O globo, n. 31022, 14/07/2018. País, p. 4

 

Marun ameaça aliados do governo que apoiarem Ciro

Karla Gamba

Bruno Góes

Patrik Camporez

14/07/2018

 

 

Partidos da base, que pretendem aderir unidos a uma candidatura ao Planalto, reagiram com desdém

Carlos Marun Arthur Lira (PP-AL) “Espero que os partidos que apoiarem o Ciro deixem o governo. As lideranças estão equivocadas quando aceitam a hipótese” _ “Trabalhei para colocá-lo onde está, acreditando ser ele um trator no automático e não um trem com falas desgovernadas” Ministro da Secretaria de Governo Deputado federal

Durante um café da manhã com jornalistas, na manhã de ontem, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB), defendeu que os partidos aliados do governo que quiserem apoiar Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, devem deixar seus cargos. A ameaça, porém, surtiu pouco efeitos entre os presidentes das legendas da base que formam um bloco interessado em aderir conjuntamente a uma candidatura ao Palácio do Planalto — DEM, PP, PRB e Solidariedade. No grupo há uma divisão entre Ciro e Geraldo Alckmin (PSDB).

O ministro criticou o candidato pedetista e classificou como “hipócrita” a tentativa de Ciro de buscar aliança com partidos governistas.

— Eu, sinceramente, espero que os partidos que apoiarem o Ciro Gomes deixem o governo. Também penso que as lideranças dos partidos que estão no governo estão equivocadas quando aceitam a hipótese de apoiar Ciro Gomes — afirmou o ministro, que completou: — É uma completa hipocrisia do candidato Ciro ao buscar o apoio de partidos que estão no governo para a sua candidatura, naquela ideia de ganhar de qualquer jeito para depois ver o que vai fazer. Se ele busca partidos que não têm nada a ver com as suas propostas, isso é a volta daquela política oportunista, daquela política pragmática, negocial, que ele diz que não defende. Então, eu acho que o simples fato de o candidato estar procurando os partidos que estão no governo é uma demonstração da sua completa inaptidão para o exercício da função.

Perguntado se o governo poderia demitir quadros dos partidos aliados que apoiassem Ciro, o ministro foi evasivo:

— Não sei. Cada dia, uma agonia — declarou Marun.

No PP, a cúpula do partido defende a aproximação com Ciro, mas a maioria da bancada quer se aliar a Geraldo Alckmin. Diante das declarações de Marun, o líder do partido na Cãmara, Arthur Lira (AL) reclamou do ministro, lamentando tê-lo ajudado a chegar ao cargo.

— Trabalhei para ajudar a colocá-lo onde está, acreditando ser ele um trator no automático e não um trem com falas desgovernadas — afirmou Lira.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), preferiu nem comentar o assunto. Maia limitou-se apenas a dizer que dedicar atenção ao recado de Marun não “era uma prioridade” dele no momento.

TENTATIVA DE UNIDADE

Presidente do PRB, Marcos Pereira desdenhou das declarações do ministro ao afirmar que o partido não precisa das opiniões de Marun para decidir quem apoiar.

— É a opinião do ministro Marun. Cada um tem as suas opiniões e deve responder por elas. É de conhecimento de todos que o PRB tem grande dificuldades de caminhar com Ciro. E isso não é por causa da declaração do ministro. Essas dificuldades já estavam postas na mídia — disse Pereira.

O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, disse que os partidos ainda não decidiram qual candidatura apoiar, mas destacou que, caso o grupo decida seguir com Ciro Gomes, é provável que o bloco entregue em conjunto os cargos no governo.

— Os partidos não tomaram nenhuma posição sobre apoiar o Ciro Gomes. Se decidirmos por Ciro, vamos ter que discutir internamente o que fazer, pois teremos dois caminhos: entregar os cargos ou esperar o governo mandar embora — disse Paulinho, que completou: — Eu acho que o ministro está na posição dele, de pressionar os partidos a ficarem com o governo.

Marun negou que estivesse exigindo aos aliados que votassem no ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pré-candidato à Presidência pelo MDB.

— Só espero que eles não subam no palanque para dizer que é errado o que nós fizemos. Não cabe uma aliança entre partidos que foram completamente contrários ao impeachment, a reforma trabalhista, não cabe uma aliança, pelo menos no primeiro turno — disse.

TORCIDA CONTRA BOLSONARO

O ministro da Secretaria de Governo foi questionado ainda se o “recado” também valia para o PR, partido aliado que cogita apoiar o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência. Marun disse que torcia para que Bolsonaro não vencesse as eleições e que a única coisa em comum que tinham é o fato de ambos terem votado a favor do impeachment.

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Flávio Rocha, do PRB, desiste do Planalto

Gustavo Schmitt

Luís Lima

14/07/2018

 

 

Após anúncio, partido encaminha apoio ao tucano Geraldo Alckmin

O empresário Flávio Rocha (PRB) anunciou ontem que está fora da disputa à Presidência. Dono da rede de lojas de varejo Riachuelo, Rocha disse que preferiu liberar o partido para tomar seu rumo diante do que ele chamou de “luta quixotesca” que vinha travando em sua campanha.

