bolsonaro), que é presidente do partido, que vai decidir. Acho que não terá acordo aqui. A ideia é que em alguns lugares tenha aliança — explicou o pré-candidato.

Na nota publicada pela manhã, o PRP informou que “está conversando, com tempo e com calma, com os demais précandidatos para avaliar uma possível aliança e definir qual caminho será seguido, levando em consideração o alcance de uma das metas, que é a cláusula de barreira”. Mais tarde, procurado para comentar a nova ofensiva de Bolsonaro, o presidente do PRP, Ovasco Resende, disse que o assunto deve ser tratado com calma. Indicou que Bolsonaro quer pressa e que, sem uma profunda discussão interna, a resposta “é não”.

— Esse convite me pegou de surpresa. Temos que ter o nosso tempo. O Brasil é um continente, e é complicado dar uma resposta no tempo dele (Bolsonaro), assim, em cima da hora. E foi isso o que eu disse a ele. Se for para fechar agora, então a resposta é não — afirmou Resende.

O presidente do PRP afirmou que o diálogo foi retomado após contato do presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno. Também relatou que só soube pela imprensa a declaração do general Heleno de que se desfiliaria do PRP.

— Resolvemos o seguinte: vamos consultar os diretórios. Vamos ver se é possível fazer uma aliança só em nível nacional ou qual composição pode haver nos estados. Não posso agora fazer as coisas a meia-boca.

Em meio ao impasse, Augusto Heleno afirmou que não seria candidato a qualquer cargo nas eleições de outubro e que se desfiliaria do partido.

— Não tem por que ficar filiado, eu não vou ser candidato nem a deputado, nem a senador, nada disso. Então eu acho que é melhor eu voltar à minha situação de apartidário. Não adianta eu ter um compromisso com um partido pelo qual eu não tenho nenhuma ligação afetiva. É muito melhor eu ser apartidário como eu fui a vida inteira do que estar carimbado a um partido que não representa nada para mim — disse o general ao GLOBO, antes de afirmar que continuará apoiando a campanha de Bolsonaro: — Eu tenho um compromisso de ajudar na campanha (do Bolsonaro). Nós temos reunida uma equipe de gente competente para estudar, traçar algumas ideias e coordenar toda essa movimentação, não só em torno de programa de governo mas depois, se der certo, em termos de como governar.

No Rio, a notícia de uma possível negociação com o PSL provocou surpresa no pré-candidato do PRP ao governo do estado, Anthony Garotinho.

— No meu caso, seria complicado. Não tenho nada pessoal contra o Bolsonaro, mas nossas ideias são muito diferentes.

Com o naufrágio aparente de suas duas principais apostas para vice, o pré-candidato corre em busca de uma alternativa. Uma delas é a advogada Janaína Paschoal, filiada ao mesmo PSL de Bolsonaro. O nome dela vinha sendo cotado para a disputa do governo de São Paulo, embora pessoas ligadas ao partido no estado acreditem que a advogada prefira concorrer à vaga de deputada.

REJEIÇÃO E ESTRUTURA FRACA AFASTAM ALIADOS

A relutância dos partidos em formalizarem alianças com Bolsonaro pode ser explicada, em parte, pela falta de estrutura do PSL e também na rejeição do candidato, que é elevada — 32%, de acordo com a pesquisa Datafolha mais recente. — Acho que a candidatura do Bolsonaro é de alto risco para os partidos se engajarem. É uma candidatura sem estrutura, sem recursos, baseada na persona dele e nos mecanismos alternativos de conexão direta com os eleitores, via redes sociais. É um candidato com altíssima rejeição e o preferido para qualquer outro candidato ter como adversário no segundo turno. Os partidos que fazem esse cálculo não têm muito interesse em estarem próximos ao Bolsonaro, porque podem estar assinando a sentença de morte — avalia o cientista político Carlos Pereira, da FGV/Ebape. Já o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, destaca a “incerteza geral” no cenário eleitoral, o que faz com que os partidos adiem as decisões. E aponta que a estratégia de Bolsonaro, que neste momento privilegia o contato direto com eleitores, em detrimento das conversas partidárias, pode ser “arriscada”:

— A população brasileira, embora esteja desencantada com partidos, com a política tradicional, também não está mobilizada nas ruas em torno de um candidato, pelo menos não até agora. Não há mobilização tão forte nas ruas e nas redes a ponto de dispensar deputados e senadores que vão fazer campanha e são profissionais na hora de pedir voto. A mobilização fora da estrutura partidária vai ter um peso, mas também não será uma revolução a ponto de imaginar que a sociedade vai ignorar a propaganda eleitoral.

