Título: Transição em oito dias
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2012, Mundo, p. 16
Ele ainda não ocupou oficialmente o Palácio do Eliseu, mas já começou uma corrida contra o tempo. François Hollande, eleito presidente da França no domingo, começou a trabalhar ontem mesmo e terá mais sete dias para formar seu gabinete, pensar em um plano de emergência contra a crise econômico-financeira e preparar-se para importantes reuniões internacionais. Com os holofotes sobre a composição do gabinete, o primeiro socialista a comandar o país em 17 anos ainda enfrentará uma dura batalha pela eleição de uma maioria de esquerda na Assembleia Nacional, no mês que vem. Hollande tomará posse na próxima terça-feira e promete anunciar no mesmo dia os nomes do primeiro-ministro e dos titulares das principais pastas.
Fechado com auxiliares e correligionários em seu escritório político, em Paris, Hollande passou a segunda-feira conversando sobre a composição do gabinete, que terá implicações na estratégia do Partido Socialista (PS) para as legislativas — disputadas em dois turnos, em 10 e 17 de junho. O presidente eleito precisa contemplar personalidades que o ajudem a obter maioria na Câmara baixa. A expectativa é de que o PS defina alianças com a Frente de Esquerda, para tomar cadeiras da União por um Movimento Popular (UMP, direita), do atual presidente, Nicolas Sarkozy. “Vocês conhecerão o nome do primeiro-ministro no dia 15”, prometeu Hollande ao sair da maratona de reuniões, de que participaram alguns dos pesos -pesados do partido (leia o quadro). Segundo o jornal conservador Le Figaro, o restante do gabinete será conhecido já nas horas seguintes à posse.
Desde a confirmação da vitória de Hollande, no domingo à noite, líderes de esquerda sinalizaram apoio ao PS na missão. Pierre Laurent, secretário nacional do Partido Comunista, força principal da Frente de Esquerda, prometeu trabalhar para “prolongar a vitória”, acrescentando que o novo presidente “deve suscitar uma mudança política real”. Hollande também contará com a força política dos ecologistas, que mantêm uma aliança com o PS desde o fim do ano passado. “Precisamos da mobilização geral de todos para dar uma energia nova à mudança”, convocou a secretária nacional dos Verdes, Cécile Duflot, cotada para integrar o gabinete em caso de uma coalizão. Pesquisas sobre a eleição legislativa mostram o PS e a UMP tecnicamente empatados, cada um com aproximadamente 30% das intenções de voto.
O próprio Hollande reconheceu que os próximos dias não serão fáceis. “Hoje, é preciso trabalhar, ainda que não tenha ocorrido a transferência de poder”, afirmou, ao iniciar as reuniões. “Eu disse que estava preparado (para ser presidente). Agora, preciso estar mesmo.” Pierre Moscovici, que dirigiu a campanha, também mencionou que esta será “uma semana muito carregada”, com “formação de equipe e preparação de viagens internacionais”.
Agenda externa
Entre os encontros com líderes globais estará a aguardada reunião com a chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, com quem Hollande debaterá a flexibilização do pacto fiscal europeu (leia mais na página 10). Outra prova de fogo virá em 20 e 21 de maio, em Chicago, na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Uma das propostas de campanha de Hollande é a retirada antecipada das tropas francesas do Afeganistão, até o fim deste ano — e não a partir do ano que vem, como previa Nicolas Sarkozy.
Um porta-voz da Isaf, a força da Otan no Afeganistão, disse que a missão não seria afetada com a saída antecipada dos franceses. “Temos planos de contingência. Nosso comando está sempre preparado para qualquer tipo de situação”, afirmou o tenente-coronel Jimmie Cummings. O próprio presidente afegão, Hamid Karzai já disse, em várias oportunidades, que as forças locais são capazes de garantir a segurança.
Eu disse que estava preparado. Agora, preciso estar mesmo” François Hollande, presidente eleito da França