Correio braziliense, n. 20163, 04/08/2018. Política, p. 3

 

Definição da largada

Rodolfo Costa

04/08/2018

 

 

Os capítulos finais para a definitiva largada da corrida eleitoral ocorrem entre hoje e amanhã. Neste fim de semana, 12 partidos promovem as respectivas convenções nacionais, pondo fim ao prazo previsto pela legislação eleitoral. Neste sábado, duas entre as legendas francas candidatas a estar no segundo turno realizam a assembleia: PT, em São Paulo, e PSDB, em Brasília. Os petistas confirmarão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, e os tucanos ratificarão o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como o postulante. Ele apresentará a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) como vice na chapa.


A parlamentar confirmou ontem a participação na convenção tucana. Ela, aliás, é tratada como a joia do centrão — bloco formado por PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade — para a conquista da vitória nas eleições. A expectativa do blocão é de que ela consiga atrair votos femininos para Alckmin e “destucanizar” a imagem do ex-governador. A vida política ilibada, sem responder a inquéritos por suspeita de corrupção, também jogam a favor da construção de uma vice com liderança no campo ético.

Em vídeo publicado ontem nas redes sociais, Ana Amélia declarou que a ética e compromissos como vice na chapa serão os mesmos em relação à conduta no Senado. “Como senadora, não aceitei mordomias e privilégios. Não usei auxílio-moradia ou outros benefícios pagos com dinheiro dos contribuintes. Nunca avalizei conchavos e negociatas”, afirmou.

É a primeira manifestação como vice desde que o acordo entre centrão e PSDB foi firmado na quinta-feira. A parlamentar destacou ainda ser contra o foro privilegiado e a favor da prisão em segunda instância. “Apoio incondicionalmente a operação Lava-Jato e continuarei apoiando na vice-presidência”, declarou.

Outros partidos que apoiam Alckmin também realizam convenção hoje em Brasília. O PPS, que deve confirmar apoio à candidatura tucana, e o PR, que compõe o centrão. O líder dos republicanos na Câmara, José Rocha (BA), afirma que Alckmin irá ao evento. “Vamos ratificar adesão à chapa de Geraldo e ele vai participar”, declarou. Na ocasião, o presidenciável vai assinar um termo de compromisso com a legenda.

A coalizão que se confirma hoje deixa Rocha animado. Para ele, o tempo de televisão e os palanques nos estados são motivos para levar a aliança centrão e PSDB ao segundo turno contra o candidato do PT. “E sairemos vencedores”, avaliou. Para ele, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, não terá fôlego para chegar à reta final das eleições. “Ele já começa a desidratar até por falta de projeto, conteúdo e tempo de televisão”, ponderou.

Acerto 
Quem também celebra hoje um passo importante para a disputa pela Presidência da República é a Rede Sustentabilidade. A legenda vai lançar a candidatura da presidente nacional do partido, Marina Silva, e confirmar a chapa com o PV. O ex-deputado Eduardo Jorge, presidenciável em 2014, será alçado a vice.

Em Curitiba, o Podemos também realiza hoje a convenção nacional do partido. O evento confirmará a candidatura de Álvaro Dias, que terá como vice Paulo Rabello de Castro, do PSC, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A campanha é uma das que ganharam mais força nos últimos dias no atual cenário eleitoral.

O Podemos fechou nesta semana aliança com o PSC, o PRP, e está para concluir o embarque do PTC, legenda do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (AL). O diálogo é capitaneado pela presidente nacional da legenda, Renata Abreu, que mantém confiança no acerto. “As conversas estão avançadas. Acredito que estará com a gente”, analisou. A meta dela é tentar atrair outras legendas do chamado centrinho, bloco formado por Podemos, PSC, PRTB, PRP, Patriota, PTC, Democracia Cristã (antigo PSDC), Avante e Pros.

Além do PTC, que realiza a convenção nacional amanhã, podendo confirmar o apoio a Álvaro, Abreu mantém conversas com o Avante e o Pros. O Patriota, que promove a assembleia hoje, também estava no radar. A legenda, no entanto, optou por lançar o deputado Cabo Daciolo (RJ). “Tentamos convencê-lo, mas está uma divisão grande no partido. Eles também tentam puxar o Avante, que não deve ir para lá. Nós somos o segundo voto de todos os candidatos”, analisou.