— Jogamos a toalha, fizemos a nossa parte, lutamos o combate e estamos orgulhosos do que fizemos. Mas chega uma hora que a luta fica quixotesca. Liberamos o partido para tomar seus rumos — disse Rocha ao GLOBO.

Segundo nota assinada pela direção do partido, agora PRB e Flávio Rocha vão abrir “espaço para o diálogo” com o campo de centro. Conforme adiantou o GLOBO, o partido, que faz parte do “blocão”, busca uma candidatura de centro-direita e está preocupado com a ascensão dos pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL). A legenda está praticamente fechada com o tucano Geraldo Alckmin.

Ontem à noite, o presidente da PRB, Marcos Pereira, esteve ao lado de Geraldo Alckmin, em evento da igreja Sara Nossa Terra, em São Paulo. Alckmin foi apresentado no evento como “presidente” pelo bispo Robson Rodovalho, líder da igreja.

Ao anunciar a retirada da pré-candidatura de Flávio Rocha, o partido avisou que iria abrir espaço para o diálogo com o campo de centro. “Há um entendimento claro de que o país não pode flertar com os extremos e, por isso, mais do que nunca durante todo o processo, é fundamental que as forças de centro se unam num único projeto”, diz a nota.

Fora da disputa eleitoral, Rocha diz que retomará o trabalho à frente da Riachuelo, onde presidirá o conselho de administração, e, em paralelo, retomará as atividades de sua plataforma política, o Brasil 200, que defende um Estado liberal na economia e conservador nos costumes.

Horas após anunciar a desistência de sua pré-candidatura, ele disse que não se arrepende de nada, que não será vice de ninguém, pois nenhum candidato é capaz de “reconciliar o país". Também não indicou quem poderá apoiar a partir de agora:

— Estou em dia com a minha consciência, acho que não me arrependo nem um minuto. Não conseguiria conviver com a sensação de que poderia ter feito algo e não fiz — disse.

Sua atuação política será por meio da retomada das atividades do Brasil 200, que terá uma sede na capital paulista em formato de uma think tank, uma espécie de “fábrica de ideias”.

— A luta continua, mas em outro formato.

Lideranças do PRB devem participar de um almoço hoje com representantes do bloco de partidos do “blocão”, que tentam chegar a um consenso para apoiar um único pré-candidato ao Planalto. No encontro, são esperados Rodrigo Maia (DEM), Paulinho da Força (SD), Ciro Nogueira (PP) e Marcos Pereira (PRB).

Em janeiro deste ano, o empresário havia lançado uma plataforma política que defendia um Estado liberal na economia e tradicional nos costumes.

Chancelado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Rocha passou os três primeiros meses do ano ensaiando uma pré-candidatura, em viagens pelo país. O projeto tomou corpo após sua filiação ao PRB, em 27 de março.

Sem decolar nas pesquisas de intenção de voto, no entanto, Rocha estacionou em 1%, e viu seu projeto eleitoral tornarse inviável. Isso motivou a decisão conjunta com Marcos Pereira, presidente da legenda, de abandonar a pré-candidatura para facilitar um consenso entre o PRB e outras legendas de centro-direita em torno de um nome mais competitivo.

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No Pará, Bolsonaro prega garimpo de quilombolas

Patrik Camporez

14/06/2018

 

 

Deputado tenta reduzir imagem negativa com grupos após frase que gerou denúncia por racismo

Em evento em Parauapebas, no interior do Pará, o presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, prometeu ontem que, se for eleito, vai levar "progresso" a aldeias indígenas e permitir que quilombolas abram garimpo em terras demarcadas ou até mesmo possam vendê-las.

No evento, que contou com centenas de simpatizantes, Bolsonaro declarou que os indígenas têm o desejo de se "integrar à sociedade".

— No meu governo, o progresso vai entrar nas terras indígenas, como vai entrar nos quilombolas também. O quilombola que quiser garimpar na sua terra, vai conseguir. Se quiser vender sua terra, vai também. O que a comunidade indígena quer é se integrar cada vez mais à nossa sociedade — afirmou.

Entre os dramas enfrentados atualmente por quilombolas e indígenas no Brasil estão o desmatamento e o avanço de latifúndios sobre territórios demarcados. Líder nas pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro busca reduzir os impactos eleitorais negativos da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele. Em abril, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Parte da denúncia é baseada nas declarações de Bolsonaro sobre uma comunidade quilombola.

— Eu fui em um quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas — afirmou na ocasião o deputado, que também acrescentou que eles “não fazem nada” e “nem para procriador eles servem mais”.

Ontem, Bolsonaro adotou tom mais ameno. O deputado chegou a chamar quilombolas e índios de “irmãos".

— É uma satisfação muito grande estar aqui ao lado de gente que é tão brasileiro como nós, como índios, representantes afro neste evento. Somos irmãos — afirmou.

O evento foi organizado por Paulo Quilombola, que lidera uma entidade denominada Federação das Comunidades Quilombolas do estado do Pará. Seu grupo apoiava o presidenciável Alvaro Dias (Podemos), mas decidiu migrar para a candidatura Bolsonaro.

Paulo Quilombola é questionado por entidades que não o consideram um representante legítimo do movimento. Em abril, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas divulgou uma nota assinada por dez entidades do Pará com críticas a Paulo.