O globo, n. 31019, 11/07/2018. País, p. 3

 

No último minuto

Bruno Góes

Cristiane Jungblut

Dimitrius Dantas

Luís Lima

Marco Grillo

11/07/2018

 

 

Quadro de alianças indefinido faz partidos deixarem convenções para o fim do prazo legal

Diante do cenário embaralhado para a composição de alianças, a maioria dos partidos com candidato próprio ou que desejam participar de um novo governo deixou as convenções para os últimos dias do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral. Para apresentar os candidatos à Presidência da República ou anunciar o apoio a outras legendas, os políticos podem realizar suas reuniões entre 20 de julho e 5 de agosto. Mas, por enquanto, os três maiores partidos do país — PT, PSDB e MDB — além da Rede, de Marina Silva, e do Podemos, de Álvaro Dias, marcaram seus encontros para 4 de agosto, na véspera do fim do prazo. O PSB, que se divide entre o apoio ao PT e a Ciro Gomes (PDT), foi ainda mais longe e escolheu a data-limite: 5 de agosto.

Em 2014, o cenário era completamente diferente, não apenas pela conjuntura política. O calendário também era outro. À época, o prazo estipulado pela Justiça Eleitoral foi de 10 a 30 de junho. O tucano Aécio Neves foi lançado em 14 de junho. Dilma Rousseff, em 21 de junho. Eduardo Campos (PSB), em 28 de junho — depois de sua morte, a candidatura foi assumida por Marina Silva.

No PSDB, o comando do partido deve se reunir hoje com Geraldo Alckmin para sacramentar a escolha da data e do local da convenção. O pré-candidato discutiu com o coordenador de sua campanha, Marconi Perillo (GO), e informou a aliados que o ato deve ocorrer dia 4 de agosto. Isso daria tempo para o partido seguir negociando alianças e permitiria que Fernando Henrique Cardoso voltasse de uma viagem ao exterior. O foco dos tucanos neste momento está no chamado centrão (DEM, PP, PRB e Solidariedade), que se reúne hoje para tentar decidir se apoia Alckmin ou Ciro Gomes (PDT).

Aliados do pré-candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, no entanto, pressionam o comando nacional do partido a realizar as convenções estadual e nacional conjuntamente no dia 28 de julho, na capital paulista. Em outras eleições, o PSDB realizou o encontro em Brasília, com o objetivo justamente de nacionalizar a candidatura, mas Alckmin sofre hoje para conseguir ultrapassar Jair Bolsonaro (PSL) no estado que governou quatro vezes.

O PT marcou para o mesmo dia 4 de agosto, em São Paulo, o chamado “Encontro Nacional Eleitoral do PT”, que equivale à convenção, e pretende lançar o ex-presidente Lula. O partido quer marcar posição e efetuar o registro do petista no dia 15 de agosto. De acordo com a Lei da Ficha Limpa, ele não pode ser candidato por ter sido condenado em segunda instância.

Sem nenhuma aliança confirmada para a campanha, a pré-candidata Marina Silva também apostou no dia 4 de agosto para realizar a convenção da Rede Sustentabilidade. A análise interna do partido é de que o cenário ainda está muito indefinido e acelerar a escolha de um vice-presidente ou definir os candidatos para o Legislativo poderia impedir as conversas com outras siglas. A previsão de assessores da ambientalista é a de que as negociações com partidos próximos, como o PPS e o PV, alvos preferenciais da Rede, devem se estender até o início de agosto. A Rede disputa o apoio dos dois partidos com o PSDB.

Na segunda-feira, caciques do MDB definiram para o dia 4 a convenção que irá definir se o ex-ministro Henrique Meirelles será ou não candidato da legenda. A data foi estipulada em encontro do presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia) e o coordenador político da campanha de Meirelles, João Henrique de Sousa.

MOVIMENTO CONTRÁRIO DE CIRO E BOLSONARO

Ao contrário da maioria dos partidos, o PDT adiantou o máximo possível a sua convenção. Será no dia 20 de julho, primeiro dia do prazo eleitoral, quando lançará a candidatura de Ciro Gomes. O presidente Carlos Lupi diz que a convenção foi marcada no início do prazo para mostrar que a candidatura está consolidada. Segundo ele, há a expectativa de que o PSB anuncie ainda antes o apoio ao pedetista.

— Queremos mostrar que a candidatura é irreversível. Queremos até lá ter algum anúncio de apoio. Hoje, a nossa aproximação é muito forte, temos um grupo muito forte junto ao PSB. Nós podemos, antes da nossa convenção, ter o apoio deles. Mas, se não acontecer, tudo bem. Podemos formalizar até o dia 5 de agosto — pontuou.

Um dos fatos políticos que podem empurrar o PSB para aliança com Ciro é a candidatura de Marília Arraes, do PT, ao governo de Pernambuco. O PSB busca a reeleição de Paulo Câmara ao governo do estado e não aceita qualquer aliança com os petistas caso Marília seja candidata.

Dois dias após a convenção de Ciro, será a vez de o PSL realizar a reunião que irá lançar a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência. O evento vai acontecer no dia 22 em um centro de convenções no Rio. Bolsonaro trabalha para ter o apoio do PR e o senador Magno Malta (PR-ES) como vice, mas a definição do aliado só deverá ser tomada na primeira semana de agosto.

A ala que defende a aliança com Bolsonaro é capitaneada pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, que foi condenado no mensalão. Ele está formalmente afastado do comando do PR, mas ainda comanda a legenda nos bastidores.

