O globo, n. 31018, 10/07/2018. País, p. 4

 

Trio do PT atua na Câmara para alterar delações premiadas

Jeferson Ribeiro

10/07/2018

 

 

Deputados que pediram libertação de Lula querem mudar código penal; Petistas estão entre os autores de pedido de criação de uma CPI para investigar supostos erros de delações

Os deputados petistas Wadih Damous (RJ), Paulo Pimenta (RS) e Paulo Teixeira (SP), que ingressaram na última sextafeira com habeas corpus no TRF-4 para tentar libertar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também têm usado suas prerrogativas parlamentares para apresentar, nos últimos meses, propostas para mudar legislações de delação premiada e do código penal com o objetivo de reduzir os instrumentos jurídicos aplicados amplamente na Operação Lava-Jato. Em outros momentos, eles também convocam autoridades para cobrar explicações sobre vazamentos de investigações, principalmente quando Lula está envolvido.

Os três também são autores do requerimento para criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis manipulações em delações premiadas. A investigação parlamentar teve apoio de 190 deputados e depende da autorização do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para ser instalada. Alguns parlamentares tentaram retirar a assinatura do pedido, mas a manobra não tinha respaldo regimental, e a CPI ainda pode ser iniciada.

A atuação mais evidente é a do deputado Wadih Damous. Já em 2016, ele propôs que as delações fossem homologadas e aceitas pela Justiça apenas quando o delator estivesse em liberdade e que nenhuma denúncia poderia ser apresentada pelo Ministério Público apenas com base nos depoimentos do acordo de colaboração premiada.

Nesse mesmo projeto, o petista propõe criminalizar a divulgação do conteúdo das delações, com penas de reclusão de um a quatro anos, mais multa para quem descumprir a regra.

No ano passado, Damous também apresentou proposta para “excluir a possibilidade de prisão preventiva para garantia da ordem pública e econômica”, argumento jurídico usado para muitos pedidos de prisão na Lava-Jato. Ele também propôs que recursos extraordinários apresentados por réus ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça em ações criminais têm poder para suspender execuções penais. Se essa proposta vigorasse, réus condenados em segunda instância, como é o caso de Lula, poderiam ser libertados por meio desse instrumento jurídico.

O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, apresentou, no ano passado, requerimentos para convocar o então ministro da Justiça, deputado Osmar Serraglio (MDB-PR); o ex-diretor da Polícia Federal Leandro Daiello e o delegado Igor de Paula, chefe da equipe da Lava-Jato em Curitiba.

Ele queria que os três explicassem se gravações feitas durante a prisão coercitiva de Lula, em 2016, haviam sido repassadas a veículos de comunicação ou reproduzidas para atores e produtores do filme “Polícia Federal — A lei é para todos”, que narra os bastidores da operação.

O atual líder do PT também é lembrado por um episódio polêmico durante a CPI do mensalão, em 2005. Ele era um dos vice-presidentes da investigação parlamentar e após o depoimento do publicitário Marcos Valério no Congresso, pegou carona com ele num veículo, o que gerou reação dos demais parlamentares. À época, o petista pediu desculpas pelo ato e renunciou ao cargo de vice-presidente da CPI.

Entre os três, Teixeira é o que menos usa suas prerrogativas parlamentares para propor ações legislativas que possam ter impacto na Lava-Jato, apesar de ser advogado de formação.

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Favreto já confirmou decisões da Lava-Jato

Dimitrius Dantas
 
10/07/2018
 
 
 
 

Desembargador que mandou soltar Lula reconhece corrupção na Petrobras

Apesar da decisão que determinou a soltura do ex-presidente Lula anteontem, em movimento contrário ao posicionamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e do juiz Sergio Moro, o desembargador Rogério Favreto costuma confirmar as decisões da Lava-Jato nas ações em que é relator na área cível, sua especialidade.

Nos seis casos em que decidiu sobre a Lava-Jato, o magistrado concordou com a primeira instância integralmente e manteve, por exemplo, o bloqueio de bens de políticos envolvidos no esquema. Favreto é o relator de algumas das ações da Lava-Jato em segunda instância. Seis políticos pediram para que o desembargador se posicionasse sobre bens bloqueados pela primeira instância. Em relação ao ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), que teve R$ 166 milhões bloqueados por participação no esquema da Petrobras, Favreto manteve os valores indisponíveis. O mesmo aconteceu com as contas de Arthur Lira (PP), por exemplo, que permaneceu sem poder movimentar R$ 7 milhões.

Embora crítico da atuação de Moro e dos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, nos despachos de sua relatoria na área cível, Favreto aparenta não discordar da conclusão das investigações: de que um esquema de corrupção se instalou na Petrobras.

“Tenho que foram apresentados elementos de convicção suficientes a demonstrar a hipotética prática de atos ímprobos pelos réus [...] havendo fortes indícios de envolvimento dos acusados no sofisticado e amplo esquema de repasse de propinas realizado no âmbito da Petrobras”, disse em sentença sobre um deputado envolvido em fraudes na estatal.

O alvo das críticas de Favreto costuma, de fato, ser muito mais os investigadores do que a própria investigação.

