O globo, n. 31019, 11/07/2018. País, p. 4

 

PDT quer amenizar rompantes de Ciro com imagem de ‘indignado’

Jussara Soares

Luís Lima

11/07/2018

 

 

Pré-candidato busca apresentar novo perfil nas redes sociais

O pavio curto e a língua ferina do presidenciável Ciro Gomes (PDT) começaram a ser trabalhados dentro do partido numa tentativa de amenizar o estrago que os rompantes provocam na imagem do pré-candidato à Presidência. A estratégia é amenizar os ataques de ira protagonizados pelo presidenciável e, assim, tentar tratar como indignação de um cidadão comum episódios que os opositores classificam como atos de desequilíbrio.

Um vídeo de 30 segundos divulgado anteontem nas redes sociais antecipa o tom que deve ser usado para rebater as críticas na campanha. A publicação feita a partir de uma sequência de fotos e legendas destaca que “Ciro é indignado” e “não se conforma com a corrupção e as injustiças.” O objetivo da campanha é claro: que os ataques a políticos e também a cidadãos anônimos sejam entendidos como vontade de mudar o cenário político atual.

— Ciro está preparado para encarar a campanha, uma gestão de quatro anos, em um momento em que o povo brasileiro também está indignado. Então, talvez, essa indignação seja reflexo do povo com a situação do novo país — diz o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo, do Ceará.

Presidente do PDT, Carlos Lupi afirma que explorar a indignação de Ciro é uma forma de exaltar a imagem do político com autoridade para comandar o país.

— Mais do que nunca, o Brasil necessita de alguém que tem experiência, vida limpa e coragem para fazer o enfrentamento. Não é com hipocrisia, palavra bonita, para agradar fulano ou beltrano, mas com clareza e falando o que acha que está correto — diz Lupi.

Não é a primeira vez que a indignação é usada como artificio para tentar justificar o perfil intempestivo do précandidato. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em maio, Ciro admitiu que está se esforçando para não ceder aos seus impulsos.

— As pessoas acham que eu sou exagerado. Estão ferrando nossa pátria. Para mim, criminoso é quem se omite, quem não denuncia, quem fica fica colocando pano morno a pretexto que a gente tem que ter uma linguagem elegante, aristocrática. Estou até me esforçando. Não é possível que vocês não reconheçam isso, que estou falando com palavras mais afirmadas — justificou.

O pedetista, que já declarou não ser “candidato a madre superiora de convento”, coleciona controvérsias e pelo menos 99 processos por indenizações ou crimes contra a honra por causa da agressividade nos discursos. Um dos episódios mais recentes ocorreu em junho, quando chamou o vereador paulista Fernando Holiday (DEM), um dos líderes do Movimento Brasil Livre, de “capitãozinho do mato.” Também recentemente, encerrou intempestivamente sua participação num congresso, diante de vaias, e também foi vaiado ao criticar a reforma trabalhista para uma plateia de empresários em Brasília.

— Pois é, vai ser assim mesmo, se quiserem um presidente fraco, escolham um desses com conversa fiada aqui para vocês — reagiu, na ocasião.

A artilharia verborrágica do pedetista tem mirado principalmente o deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo PSL. Ciro o chamou de “boçal”, “maluco” e “câncer a ser extirpado.”

Na avaliação de Cid Gomes, irmão de Ciro e um dos coordenadores da précampanha, a resposta às críticas ao temperamento imprevisível é a própria biografia do pré-candidato.

— (Ciro) Já ocupou diversas funções na política. E em toda a sua trajetória, de 38 anos, não se envolveu em um ato ilícito sequer.

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Valdemar evita aliados para apoiar Bolsonaro

Bruno Góes

11/07/2018

 

 

Líder do PR recusa convites do centrão e reforça aliança com pré-candidato do PSL

Pressionado pelos partidos do centrão a se afastar de Jair Bolsonaro (PSL), o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, tem dito a interlocutores que 30 dos 41 deputados federais de seu partido são a favor da aliança com o ex-capitão do Exército na disputa pela Presidência da República. Na semana passada, Valdemar se recusou a participar de encontro do centrão — DEM, PP, PRB e Solidariedade — com o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em Brasília. A justificativa foi o apoio majoritário da bancada a Bolsonaro.

Antes da reunião, o presidente do PRB, Marcos Pereira, ouviu, por telefone, as razões de Valdemar e não conseguiu convencê-lo a sentar à mesa de negociações com o tucano, segundo um dos presentes à reunião. Descontentes com o possível apoio do PR a Bolsonaro, os partidos do centrão, bloco liderado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda tentam convencer Valdemar a não formalizar a aliança. A convenção do PR está marcada para o dia 4 de agosto, um dia antes do prazo final dado pelo Tribunal Superior Eleitoral para a realização do evento.

O líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), foi convidado para participar de reunião do bloco, que será realizada hoje. Ao GLOBO, Rocha disse que não sabe se vai ao encontro. — Ainda não decidi — diz. O principal objetivo do PR no pleito deste ano é a eleição de deputados federais. Segundo estimativas internas, as candidaturas de Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seriam as mais confortáveis para ter um bom desempenho na eleição para a Câmara dos Deputados. Como Lula deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, a opção por Bolsonaro está a cada dia mais consolidada.

