Título: Trunfo para convocar Gurgel
Autor: Gama , Júnia ; Mascarenhas , Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2012, Política, p. 3

O grupo petista ligado aos envolvidos no mensalão aposta na histórica rixa entre a Polícia Federal e o Ministério Público, agravada por declarações recentes da subprocuradora da República, Cláudia Sampaio, para reunir elementos que forcem a ida do marido dela, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, à CPI do Cachoeira. No depoimento que o delegado da PF Raul Alexandre Souza dará hoje ao Conselho de Ética do Senado, o PT irá usar o desencontro entre os discursos de Cláudia, de Raul e de Gurgel e voltará a explorar o fato de o procurador-geral não ter pedido o indiciamento de Demóstenes Torres (sem partido-GO) em 2009, quando recebeu o inquérito da Operação Vegas.

Em meio ao cabo de guerra, o deputado federal Luiz Pitiman (PMDB-DF) apresentou um requerimento sugerindo que Gurgel responda por escrito aos questionamentos da CPI. A alternativa já vinha sendo costurada diretamente com o procurador-geral. “Se Gurgel tiver uma justificativa contundente, a resposta por escrito será suficiente. Se não for, estudaremos o que fazer. Agora, os parlamentares que, de antemão, insistirem na convocação deixarão claro que têm motivações pessoais para levar Gurgel à CPI, por problemas mal resolvidos com a instituição. Temos de vencer essa pauta e voltar ao foco principal, que são as relações de Cachoeira, e não o Ministério Público ou a mídia”, argumentou Pitiman.

Embora afirme ser contra a convocação, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) cobra um posicionamento de Gurgel. “Ele não saiu falando dos mensaleiros? Tem que falar agora é sobre a má conduta dele. Ele deve uma explicação à sociedade. Quando politizou, falando de mensaleiros, ficou ridículo e pior para ele. Agora, com esse bate-boca entre a mulher dele e o delegado, está claro que eles estão confusos”, concluiu. O deputado se refere às declarações de Cláudia Sampaio à imprensa, de que o próprio delegado Raul teria pedido que ela não tomasse providências em relação à Operação Vegas, porque poderiam atrapalhar as investigações em curso. Ontem, o senador Fernando Collor (PTB-AL) defendeu a convocação de Cláudia Sampaio.

As alegações da subprocuradora se chocam com o depoimento que Raul deu na semana passada. Ele disse à CPI que a mulher de Gurgel, ao receber o inquérito da Vegas, avisou aos policiais que não havia indícios para que fossem tomadas providências contra pessoas com foro privilegiado. Nos bastidores, fala-se que o depoimento do delegado da Polícia Federal “entregou” o procurador-geral. Ontem à noite, a Polícia Federal divulgou uma nota oficial, reiterando as informações dadas por Raul à CPI. Segundo a corporação, houve três encontros entre o delegado e a subprocuradora e em nenhum deles Raul sugeriu o “arquivamento ou o não envio da Operação Vegas ao STF”.