O globo, n. 31025, 17/07/2018. País, p. 5

 

PF investiga novos repasses ilícitos da Engevix a Dirceu

Cleide Carvalho

17/07/2018

 

 

Inquérito apura existência de outra conta abastecida por lobista; Empresário disse ter feito pagamentos de R$ 900 mil à empresa que prestava serviços para firma de ex-ministro

-SÃO PAULO- A Polícia Federal (PF) abriu um terceiro inquérito para investigar supostos pagamentos indevidos feitos pela construtora Engevix ao ex-ministro José Dirceu. Além dos repasses, a investigação deve apurar a existência de uma nova conta-corrente que seria usada por Dirceu para receber os aportes feitos pelo lobista Milton Pascowitch em função de desvios na Petrobras. A informação foi prestada pela PF em ofício enviado ao juiz Sergio Moro.

A investigação foi pedida em dezembro passado. O empresário Gerson Almada, da Engevix, disse ter feito pagamentos de R$ 900 mil à Entrelinha Comunicação, que prestava serviços à JD Consultoria, de Dirceu, entre 15 de abril de 2011 a 16 de julho de 2012.

Uma segunda parte da denúncia do Ministério Público Federal (MPF), já aceita por Moro, incluiu pagamentos de R$ 1,5 milhão feitos pela UTC Engenharia à JD Consultoria, entre 2013 e 2014, sem que houvesse efetiva prestação de serviços.

A denúncia foi aceita por Moro, e o andamento do processo foi suspenso por um ano, contado desde fevereiro passado. Embora tenha recebido a denúncia contra Dirceu, o juiz afirmou que não via interesse na abertura de novas ações penais contra réus já condenadas.

Dirceu já foi condenado duas vezes na Lava-Jato. Numa das ações, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) aumentou a pena estabelecida por Moro, de 20 anos e 10 meses, para 30 anos e nove meses de prisão. Na segunda condenação, ainda não revista pelo TRF-4, a pena foi de de 11 anos e oito meses de prisão.

Dirceu havia começado a cumprir a pena em maio passado, na penitenciária da Papuda, em Brasília. A defesa, no entanto, recorreu da punição imposta pelo TRF-4. Em junho, por três votos a um, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu soltar Dirceu. Os ministros entenderam que a pena pode ser reduzida nas instâncias superiores: o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o próprio STF.

— É mais do mesmo, não vejo sentido nessa altura estar abrindo inquérito para apurar fatos já investigados — afirmou o advogado Roberto Podval, lembrando que Dirceu já foi condenado por valores pagos pela Engevix.

 

IMÓVEL DE DIRCEU É ARREMATADO

Um sobrado do ex-ministro José Dirceu foi arrematado por R$ 465 mil em leilão virtual ontem. O valor é equivalente a quase a metade do preço do imóvel, que tem cerca de 200 metros quadrados e fica na Saúde, bairro da zona sul da capital paulista. O empreendimento inicialmente foi avaliado em R$ 750 mil. O nome do comprador não foi divulgado.

Os bens de Dirceu foram a leilão por ordem do juiz Sergio Moro. O confisco dos imóveis do ex-ministro faz parte da sanções impostas pelo magistrado no âmbito da Lava-Jato.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Para

 

PGR, Lindbergh atuou a favor da OAS

Aguirre Talento

17/07/2018

 

 

Raquel Dodge vê ‘indícios’ de ação em troca de R$ 700 mil em caixa dois

 

AGUIRRE TALENTO

-BRASÍLIA- Em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 1º de junho, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirma ter encontrado indícios de que o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) atuou a favor da empreiteira OAS na discussão de uma medida provisória (MP) aprovada no Congresso Nacional durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo as investigações, a suspeita é de que o petista tenha recebido, via caixa dois, cerca de R$ 700 mil, entre 2013 e 2014, para defender os interesses da empresa no Parlamento e para influenciar decisões de Dilma na Presidência.

O caso envolve a MP 600/ 2012, que simplificou as licitações de obras em aeroportos, uma das principais áreas de interesse da OAS, que integra o consórcio administrador do aeroporto de Guarulhos (SP).

“Há indícios de que o investigado, enquanto ocupante do cargo de senador da República da base governista, teria influenciado a então presidente da República na propositura dos vetos parciais, com vistas a favorecer os interesses do grupo OAS”, escreveu Dodge.

Lindbergh, que deve disputar a reeleição, apresentou uma emenda para modificar a MP, mas ela foi rejeitada. Por isso, os investigadores acreditam que ele tenha atuado para influenciar Dilma na sanção da MP, em 20 de junho de 2013.

A Polícia Federal detectou mensagens no celular do expresidente da OAS Léo Pinheiro que mostram o agendamento de encontros para tratar do assunto com o senador petista, que presidia, na época, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Em 26 de maio de 2013, às 17h33m, Léo Pinheiro enviou uma mensagem para Lindbergh: “Prezado senador, na segunda vai lhe procurar o nosso diretor em Brasília, Roberto Zardi, para falar do tema que conversamos ontem: MP 600”. No mesmo dia, às 17h40m, Lindbergh responde: “Grande Léo. Chego terça pela manhã. Eu estarei esperando. Abs”.

No dia 1º de junho, Raquel Dodge pediu ao STF que o inquérito contra Lindbergh seja mantido na Corte, porque envolve suspeitas de práticas de crimes no exercício do mandato — com as mudanças de entendimento sobre foro privilegiado, a Polícia Federal havia solicitado o envio da investigação para a primeira instância.

 

LINDBERGH NÃO COMENTA

Os investigadores colheram indícios de que a OAS repassou ao menos R$ 700 mil a Lindbergh via pagamentos de serviços de publicidade em caixa dois. O petista disputou o governo do Rio de Janeiro em 2014, mas perdeu para Luiz Fernando Pezão (MDB). A PGR solicitou mais 60 dias para a conclusão das investigações, mas o prazo ainda pode ser novamente prorrogado. Procurado para comentar as acusações, o senador não se manifestou.