Só no Rio de Janeiro, por exemplo, o PR calcula que pode eleger seis ou sete deputados com o apoio a Bolsonaro. Sem Bolsonaro, a perspectiva cai para dois deputados. A opção por Ciro Gomes (PDT) enfrenta forte resistência. Além de ser desafeto pessoal de Valdemar, o pedetista tem grande rejeição da ala bolsonarista do PR.

PR QUER CANDIDATO A VICE

A inconformidade do centrão com o apoio do PR a Bolsonaro está fundamentada na avaliação de que o acordo pode encorpar a candidatura do PSL. Os caciques partidários argumentam que o tempo de rádio e televisão na propaganda eleitoral, mais que dobrado pelo apoio do PR, será fundamental para o crescimento da campanha de Bolsonaro.

O pré-candidato do PSL trata a aliança com o PR como bem encaminhada, dependendo apenas de o senador Magno Malta (ES) concordar em ser seu vice-presidente. Aliados do presidenciável no partido vão além e dizem que o acordo sairá ainda que Malta decida buscar a reeleição ao Senado, desde que Bolsonaro escolha outro integrante do PR para vice.

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Miro não vai mais disputar governo do Rio

11/07/2018

 

 

Estratégia da Rede é ter bancada maior na Câmara para atender cláusula de barreira

O deputado federal Miro Teixeira não vai mais concorrer ao governo do Rio e deverá tentar mais um mandato na Câmara. A decisão foi tomada em reunião da comissão executiva da Rede, na segunda-feira, na qual foi analisado o cenário eleitoral no estado e as dificuldades para a construção de alianças para que o parlamentar disputasse a eleição majoritária.

Além disso, pesou na decisão da Rede a necessidade de formar uma bancada maior na Câmara para atender à cláusula de desempenho, que passa a vigorar nestas eleições e determinará o acesso dos partidos ao fundo partidário nos próximos anos.

Em 2018, as legendas terão que atingir a votação mínima de 1,5% para o cargo de deputado federal em pelo menos nove estados. Ou eleger nove parlamentares para a Câmara, de estados diferentes. Atualmente, a Rede tem apenas dois deputados.

— Tenho oito ou nove segundos de tempo de TV, e quando entra a campanha não tenho o brilho da Marina (que deve ter tempo semelhante para a disputa presidencial). Por isso, provavelmente vamos sair como candidatos a deputado federal eu e Bandeira de Mello (presidente do Flamengo). Com isso, teremos uma bancada da Marina e reforçaremos a continuidade da Rede (devido à cláusula de barreira). A não ser que haja fato novo e relevante, essa situação não muda — disse Miro.

Nos últimos meses, o deputado vinha conversando com lideranças políticas de vários partidos no Rio para tentar construir um programa de governo que unisse forças para tentar se contrapor ao projeto do MDB no estado. Segundo ele, porém, não foi possível construir nenhum consenso sobre as propostas ou nomes que pudessem conduzir esse projeto.

Na reunião da executiva do partido, segundo Miro, também ficou evidente a dificuldade para fechar um acordo de aliança nacional com partidos que não estejam envolvidos em escândalos de corrupção e com bancadas relevantes.

A tendência é que Marina tenha apoio de legendas menores como PHS e PPL. Mas não está descartada a possibilidade de Marina disputar a eleição sem alianças.

Miro disse que os candidatos à Presidência precisam reagir à chantagem dos partidos do centrão.

— Não vamos fazer alianças com esses partidos, porque perdemos nossa identidade. É preciso lançar um movimento “fora, centrão” — disse ele.

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Candidatura de Paes só será lançada perto do prazo final

Jeferson Ribeiro
 
Marco Grillo
 
11/07/2018
 
 
 

DEM ainda negocia alianças e espera definição na disputa pela Presidência

Apesar das frequentes reuniões com políticos do Rio e de já estar montando parte da equipe que vai assessorá-lo, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) ainda não admite a pré-candidatura ao governo do estado, o que fará com que a convenção do DEM aconteça só na primeira semana de agosto, perto do fim do prazo legal — dia 5 do mês que vem.

Como as negociações para as alianças ainda estão em andamento, e muitas delas dependem da definição do cenário nacional, a estratégia do DEM é ganhar tempo para apresentar na convenção um amplo arco de apoio. Uma das negociações em andamento é com o PDT, que apresentou a pré-candidatura do deputado estadual Pedro Fernandes. No entorno de Paes, o acordo é dado como praticamente fechado. No plano nacional, o partido tenta convencer o DEM a apoiar Ciro Gomes à Presidência.

— Nosso candidato (ao governo do Rio) será o Pedro Fernandes. Mas, se houver uma aliança do DEM com o Ciro, posso reabrir a discussão interna — disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.

O Podemos, que apresentou a pré-candidatura do senador Romário ao governo do Rio, vai esticar a decisão até o limite: a convenção será na véspera do fim do prazo. Já o PSD, que vai lançar o deputado Indio da Costa, e o PRP, do ex-governador Anthony Garotinho, têm as situações mais bem definidas, terão as suas convenções em julho. Marcia Tiburi (PT) e Tarcísio Mota (PSOL) devem ter as candidaturas oficializadas no fim deste mês.