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Os palanques das traições

04/08/2018

 

 

A definição do quadro de candidatos na disputa eleitoral deste ano começou a revelar a formação de palanques informais e casos de traição aos presidenciáveis nos estados, com potencial de prejudicar concorrentes de dois dos maiores partidos do país — Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB). Na tentativa de atrair espaço nas bases dos dois partidos estão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Operação Lava-Jato, e o deputado Jair Bolsonaro (PSL), líderes nas pesquisas de intenção de voto.


Um caso emblemático é o do governador tucano de Mato Grosso, Pedro Taques. Em campanha pela reeleição, ele avisou que irá ao aeroporto de Cuiabá recepcionar tanto Alckmin quanto Bolsonaro. Taques costurou aliança com a juíza aposentada Selma Arruda (PSL), a “Bolsonaro de saia”, como é chamada em Mato Grosso, que será candidata ao Senado. “Haverá palanque para os dois”, disse Taques.

Entre os “traidores” declarados de Meirelles está o governador de Alagoas, Renan Filho, que fez campanha interna no MDB contra Meirelles e já avisou que não está disposto a recebê-lo no estado. Ele declara voto em Lula ou em outro candidato ao Planalto que venha substituir o ex-presidente. Renan Filho é favorito à reeleição, tendo suporte do PT.

O potencial para traições existe porque não há no Brasil a regra da verticalização das coligações. Por isso, os partidos não são obrigados a reproduzir a aliança nacional nas demais unidades da federação. As siglas podem selar acordo no plano presidencial e, ao mesmo tempo, rivalizar na disputa de cargos majoritários de um determinado estado. No Pará, Meirelles tem o apoio declarado do candidato do MDB ao governo estadual, Helder Barbalho, mas o palanque incluirá pelo menos 17 partidos.

No MDB, o Palácio do Planalto cobrou que os candidatos empunhem a bandeira de Meirelles. No entanto, como a direção nacional não reservou recursos públicos para os governadores aplicarem nas respectivas campanhas — o mesmo ocorreu com o presidenciável —, agora a cúpula perdeu força para exigir empenho de quem flerta com a oposição.

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Mexida no jogo dos gaúchos

04/08/2018

 

 

A decisão de Ana Amélia (PP-RS) de ser vice do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) mexeu com o cenário político gaúcho e isolou o pré-candidato ao governo pelo PP, Luiz Carlos Heinze. Com a escolha da senadora, partidos que compunham a aliança de Heinze ameaçam sair da coligação. O PP ofereceu a Heinze a candidatura ao Senado na chapa de Eduardo Leite (PSDB), em troca da desistência do pepista de concorrer ao governo do estado.

Em reunião na tarde de ontem, os presidentes locais do DEM, PSL e Pros, partidos coligados a Heinze, anunciaram que, caso ele não seja mesmo candidato ao governo, o grupo sairá da aliança. Segundo o presidente estadual do DEM, deputado federal Onyx Lorenzoni, a decisão se deu para manter um palanque para Jair Bolsonaro (PSL-RJ) no estado, já que o pré-candidato do PP havia anunciado apoio ao presidenciável. Os partidos vão lançar a presidente estadual do PSL, Carmen Flores, ao Senado.

Ana Amélia não era a favor do apoio a Bolsonaro, e o próprio PP gaúcho classificou a decisão de Heinze de apoiar o presidenciável do PSL como “pessoal”. Por isso, Onyx culpou a senadora pelo fim da coligação. “Ela tem o direito de escolher esse caminho, mas a senadora se dedicou a tentar destruir o palanque de Bolsonaro no estado.”

“Megapressão”
Onyx afirmou ainda que Heinze sofreu “megapressão” do diretório nacional do PP e que isso reduziu o apoio à candidatura dele ao governo. “Ofereceram o céu para ele (Heinze) concorrer ao Senado na chapa do Leite. É aquele velho jogo político do centrão.”

Em nota divulgada na noite de quinta-feira, Heinze disse ter sido “surpreendido” com a decisão de Ana Amélia e não confirmou sua desistência ao Palácio Piratini. “A princípio, está mantida a candidatura ao governo do Rio Grande do Sul. No entanto, não é descartada qualquer possibilidade, inclusive de não concorrer a qualquer cargo eletivo no pleito deste ano”, informou.