O globo, n. 31020, 12/07/2018. País, p. 4

 

Magno Malta indica que não deseja ser vice na chapa de Bolsonaro

Patrick Camporez

12/07/2018

 

 

Pré-candidato mantém pressão para ter apoio do PR, que acena para PT e centrão Candidatas do partido temem desgaste com eleitoras em caso de apoio a Bolsonaro

-BRASÍLIA- A aliança entre Jair Bolsonaro (PSL) e o PR, alardeada por ambas as partes como fato praticamente consumado, deu ontem sinais de que pode não se confirmar. Em entrevista ao Diário do Nordeste, durante evento na Assembleia Legislativa do Ceará, anteontem, o senador Magno Malta (PR), nome preferido pelo deputado federal para assumir a vice, afirmou que é “importante no Senado” e que Bolsonaro será presidente “com qualquer outro vice”.

— Por que o vice de Bolsonaro é essa insistência que a imprensa nacional quer? Tem alguma coisa por trás disso. É o cara botar o pescoço de fora e começar a ser escrachado antes da hora? O que tenho perguntado é o seguinte: será que para a sociedade, para as famílias, a minha luta em defesa das crianças, será que vale a pena eu ficar calado? Digo para ele (Bolsonaro): você é presidente sem mim, com qualquer outro vice. Tenho que avaliar é a minha importância, e, na minha cabeça, sou importante é no Senado — disse Malta ao Diário do Nordeste.

O PR tem uma bancada de 40 deputados, integra a base de governo do presidente Michel Temer e conta com cobiçados 45 segundos de tempo de TV no horário eleitoral.

Ontem pela manhã, a assessoria do senador confirmou ao GLOBO que o parlamentar havia desistido de ser vice na chapa do ex-capitão do Exército. Depois de ser pressionado pelo précandidato, que o procurou pessoalmente para cobrar uma posição sobre o que a sua assessoria havia dito, o senador capixaba mudou o tom, desautorizou seus assessores, e retomou o discurso de que ainda não havia decidido sobre ser vice.

À tarde, quando a notícia apontando que Magno Malta desistira da vaga de vice de Bolsonaro já repercutia no Congresso, o ex-capitão do Exército dirigiuse ao gabinete do senador para tirar pessoalmente suas conclusões. O précandidato não escondeu a insatisfação e chegou a dizer que o senador havia prometido lhe dar a palavra final no dia 15 de julho. Visivelmente descontente, ele tratou de diminuir a decisão de Malta dizendo que não tinha “problema nenhum” na desistência.

— Ele não tinha nenhum compromisso de ser. A bola estava com ele. Pode ser que não venha. Não tem problema nenhum —disse Bolsonaro ao GLOBO, às 14h40, antes de sair mais uma vez pelos corredores do Senado atrás de Magno Malta.

Depois de conversar com Malta, Bolsonaro afirmou que “a bola” estava com o senador e que nada havia sido decidido.

— O Magno Malta, por enquanto, ainda não bateu o martelo. Quando bater o martelo, será um “sim” ou “não”. Aí nós temos algumas opções pela frente. A Janaína Paschoal parece que está demonstrando interesse. O general Augusto Heleno também. É uma possibilidade ele (Mago Malta) ir para o Senado. Mas ainda não bateu o martelo não — disse Bolsonaro.

Três horas após o pré-candidato do PSL bater na porta do gabinete do senador para cobrar explicações, o senador capixaba adotou novo tom, mais cauteloso, sobre a possibilidade de não aceitar a oferta do ex-capitão do Exército.

— Se minha assessoria falou isso, eu desminto. O Bolsonaro é o líder nas pesquisas, ele tem até a última gota do rio para decidir que vice ele quer — afirmou Magno Malta.

Ainda na manhã de ontem, enquanto os auxiliares de Magno Malta confirmavam a negativa do senador a Bolsonaro, o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, encontrou-se sigilosamente com dois dos principais integrantes da cúpula do PT, o ex-ministro Jaques Wagner e o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para discutir a possibilidade de uma composição nas eleições de outubro.

As negociações do PR com o PT envolveriam a formação de uma chapa com o presidente da Coteminas, Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar, levado ao PR pelo ex-presidente Lula. Segundo Valdemar revelou ontem a caciques de partidos do centrão, o próprio Josué teve um encontro com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, para discutir uma composição com os petistas.

 

