O globo, n. 31025, 17/07/2018. Economia, p. 16

 

Exemplo irlandês

Míriam Leitão

17/07/2018

 

 

 

A Irlanda terá pelo quinto ano seguido o maior crescimento entre as principais economias da zona do euro. Atingido pela crise de 2008, o país foi o primeiro da região a fazer o ajuste fiscal. Cortou 20% do salário do funcionalismo, subiu imposto, reduziu servidores e dobrou de 6% para 12% a contribuição para a Previdência, explica o embaixador da Irlanda no Brasil, Brian Glynn. O desemprego foi a 15% e cairá a 5% este ano.

Glynn chegou ao Brasil há quatro anos e voltará para a Irlanda no início do mês que vem. Acompanhou de perto o aprofundamento da crise brasileira e aponta as principais diferenças entre os dois países. Por lá, havia a percepção entre os políticos de que o ajuste precisava ser rápido para ser eficaz, e o Judiciário não derrubou parte das medidas, como vem acontecendo no Brasil.

— Em 2011, o presidente foi eleito com apoio de dois terços do Parlamento. Havia coesão social, um entendimento de que o ajuste tinha que ser rápido. Outra diferença que vejo em relação ao Brasil é que lá o Judiciário não interfere tanto nas decisões do Legislativo. Nossa Constituição dá mais poderes ao Legislativo para governar — explicou.

Poucos anos depois, os números são impressionantes. O PIB irlandês cresceu 7,8% em 2017, segundo o FMI, e crescerá 5,6% pela estimativa da Comissão Europeia em 2018. Há cinco anos, o país tem as maiores taxas da zona do euro, com exceção da pequena ilha de Malta. Glynn diz que desde a década de 1990 o país entendeu a importância do equilíbrio fiscal.

— Quando veio a crise financeira de 2008, a gente já tinha as contas públicas em ordem. O déficit e a dívida eram baixos. Isso fez com que o governo pudesse absorver o choque. O país já passou por muita turbulência e acho que a partir dos anos 1990 essa cultura do equilíbrio fiscal ficou mais consolidada — diz.

Apesar da crise, o balanço do embaixador é de que o Brasil deu sinais de solidez e maturidade: “Ninguém questionou o sistema democrático”, afirma. Ainda assim, seria bom seguir o exemplo irlandês e avançar rapidamente com o ajuste fiscal. Exatamente o contrário do que tem feito o Congresso brasileiro.

Papai mais magro

O Dia dos Pais, em agosto, será a primeira grande data comemorativa para o varejo após a greve nos transportes. A Confederação Nacional do Comércio estima que as vendas crescerão no máximo 3%, menos que os 3,6% em 2017. Fabio Bentes, economista-chefe da CNC, conta que os estoques foram regularizados após a greve, mas o que atrapalha a recuperação é a falta de confiança. A incerteza eleitoral e a frustração com os dados recentes deixaram consumidores e lojistas retraídos. O crescimento modesto será turbinado pelo saque nas cotas do PIS/Pasep, que deve injetar R$ 10 bilhões no varejo, prevê a CNC. Mesmo que a alta se confirme, será pouco para recuperar o nível de antes da crise. Em 2016, as vendas no período caíram 9,4%, após o recuo de 2,1% um ano antes.