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Derrotas expõem fragilidades de Bolsonaro

Leandro Loyola

19/07/2018

 

 

As recusas de PR e PRP mostram que os políticos não confiam nele, nem quando é líder nas pesquisas

O deputado Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL, está isolado. Sofreu duas derrotas políticas “daquelas” em dois dias. O PR, partido do exmensaleiro Valdemar Costa Neto e integrante do blocão, e o pequenino PRP recusaram uma aliança na qual forneceriam o candidato a vice. A imagem que fica é que ninguém quer a companhia de Bolsonaro, mesmo sendo ele o líder nas pesquisas de intenção de voto neste momento. Derrota assim é coisa rara na política.

O PR forneceria 45 segundos de tempo na televisão, um ativo preciosíssimo para um candidato que tem apenas sete segundos na propaganda, que mal dão para dizer alguma coisa. É uma pancada prática. Mas o pior em termos de imagem foi mesmo a recusa do PRP: o partido não quis fornecer míseros quatro segundos — é bom repetir: qua-tro-se-gun-dos — a Bolsonaro. Na prática, o PRP diz que acredita ter mais chances de crescer, de eleger deputados, usando um tempo que mal dá para dizer “oi”, do que se pegar carona no líder nas pesquisas.

O recado é claro: os colegas políticos não confiam em Bolsonaro. Não querem se aliar a ele porque temem que seu jeito de ser ponha tudo a perder. Alianças eleitorais se fazem na base da confiança no potencial do candidato, mas também de olho nos riscos que ele carrega. Bolsonaro sempre foi um deputado um tanto isolado e, até agora, se mantém assim como candidato.

O jogo está no início, mas Bolsonaro já contabiliza essas duas derrotas que ficam maiores devido à expectativa criada por seu entorno. No início do ano, seus aliados políticos especularam que o PSL ganharia uma grande bancada com a chegada de Bolsonaro; no final, ficou com apenas oito deputados (incluído o ex-capitão). Em certo momento, o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), seu principal articulador político, disse que a candidatura de Bolsonaro teria o apoio de mais de 100 deputados. Até agora, essa gente toda não apareceu e o PR e o PRP, que teriam camarote vip na festa, preferiam ir a outra balada.

Nos próximos dias, Bolsonaro repetirá que está sozinho porque prefere ficar longe dos políticos corruptos, que só querem saber de vender seu tempo de televisão na campanha. É a saída que lhe resta e pode ser eficiente para seu eleitorado mais fiel. Mas não é a verdade. Ele cortejou os políticos que têm este perfil e com quem convive há anos no Congresso. O que aconteceu é que eles não quiseram sua companhia.

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Doação inusitada ao maior rival?

Francisco Leali

Daniel Gullino

19/07/2018

 

 

Nome de Bolsonaro aparece como colaborador da vaquinha virtual da campanha de Lula

Dias após um dos seus filhos curtir uma foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Instagram, o pré-candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, se viu ontem novamente vinculado ao petista: seu nome foi incluído entre os doadores da vaquinha virtual elaborada pela campanha de Lula.

O nome “Jair Messias Bolsonaro” apareceu na lista no final da tarde, ao lado do CPF do presidenciável, vinculado a uma doação de apenas R$ 1. Procurado pelo GLOBO, Bolsonaro negou ser responsável pela contribuição: — Nada doei para o Lula — disse. Ao fazer uma doação no site do petista, é preciso apresentar algumas informações pessoais, entre elas o CPF.

A campanha de Lula informou, em nota, que a doação “deve ter sido uma ação de sabotagem e má-fé”. O texto diz que as informações apresentadas pelos doadores são checadas, e que “casos como esses são eliminados”. A contribuição foi deletada na noite de ontem.

Até agora a vaquinha pró-Lula recebeu doações de 4.176 pessoas e arrecadou R$ 390.878. O petista é, de longe, o pré-candidato que mais arrecadou até aqui: o segundo colocado é João Amôedo (Novo). Os outros presidenciáveis não passaram de R$ 50 mil.

Na semana passada, um dos filhos de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), curtiu uma foto de Lula no Instagram. Na imagem, o petista está caminhando no mar no Piauí, sem camisa. Posteriormente, Eduardo Bolsonaro descurtiu a foto.