O globo, n. 31014, 06/07/2018. Economia, p. 16

 

União na área da defesa vau abrir mercado ao avião militar KC-390

Danielle Nogueira

Geralda Docas

06/07/2018

 

 

Boeing não terá acesso à produção, mas ficará com parte da receita;

O KC-390 tem contratos com a Força Aérea Brasileira (FAB) e com Portugal

A criação de uma joint venture entre Embraer e Boeing para desenvolver novos mercados para o KC-390, avião de transporte militar da fabricante brasileira, foi a forma encontrada pelas empresas para conciliar os interesses do governo e da Embraer, disse uma fonte que acompanhou as negociações. A União exigia que a soberania nacional fosse preservada e se opunha a qualquer participação da Boeing na produção de aeronaves militares. Já à fabricante brasileira interessava ter acesso à rede comercial da companhia americana. Em troca desse acesso, a Boeing terá uma fatia ainda não definida da receita da venda dos aviões. Na Embraer, além da área de defesa, ficarão o departamento de aviação executiva (jatinhos) e o segmento de serviços.

O KC-390 está em fase final de certificação e, por isso, ainda é preciso criar mercado para ele. A nova parceria ficará sob o guarda-chuva da Embraer, e os percentuais das duas sócias ainda não estão determinados. O faturamento com a venda dos KCs e os investimentos na promoção comercial da aeronave serão divididos atendendo a essa configuração societária. O que está certo é que a Boeing não será majoritária.

A parceria de defesa está centrada em esforços para promoção do KC-390 junto a potenciais clientes. A Boeing não terá acesso à montagem ou qualquer fase da engenharia de produção da aeronave. O acordo deixa em aberto, porém, futuras parcerias para customização desses aviões.

As Forças Armadas passaram a apoiar o acordo entre Embraer e Boeing depois que as negociações entre as duas empresas caminharam no sentido de “blindar” a atuação da empresa brasileira na área de defesa. A Embraer desenvolve projetos para as três Forças, sobretudo para a Aeronáutica, com emprego de tecnologia nacional. Entre eles, se destacam as aeronaves A-29 (Super Tucano), A-27 (Tucano), o KC-390 e o Gripen NG, desenvolvido em parceria com a sueca Saab.

Hoje, existe uma encomenda firme de 28 KC-390 para a Força Aérea Brasileira (FAB), além de negociações avançadas com o governo português para a compra de até seis aeronaves. O contrato com a FAB é de R$ 7,2 bilhões, e o primeiro avião será entregue até o fim deste ano, prevê a Embraer. A carteira de pedidos de outros países tem potencial para chegar a 500. Segundo a Aeronáutica, mais de 50 empresas participam do projeto.

Além da Aeronáutica, a Embraer desenvolve radares e sistemas de controle de fronteiras para o Exército e revitalizou aviões da Marinha.

O KC-390 é um cargueiro com capacidade de 26 toneladas. É considerado concorrente direto do C-130 Hércules, da americana Lockheed, que começou a ser produzido na década de 1950 e, hoje, tem uma frota mundial de cerca de 2.700 unidades. Apesar de dominar esse segmento do mercado de defesa, a maior parte dos C-130 Hércules está no fim de sua vida útil. A idade média das aeronaves em operação é de 34 anos e sua capacidade de carga, de cerca de 20 toneladas.

A Embraer tem três parceiros para o KC-390: Portugal, Argentina e República Tcheca. Esses países produzem peças para o avião e assinaram cartas de intenção de compra do modelo, mas apenas Portugal avançou nas negociações de encomendas. No ramo da defesa, é comum que os pedidos só aconteçam depois de os aviões estarem voando em seus países de origem. A eventual união com a Boeing pode ampliar a lista de potenciais compradores, na avaliação de especialistas que acompanham o setor.

Além de fortalecer a Embraer comercialmente, a união com a Boeing abre um mercado para a companhia americana neste segmento, avaliam fontes de mercado. A Boeing tem uma família de aviões de transporte militar de porte maior, os C-17, cuja capacidade é superior a 40 toneladas. Há tempos a fabricante sediada em Seattle está de olho no KC-390. As duas empresas firmaram acordo de cooperação técnica na fase de desenvolvimento da aeronave, o que acabou evoluindo para o acordo de venda e assistência operacional.