Título: Pressão para sair do PSDB
Autor: Correia, Karla; Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 03/05/2012, Política, p. 5

Líderes tucanos cobram a desfiliação do deputado Carlos Alberto Leréia do partido

Já às voltas com as suspeitas de envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, os tucanos pressionam o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) a deixar o partido por conta das novas evidências das ligações entre o parlamentar e o contraventor, preso na Operação Monte Carlo da Polícia Federal.

Em gravações que constam do inquérito da PF, Leréia aparece recebendo a senha do cartão de crédito de Cachoeira, supostamente para fazer pagamentos de despesas pessoais. O deputado, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ainda teria facilitado a emissão de vistos para a sogra do bicheiro, Meire Alves Mendonça, no ano passado.

“A situação dele dentro do partido se tornou insustentável”, diz um parlamentar do alto clero tucano. Ontem, Leréia se reuniu com o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PE), e o líder da bancada tucana na Câmara, Bruno Araújo (PE), para se explicar sobre as novas evidências da proximidade com Cachoeira, divulgadas pela imprensa no último fim de semana. Segundo Guerra, o deputado goiano teria levado documento da Procuradoria-Geral da União que, de acordo com ele, reforçaria que Leréia não teria praticado nenhuma contravenção nos episódios.

Uma nova reunião com colegas de legenda deve ocorrer na próxima terça-feira pela manhã, quando o deputado irá apresentar aos vice-líderes do PSDB mais explicações sobre os diálogos com Cachoeira. “Ele terá, até lá, tempo para organizar a defesa dele, reunir provas e se explicar para o partido”, disse o presidente do PSDB. “Não se pode tomar qualquer decisão sobre qualquer assunto desse padrão sem ter antes exauridas as razões do deputado Leréia”, afirmou Guerra.

Nível de amizade

Nos bastidores, contudo, a relação entre o deputado goiano e Carlinhos Cachoeira é vista como motivo de constrangimento para a legenda. Para colegas de bancada na Câmara, o nível da amizade entre os dois causou danos irreversíveis à imagem de Leréia. “Dificilmente o partido irá encarar o desgaste de assumir a defesa do deputado em um embate na CPI”, observa um parlamentar, que vê motivos para a diferença de tratamento entre a situação de Leréia e os problemas em torno de Marconi Perillo. Pela lógica tucana, o governador tem conseguido se explicar dos indícios de relações com o bicheiro e marcou pontos ao tomar a iniciativa de se disponibilizar para ser ouvido na CPI do Cachoeira.

O deputado Bruno Araújo contemporiza. “Por mais que cada um possa ter uma opinião, a prudência manda que os colegas o ouçam na terça-feira e, a partir daí, formemos um juízo de valor para dimensionar essa questão”, diz o líder. A estratégia de Leréia é tentar demonstrar que os diálogos captados pela Polícia Federal mostram apenas uma relação de amizade com Cachoeira, e não evidenciam ligação com episódios de contravenção.

"Ele terá, até lá, tempo para organizar a defesa dele, reunir provas e se explicar para o partido" Sérgio Guerra, presidente do PSDB