DEPUTADOS DO PR PREFEREM BOLSONARO

Josué, segundo Valdemar, teria dito a Gleisi que não aceitaria ser vice “de alguém que não vai ser candidato”, em uma referência ao fato de o PT insistir em registrar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo ele sendo considerado inelegível pela Lei da Ficha Limpa e ter sido proibido ontem, pela juíza Carolina Moura Lebbos, titular da 12ª Vara Federal de Execuções Penais (VEP) de Curitiba, de realizar atos de campanha na carceragem da Polícia Federal. Apesar da indecisão de Magno Malta e do flerte de Costa Neto com o PT, a maioria dos integrantes da bancada do PR na Câmara ainda diz preferir uma aliança com Bolsonaro a outro partido tradicional. Nos últimos dias, o próprio Valdemar afirmou a aliados que 30 dos 41 deputados preferiam uma aliança com com o ex-capitão do Exército. Ontem, contudo, o chefe do PR levou uma mensagem diferente à reunião do “centrão”. Ele esteve na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), onde afirmou aos líderes de DEM, PP, PRB, PHS, PSC e Solidariedade que não havia nada fechado com Bolsonaro. E aproveitou para fazer um aceno aos aliados. — O Valdemar disse que, na semana passada, o apoio ao Bolsonaro estava decidido. Mas que agora não está mais assim. E que tem até gente querendo Ciro Gomes — disse um dos presentes. A preferência pelo pedetista na bancada, entretanto, é pequena. Segundo o líder do PR na Casa, José Rocha, só cinco dos 41 deputados apoiariam Ciro.

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Fragmentado, ‘centrão’ fica cada vez mais distante do consenso

12/07/2018

 

 

DEM projeta liberar os estados; Ciro, Alckmin e Bolsonaro racham partidos

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Líderes de partidos do chamado “centrão” saíram frustrados de reunião ontem na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Brasília, onde debateram uma possível união para a campanha à Presidência da República. No início da tarde, caciques de DEM, PP, PRB, PR, PSC e PHS conversaram sobre os possíveis cenários, mas não houve consenso. Há uma divisão entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Mais distante, o PR flerta com Jair Bolsonaro (PSL).

O DEM, que organizou o encontro e esteve representado por seus principais líderes, nem mesmo indicou quem prefere apoiar. Com a bancada no Congresso dividida, a legenda tenta encontrar um caminho intermediário que acomode os interesses de todas as suas correntes: fechar um acordo nacional, mas, ao mesmo tempo, liberar os estados para atuarem da forma mais conveniente regionalmente, sem retaliações.

Segundo uma das lideranças do partido, já não há qualquer ilusão de que o DEM consiga chegar a uma unanimidade em torno de alguma das quatro pré-candidaturas que estuda. Atualmente, os parlamentares do partido se dividem entre Ciro, Alckmin, Álvaro Dias (Podemos) e Bolsonaro (PSL). Este último tem encontrado mais adeptos dentro do partido desde que ficou claro que Rodrigo Maia não será candidato.

Rodrigo Maia e ACM Neto flertam com Ciro Gomes, mas não conseguem apoio da maioria da sigla para seguir com o pedetista. Já Mendonça Filho defende Alckmin e é cotado para ocupar a chapa presidencial do tucano como vice.

— É uma proposta de encaminhamento (liberação dos diretórios estaduais) que provavelmente prevalecerá. Líderes do ‘centrão’ participam de encontro em Brasília Ainda não é uma decisão tomada, mas a realidade local dos estados vai falar mais alto que qualquer aliança formalizada de última hora — disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB).

A estratégia do partido é, sem uma candidatura própria à Presidência, priorizar as candidaturas aos governos estaduais. Em 2014, o partido teve apenas dois candidatos a governador. Quatro anos depois, o número deve crescer para oito. A sigla aposta, principalmente, nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso. Integrantes do partido defendem dois critérios para a definição da aliança nacional: a perspectiva eleitoral e a vinculação com a agenda.

Essa equação eleitoral e o desempenho fraco nas pesquisas de Geraldo Alckmin são os principais entraves para um acordo com o PSDB.

 

PP RESISTE EM APOIAR ALCKMIN

Representando o PP, o senador Ciro Nogueira (TO) deixou claro que seria muito difícil seu partido apoiar Geraldo Alckmin, pois isso o impediria de ter sucesso no pleito do seu estado. A preferência do PP é por uma aliança com Ciro Gomes.

O Solidariedade também tende a apoiar Ciro. Paulinho da Força e Aldo Rebelo estiveram na reunião. Paulinho indicou que a maioria deve caminhar para um só um lado: Ciro ou Alckmin, mas que há divergências a sanar.

— Esse bloco tem 185 deputados, ou seja, tem 36% do tempo de rádio e televisão, e nós nos reunimos para decidir, mas não decidimos. Vamos continuar conversando. No sábado que vem, vamos ter uma reunião em São Paulo desse grupo. E decidimos então que, na semana que vem, vamos resolver. Então, até quarta-feira, esse grupo se reúne de novo para decidir o caminho — disse Paulinho.

Antes de chegar à reunião, o presidente do PRB, Marcos Pereira, já demonstrava insatisfação com o quadro de indefinição. Ele indicou que pode manter o dono da Riachuelo, Flávio Rocha, como pré-candidato. O PRB rejeita uma aliança com Ciro Gomes. Internamente, o preferido para compor é Gerlado Alckmin.

— (Flávio Rocha) é candidatíssimo. O pessoal está cansado de ser usado. A bancada está cansada de ser usada. Os partidos maiores querem usar o tempo do partido, mas não querem ter reciprocidade com o partido. Querem usar a gente para ter presidência da Câmara, vicepresidência. Aí, se for nessa linha, é melhor a gente manter a nossa candidatura. (Bruno Góes, Cristiane Jungblut e Dimitrius Dantas)