O globo, n. 31020, 12/07/2018. País, p. 5

 

Apoio a Ciro perde força, e PSB tende a ficar neutro na eleição

Maria Lima

12/07/2018

 

 

-BRASÍLIA- Depois de semanas de negociações com PT e PDT, o PSB caminha para adotar a neutralidade na eleição presidencial. Caso esta decisão seja formalizada, os diretórios estaduais vão ficar livres para apoiar os candidatos que desejarem. O PSB esteve próximo de uma aliança com Ciro Gomes (PDT), mas a vantagem do pedetista refluiu nos últimos dias.

Depois de uma consulta informal aos dirigentes estaduais, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, teve ontem mais uma rodada de negociações com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. No entanto, segundo interlocutores dos dois dirigentes, não houve avanços. Caso a decisão final seja pela neutralidade, será a primeira vez na história do PSB. Procurado, o presidente do PDT, Carlos Lupi, preferiu não comentar.

— Todo mundo sabe que eu tenho a mesma posição do (Carlos) Siqueira, que seria um erro a neutralidade. Mas as circunstâncias podem nos levar a liberar, para que cada estado faça a aliança mais conveniente. Estamos sendo atropelados pelos prazos, e as circunstâncias podem nos levar a decisões que nem sempre são as que desejamos — disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

 

INTERESSES REGIONAIS

Com base na consulta feita por Siqueira aos dirigentes do PSB nos estados, os apoiadores de Ciro estão divulgando que ele teria o apoio de 16 diretórios na votação da Executiva nacional, este mês, que vai definir a posição do PSB. Em contraponto, os defensores do apoio ao PT lembram que os delegados do Norte e Nordeste, que atuam para isolar o candidato do PDT, têm mais peso na votação. Siqueira e o vice-presidente do partido, o governador Paulo Câmara, são de Pernambuco, o segundo diretório com mais peso na Executiva.

Aliados de Paulo Câmara, uma das vozes mais fortes em defesa da aliança com o PT, dizem que ele já fez todos os gestos possíveis para um acordo com a pré-candidata petista ao governo de Pernambuco, Marília Arraes. A direção do PT usa a situação em Pernambuco para pressionar por uma aliança nacional com o PSB: a neta de Arraes só retira a candidatura e sai da disputa com Câmara se o partido optar pelo apoio a Lula ou o candidato que ele indicar.

— Não tem esse estresse, não. Temos estratégia para ambos os cenários. Paulo gostaria de ter unidade da centroesquerda, mas, se não for possível, paciência. Ele já fez todos os gestos em direção ao PT. Marília brigou com Eduardo Campos em 2014. Decidiu ser deputada federal, contrariando as articulações dele. Eduardo montou um palanque aqui que ia do DEM ao PCdoB. Apoiar uma candidata da família atrapalhava a chapa que ele montou. Aí ela rompeu — lembra um dos aliados do governador pernambucano.

O diretório com mais peso na Executiva é São Paulo, em que o governador Márcio França se divide entre manter o acordo com o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin ou apoiar Ciro Gomes.

— Tenho percebido um esforço grande de busca da unidade e de respeitar as questões locais. Lembre que na última eleição do PSB foi firmada uma posição de se alinhar com a centro-esquerda na disputa presidencial. Mas se abriu uma janela para França apoiar Alckmin. Só que parece que a opção de Alckmin por (João) Doria arranhou a relação com França — diz um interlocutor de Paulo Câmara.

Nas conversas dos últimos dias, Siqueira tem evitado se posicionar em relação a Ciro ou ao PT. Mas tem uma frase que explica a sinuca de bico do PSB:

— Na política, não se faz o que a gente tem vontade. A gente faz o que é preciso.

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Marina cogita chapa puro-sangue ao Planalto

12/07/2018

 

 

Ao tratar de alianças, pré-candidata disse que Rede tem ‘boa prata da casa’

Apesar da falta de estrutura de seu partido, Marina Silva, pré-candidata da Rede ao Planalto, afirmou ontem que cogita disputar a eleição com uma chapa puro-sangue. Nesse caso, teria como vice um nome de sua própria legenda nas eleições de outubro.

Marina reiterou, porém, que continua em diálogo com PPS, PHS, PROS e parte da direção do PV, cortejado por Alckmin.

— Até o dia 4 de agosto (quando deve acontecer a convenção partidária), teremos um candidato a vice. Temos uma boa prata da casa e bons nomes na Rede, em que pese buscarmos esses partidos a que me referi temos dialogado — disse Marina, em entrevista à Rádio Super Notícia, de Minas Gerais.

A pré-candidata esteve em Belo Horizonte para lançar o nome de Kaka Menezes ao Senado Federal.

— O fato de ter o compromisso programático não é uma dificuldade. Não vamos fazer alianças esdrúxulas só para ter tempo de TV — afirmou Marina.

A última pesquisa Ibope, divulgada no final de junho, mostra que, no cenário sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina aparece com 13% das intenções de voto. Segundo o instituto, a pré-candidata está no limite do empate técnico com o ex-capitão do exército e deputado Jair Bolsonaro (PSL), que tem 17% das intenções de voto. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.

Questionada sobre a possibilidade aventada por partidos de esquerda de formar uma frente única para derrotar Bolsonaro num eventual segundo turno, Marina rejeitou qualquer tipo de aliança.

 

PARTIDOS TRADICIONAIS NA MIRA

A pré-candidata também partiu para ataque contra partidos como PT, DEM e MDB. Marina também não poupou o PSDB, embora tenha feito um movimento recente de aproximação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na semana passada, ela enviou emissários para um evento de renovação partidário capitaneado por Fernando Henrique, que tem feitos elogios a Marina.

— Toda vez que a sociedade brasileira quer fazer uma mudança, os partidos da polarização dizem que é fundamental se unir em torno deles para continuarem no poder. É assim que, historicamente, o PT e o PSDB vão para o segundo turno. Um diz que é a salvação porque vai privatizar, outro porque vai estatizar — alfinetou a précandidata, que se apresentou como defensora da ação de combate à corrupção: — Não queremos alianças com quem faz oposição ao combate à corrupção. Não há interesse de nossa parte de fazer alianças com os partidos que hoje estão unidos combatendo a Lava-Jato, como PT, PSDB, MDB e DEM e os seus satélites.