O globo, n. 31026, 18/07/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro deve anunciar general Heleno como vice

Jussara Soares

Bruno Góes

18/07/2018

 

 

Militar da reserva diz não ter sido informado, mas garante estar ‘preparado para cumprir a missão’

Um dia depois de o PR praticamente enterrar qualquer chance de uma aliança, o pré-candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, prometeu anunciar hoje um militar como vice de sua chapa. O presidente do PSL em São Paulo, o deputado federal Major Olímpio, disse que o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira (PRP) deverá ser o escolhido.

À noite, o general afirmou que não havia sido informado da intenção do presidenciável em convidá-lo, mas mostrou disposição.

— Estou preparado para cumprir a missão, caso ela aconteça, mas não estou pleiteando isso, nem almejando — disse o general ao GLOBO.

DEFENSOR DO GOLPE DE 1964

O militar é atualmente o responsável pelo programa de governo de Bolsonaro na área de Segurança Pública. A convenção do PSL está marcada para o próximo domingo, no Rio.

Em visita ao município paulista de Registro, ontem, Bolsonaro prometeu anunciar o nome de um militar para disputar ao lado dele a sucessão de Michel Temer. A informação foi confirmada pelo Major Olímpio, que o acompanhava na viagem ao interior.

— O Bolsonaro prometeu anunciar o vice amanhã (hoje) e disse que será um general. Deve mesmo ser confirmado o general Heleno — disse Olímpio, que também é um dos colaboradores mais próximo da campanha.

O general Heleno teve o auge de sua carreira militar ao tornarse o primeiro comandante da Missão de Estabilização do Haiti, em 2004. De volta ao Brasil, Heleno tornou-se comandante da Amazônia, e foi nesse posto que teve sua principal polêmica com o governo Lula, ao atacar, em 2008, a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol, que vinha sendo defendida pelo Planalto e acabou se confirmando. O general qualificou aquela política indigenista como “caótica”, ironizando o que chamou de “esquerda escocesa, que atrás de um copo de uísque resolve os problemas brasileiros”.

Apontado como uma das principais lideranças dentro da caserna no período pós-ditadura militar, Heleno foi para a reserva em 2011, defendendo em sua solenidade de despedida o golpe de 1964.

No Rio, o pré-candidato do PRP ao governo é Anthony Garotinho, que já foi preso três vezes desde 2016, sob a acusação de corrupção eleitoral.

Enquanto havia expectativa de uma aliança com o PR, o nome do senador Magno Malta foi cogitado como vice. O senador, no entanto, preferiu se recandidatar ao Senado, e as conversas com o PR foram encerradas.

Líder da legenda, Valdemar Costa Neto queria que a aliança se estendesse para a eleição proporcional no Rio e em São Paulo. A intenção de Costa Neto era que o PR aumentasse sua bancada no Congresso, elegendo um número maior de parlamentares. A cúpula do PSL reagiu.

— Isso está fora de cogitação. Em São Paulo, o (deputado federal) Eduardo Bolsonaro será um grande puxador de votos. Muitas pessoas votarão apenas na legenda por causa do (Jair) Bolsonaro. Não vamos abrir mão de eleger mais deputados do PSL com uma coligação com o PR — justificou Olímpio.

O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, disse ontem que não aceita as exigências do PR e indicou o fim das negociações sobre uma composição com Bolsonaro. Depois do recuo de Magno Malta e de desentendimentos em palanques regionais, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, Bebianno disse que “um verdadeiro comandante não abandona seu soldado” — uma referência a candidatos do PSL que seriam “sacrificados” em uma possível aliança.

— Estamos todos preparados, com nossos quadros e aliados do partido, para seguirmos a guerra. Muita consciência e muito respeito aos candidatos a deputado que poderiam ser sacrificados se fosse para atender a alianças. A principal preocupação do (Jair) Bolsonaro e do partido é o respeito aos seus quadros. Aqueles que ajudaram a construir o partido em todos os estados — disse Bebianno, que se reuniu ontem com a cúpula do PSL.

IMAGEM DE VALDEMAR

A decisão de não aceitar as exigências deixa o PR mais próximo de partidos do chamado blocão (DEM, PP, PRB e SD) ou do PT, que também tem assediado Valdemar. Mesmo rachado, lideranças do grupo tentam uma saída conjunta para a eleição deste ano. Caciques estão entre o apoio a Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB).

Nos últimos dias, o PSL discutiu os prós e contras da aliança com o PR. De um lado, a favor da composição, pesava o tempo de TV incorporado à campanha eleitoral. Hoje, o PSL, sozinho, teria cerca de dez segundos para fazer o seu programa. Com o PR, seriam agregados mais 45 segundos, uma diferença substancial. A aliança com o PR também poderia ser um bônus em caso de vitória no pleito, já que Bolsonaro, com auxílio do partido aliado, teria mais condições de formar maioria no Congresso.

Por outro lado, com a desistência de Magno Malta, alinhado ideologicamente a Bolsonaro, há a ponderação de que a figura de Valdemar Costa Neto poderia se sobressair durante a campanha. Condenado e preso após escândalo do mensalão, a atuação do chefe do PR certamente seria explorada por adversários de Bolsonaro.

“Estou preparado para cumprir a missão, caso aconteça, mas não estou pleiteando isso, nem almejando”

Heleno Ribeiro

Pereira General da reserva