Título: Bicheiro articulou indicação no Denatran
Autor: Jeronimo , Bicheiro
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2012, Política, p. 4
Intercepções telefônicas da Operação Monte Carlo revelam o interesse do contraventor Carlinhos Cachoeira pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). No ano passado, quando o PP estava em fase de negociações para renovar a presidência do órgão, ligado ao Ministério das Cidades, Cachoeira articulou encontro do então presidente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de Goiás, Edivaldo Cardoso, com o ex-deputado do PP Pedro Canedo. Cachoeira, assim como o correligionário do partido que comanda o ministério, queriam indicar Inaldo Leitão, também ex-parlamen¬tar do PP, para a Presidência do Denatran. "Ele (Pedro Canedo) quer pôr você (Edivaldo) para conversar com o Inaldo Leitão para ser o presidente do Denatran", afirma Cachoeira.
Inaldo Leitão nega a amiza¬de com Canedo, afirma que não conhece o contraventor, e alega que não assumiu o cargo no Denatran, porque não estava interessado. "Eu não conheço nenhum dos dois, não conheço o Pedro Canedo. Eu fui indicado, mas não passou por esse pessoal. Foi o PP nacional. Foi uma questão política (o fato de não ter assumido). Eu não estava interessado nessa questão de cargo, não. Esses bandidos ficam vendendo o que não têm, dizem que são amigos de fulano, de sicrano."
O ex-presidente do Detran de Goiás confirma que recebeu Canedo em uma audiência, mas alega que não teria poderes para interferir no Denatran. "O Pedro Canedo disse que essa pessoa era amiga dele. Se precisasse de alguma coisa no Denatran, poderia falar com ele. Eu nem sequer fui ao Denatran, nunca visitei o Denatran. Não há qualquer interesse meu no Denatran e eu não teria qualquer influência." O Correio procurou Pedro Canedo, mas não conseguiu falar com o ex-deputado até a publicação desta edição.
O Denatran reaparece nas conversas entre Cachoeira e seus comparsas quando o assunto é importação de carros. Interessado em comprar um Jaguar avaliado em R$ 580 mil em concessionárias brasileiras, o contraventor recorre a um sócio de uma das empresas de seu esquema para se inteirar do processo de importação, para fugir dos impostos.
Importação
Valterci de Melo, sócio do laboratório Teuto, conta que comprou seu carro, modelo Bentley, por R$ 870 mil, e afirma que Cachoeira economizaria R$ 200 mil se importasse o automóvel. Ele informa, no entanto, que a transação passa pelo Denatran, no processo de obtenção do "Radar", licença para importação de veículos. "Eu que importo tudo direto, eu que importo, mesmo. Você tem que ter um Radar seu, a pessoa tem que montar o seu Radar, aí você importa tudo direto. Temos que montar um Radar no seu nome para importar", afirma Valterci.
De acordo com a assessoria de imprensa do Denatran, em processo de importações de carros, o órgão atua na inscrição do veículo no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam) e na emissão do Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito (Cat), previstos na portaria n° 190 de 2009.
Além da importação de carros, os grampos da Polícia Federal flagraram Gleyb Ferreira da Cruz , um dos principais auxiliares de Cachoeira, negociando a compra de um avião. Na conversa, Gleyb questiona o importador que faria a operação se a compra poderia ser feita em nome de pessoa física. O interlocutor responde que sim e que a taxa de importação para a aeronave seria de R$ 300 mil. O modelo e o preço do avião não são informados.