PSL

DATA: 22 de julho

CENÁRIO ATUAL: Candidatura de Jair Bolsonaro consolidada. Falta definir o vice. A principal aposta é Magno Malta, do PR, partido que ainda não decidiu o rumo e que terá convenção no dia 22. Confirmada, a aliança aumenta em oito vezes o tempo de TV do candidato, que lidera todas as pesquisas sem Lula

PSDB

DATA: 04 de agosto

CENÁRIO ATUAL: Geraldo Alckmin espera a data-limite porque aliados em potencial temem seu baixo desempenho nas pesquisas. O DEM, aliado histórico, flerta com Ciro. O centrão segue o mesmo roteiro. O tucano pretende anunciar o apoio de outros partidos, como o PTB, ainda este mês

PSB 40

DATA: 05 de agosto

CENÁRIO ATUAL: o PSB estuda vá rias possibilidades e faz as contas sobre o impacto da aliança nacional sobre a disputa nos estados. Conversa com PT e o PDT, sendo a última a principal alternativa. A aliança com Marina está descartada após o rompimento da Rede com governadores da legenda

PDT 12

DATA: 20 de julho

CENÁRIO ATUAL: Ciro fará a convenção longe do prazo final embora seu quadro de alianças esteja bem indefinido. Ele mira no PSB, no DEM e nos partidos do chamado centrão, como PR e PP, que têm expressivo tempo de TV. Porém, enfrenta grande resistência pelo histórico de embates com esses partidos

MDB

DATA: 04 de agosto

CENÁRIO ATUAL: O partido do governo aguarda até o último prazo para confirmar o nome de Henrique Meirelles. Por ora, o MDB não tem aliados, mas assegura a manutenção da candidatura própria. Outros partidos não querem ter o nome atrelado ao presidente Michel Temer, rejeitado pela população

DEMOCRATAS

DATA: Indefinido

CENÁRIO ATUAL: o DEM deve decidir amanhã a data da sua convenção. Em bora o deputado federal Rodrigo Maia ainda mantenha a sua pré-candidatura ao Planalto, boa parte da cúpula do partido deseja fechar uma aliança com o PSDB. Há ainda quem flerte com o pedetista Ciro Gomes, que sofre resistências

REDE

DATA: 04 de agosto

CENÁRIO ATUAL: Marina tem o apoio de PHS e PMN. Aliado da eleição de 2014, o PSB já descartou uma aproximação. O PPS, de Roberto Freire, é o principal alvo. A legenda não vai antecipara escolha do vice para não se se afastar de possíveis aliados, como o PV, que está mais próximo dos tucanos

PT

DATA: 04 de agosto

CENÁRIO ATUAL: Mesmo ficha-suja, o ex-presidente Lula segue como o candidato do PT. Com isso, aliados históricos, como o PCdoB e o PSB, resistem em formar aliança nacional. Até o dia da convenção, o partido estudará se aciona o plano B, que é a indicação do ex-prefeito de SP Fernando Haddad

PROGRESSISTAS

DATA: 02 de agosto

CENÁRIO ATUAL: O PP integra o grupo de partidos que conversa com Alckmin, mas também está dividido entre apoiar Ciro Gomes ou liberar seus diretórios nos estados. Assim, a sigla não apoiaria um nome específico para o Planalto e poderia articulara eleição de numerosa bancada para a Câmara

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Acordo agora pode valer cargos e acesso a verbas em 2019

Leandro Loyola

11/07/2018

 

 

Não se trata apenas de eleição; está em jogo o poder no próximo governo

Em uma eleição confusa como esta de 2018, decidir na última hora é a estratégia óbvia para a maioria dos partidos políticos, em especial aqueles que não têm candidato próprio à Presidência da República. É claro que nenhum deles precisa de mais tempo para concluir estudos sobre a situação do país, elaborar um programa de governo ou negociar alianças em torno de suas ideias e propostas. Todos precisam deste tempo que resta até 5 de agosto para enxergar melhor o cenário eleitoral, que está tão turvo quanto a água numa caverna alagada na Tailândia.

A três meses do primeiro turno, o candidato melhor colocado nas pesquisas está preso — e, portanto, não poderá concorrer — o segundo e terceiro colocados estão em partidos pequenos e as pesquisas indicam os mais altos índices de intenção de votar em branco ou nulo e de abstenção registrados em tempos recentes. A campanha será curta e o dinheiro — pelo menos o legal — à disposição será escasso.

É nesta disputa sem favoritos, em condições adversas para os políticos, que a maioria dos partidos terá de decidir a quem apoiar. Trata-se de escolher qual candidato oferece maiores vantagens (sejam elas quais forem), em troca dos preciosos segundos a que cada partido tem direito na propaganda eleitoral na televisão. É para negociar os melhores termos em torno disso que os partidos querem mais tempo.

Um bom acordo nesta etapa inicial é fundamental para o futuro. Em um primeiro momento, os partidos buscam estabelecer qual candidato proporcionará a chance de eleger uma maior bancada. Afinal, quanto mais deputados e senadores eleitos, maior o poder de barganha por espaço — tradução: cargos e acesso a dinheiro público — no futuro governo.

A despeito de tudo que será dito até lá, o presidente eleito em outubro não terá uma base de apoio numerosa e dependerá mais do Congresso do que seus antecessores mais recentes. Estará, portanto, numa situação difícil, nas mãos do Congresso que será eleito. Quem estiver desde já ao lado deste vencedor terá melhores condições nas negociações por espaço — cargos e acesso a dinheiro público — no governo.

Em última instância, os partidos negociam alianças eleitorais agora para estarem numa boa posição naquelas planilhas que circularão na Casa Civil no início de 2019, aquelas com os mapas das nomeações para ministérios, estatais, órgãos estaduais, etc. Conquistar o poder de manobrar maiores ou menores verbas públicas a partir do ano que vem é um jogo que exige visão estratégica e apostas no incerto, que têm de ser feitas já. É por isso que os partidos vão usar todo o tempo à disposição para negociar.