Em alguns casos, não se furtou a fazer críticas aos métodos adotados pela operação: votou, por exemplo, contra a possibilidade de o Ministério Público Federal firmar acordos de leniência com as empreiteiras por atos de improbidade. A decisão fragilizou alguns dos acordos firmados entre procuradores e as empresas na LavaJato. Favreto aproveitou a oportunidade para criticar o MPF e as chamadas “Dez Medidas Contra a Corrupção”.

 

MORO É ALVO DE CRÍTICAS

Principal alvo de críticas, no entanto, foi o juiz Sergio Moro. Favreto foi o único, entre 14 desembargadores, a votar a favor da abertura de um processo disciplinar contra o juiz em razão da divulgação das gravações telefônicas do ex-presidente Lula. Segundo ele, fatores externos ao processo podem ter motivado a decisão de Moro, sugerindo uma possível parcialidade do juiz e uma proximidade com o PSDB.

O juiz citou que eram conhecidas as participações de Moro em eventos públicos ligados ao então candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, João Doria, o que denotaria parcialidade do juiz. Favreto foi filiado ao PT por 19 anos, de 1991 a 2010. O desembargador, contudo, citou que tomava aquela decisão “num esforço de preservação da validade das decisões e medidas” definidas na Lava-Jato.

“A decisão (de Moro), no quadro em que proferida, teve o condão de convulsionar a sociedade brasileira e suas disputas políticas”, disse.

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Arquivo Nacional reavalia contrato polêmico

Juliana Castro

Jan Niklas Jenkner

10/07/2018

 

 

Diretora indicada por Cristiane Brasil contratou dirigente do PTB para curso

Enquanto o PTB vive mais uma polêmica, com a saída de Helton Yomura do comando do Ministério do Trabalho, após afastamento por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), uma indicada do partido ao Arquivo Nacional contratou, por R$ 55 mil, sem licitação, uma outra petebista para oferecer um treinamento de comunicação aos funcionários da instituição, como antecipou a coluna de Ancelmo Gois, no GLOBO. Diretora-geral do órgão desde novembro do ano passado, Carolina Chaves de Azevedo é filiada ao PTB e afilhada política da deputada federal Cristiane Brasil, filha do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do partido.

Diante dos questionamentos do GLOBO, o Arquivo Nacional disse que está reavaliando a execução do contrato, porque “um curso que tem como proposta melhorar o clima organizacional não deve ser objeto de polêmica”.

A contratação foi publicada no Diário Oficial da União do último dia 4, com o texto de justificativa: “Protagonistas dos 180 anos do Arquivo Nacional, oratória e comunicação integrada”. A empresa escolhida foi a Patrícia Cáceres Comunicação e Voz, da fonoaudióloga Patrícia Cáceres, que é dirigente do PTB e já realizou vários trabalhos para o partido.

Em e-mail enviado ao GLOBO, a diretora do Arquivo Nacional, vinculado ao Ministério da Justiça, disse que o treinamento visa a atender a promover a integração e melhorar as relações interpessoais na instituição. Salienta ainda que, como o curso é previsto para 90 funcionários, o valor do treinamento fica R$ 611 por pessoa.

Carolina Chaves afirma que a escolha da empresa da colega de PTB nada tem a ver com a filiação partidária, e que o processo de contratação passou pelo crivo da consultoria jurídica da Advocacia-Geral da União.

“O curso Patrícia Cáceres Comunicação e Voz tem um nome consolidado no mercado, atendendo empresas, órgãos públicos e até mesmo grandes meios de comunicação. Ademais, a proposta apresentada pela empresa tinha valor inferior a outras propostas levantadas pela área técnica”, diz a diretora do Arquivo Nacional, completando: “A filiação partidária — um direito de cidadania e escolha pessoal da proprietária da empresa — não foi elemento considerado na seleção do serviço, seja como obstáculo ou vantagem”.

A diretora do Arquivo Nacional foi indicada por Cristiane Brasil para sucedê-la na Secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida da prefeitura do Rio durante a gestão de Eduardo Paes. Carolina Chaves é filha de Vera Lúcia Gorgulho Chaves, secretária parlamentar lotada no gabinete de Cristiane e dona da conta bancária de onde saía o dinheiro que pagava uma dívida trabalhista da deputada, como O GLOBO revelou em janeiro.

Em nota, Cristiane Brasil disse não saber das contratações feitas pelo Arquivo Nacional e que “a criminalização da política sem a devida fundamentação jurídica não contribui para o combate à corrupção nem ao aperfeiçoamento da democracia”.

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Advogado substitui ministro afastado

10/07/2018

 

 

O presidente Michel Temer definiu que o novo ministro do Trabalho será o advogado Caio Luiz Almeida Vieira de Mello, que atua como consultor no escritório de advocacia de Sergio Bermudes. O cargo estava sendo ocupado interinamente pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, desde a semana passada, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin determinou o afastamento do então ministro Helton Yomura, ligado ao PTB.

Desembargador aposentado, Vieira de Mello foi vice-presidente Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, entre 2008 e 2009. A posse está prevista para hoje, às 15h.

A indicação do novo ministro não foi feita pelo PTB, e auxiliares de Temer relataram que o nome do advogado foi uma “solução técnica” para a pasta, diante das sucessivas denúncias envolvendo indicados pelo partido no ministério.