Correio braziliense, n. 20164, 05/08/2018. Política, p. 6

 

Petistas insistem com Lula

Rodolfo Costa

05/08/2018

 

 

Depois de fechar com o PSB nos estados em troca de neutralidade nacional, cúpula do PT conquista dois apoios. PCO e PROS embarcam na candidatura com foco na narrativa de prisão política do ex-presidente

Mesmo preso em Curitiba, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção, Lula foi aclamado ontem candidato do PT à Presidência da República por unanimidade. Na convenção nacional, a legenda fechou apoio com o PCO e o PROS, isolando ainda mais Ciro Gomes, postulante ao cargo pelo PDT. Na quarta-feira, a cúpula petista já havia conquistado o suporte do PSB nos estados em troca da neutralidade do partido em âmbito nacional.

A coligação montada com as duas legendas, embora nanicas, rendem mais minutos de televisão e espaço ao PT nos estados. E evita isolar a candidatura petista em termos de coalizão. A aposta de que a candidatura ganhará força com a narrativa de prisão política de Lula foi um dos pontos primordiais para o embarque dos aliados.

O PCO decidiu apoiar o PT por acreditar que o centro da eleição será a defesa da liberdade do ex-presidente. A porta-voz da legenda, Natália Pimenta, destacou, durante a convenção nacional petista, que o suporte será “incondicional”. “Não vamos atrelar a nossa defesa da candidatura do Lula a nenhuma condição. Não vamos exigir que ele defenda tal e qual posições, ou escolha tal e qual vice”, declarou.

A opção do PROS pelo embarque à campanha petista foi justificada pela legenda por identificação ao “plano de governo”. “Acredita-se que os ganhos sociais obtidos, iniciados pelo governo Lula, e que prevaleceram ao longo dos anos, devem e deverão ter prosseguimento a partir de um novo plano que resgate as propostas anteriormente apresentadas e que incremente os pontos defendidos”, sustentou, em nota.

O PT, agora, tem como meta fechar o vice de Lula. Ontem, a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), se reuniu com a cúpula do PCdoB, em São Paulo, para conversar sobre o assunto. A expectativa das lideranças petistas é trazer para a chapa a presidenciável comunista Manuela D’Ávila (RS). O encontro, no entanto, não foi definitivo.

A busca por um vice atende a uma demanda do próprio Lula. A caciques petistas, ele se disse indignado com o que chamou de mudança de entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A legislação eleitoral estabelece que a escolha do vice seja formalizada em ata em até 24h após 5 de agosto, prazo final das convenções. Ou seja, até amanhã. O petista classificou a obrigatoriedade como uma pressão para ele antecipar a escolha e um “cerco” para obrigá-lo a desistir da candidatura e desencadear um “plano B”. A mudança na legislação, no entanto, ocorreu em 2015.

Ficha suja

Poucos líderes da legenda acreditam nas condições jurídicas do ex-presidente de disputar a eleição. Apesar de militantes recusarem a hipótese de um “plano B”, a opção é cada vez mais provável. O escolhido será Fernando Haddad. Condenado em segunda instância, Lula pode até se lançar candidato. No entanto, será enquadrado inelegível de acordo com a Lei da Ficha Limpa.

Uma estratégia petista é bancar Lula e substituí-lo até 17 de setembro, data final para troca de candidato. Tempo suficiente para emplacar a campanha petista entre o eleitorado, vitimizá-lo, e transferir os votos ao “plano B”. A palavra final, no entanto, ficará por conta do ex-presidente.

Frase

“Não vamos atrelar a nossa defesa da candidatura do Lula a nenhuma condição. Não vamos exigir que ele defenda tal e qual posições, ou escolha tal e  qual vice”

Natália Pimenta, porta-voz do PCO

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Ciro descarta ser vice em chapa

05/08/2018

 

 

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou ontem, em Belo Horizonte, que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, já sabe que ele não será candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo PT. O partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem trabalhando com a possibilidade de o ex-governador do Ceará compor com a legenda.

Ciro também afirmou que a cúpula do PT tem feito “cada bobagem que só posso acreditar que está em viagem lisérgica”. Uma das “bobagens” atribuídas ao PT pelo candidato foi o acordo envolvendo Pernambuco e Minas Gerais dentro da aliança fechada com o PSB para disputa pela presidência da República.

O candidato do PDT afirmou haver uma tentativa de isolá-lo. Lembrou a dificuldade de Lula, Bolsonaro e Marina de fecharem alianças e anunciou acordo como o Avante. “A sociedade vai percebendo. Toda  estrutura velha, para não dizer velhaca, da vida brasileira, está se organizando em redor do candidato que é responsável por manter os privilégios de uma minoria, enquanto a maioria da população brasileira amarga o desemprego, a informalidade, a violência impune.”

Ciro ressaltou que, sem tempo de televisão, vai “dar um jeito” de falar com o eleitor. “Querem calar o carteiro para o povo não ler a carta. Se não me deixarem falar na televisão, vou falar por sinal de fumaça, tambor, vocês vão ver”, acrescentou.

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PSB confirmará neutralidade

05/08/2018

 

 

A neutralidade do PSB no cenário nacional virá por linhas tortas. O partido vai referendar hoje, em convenção nacional, a decisão de não embarcar em uma candidatura. A deliberação atende a um acordo com o PT nos estados. Os petistas se comprometeram a apoiar os pessebistas em quatro unidades da Federação em troca da neutralidade. O termo, no entanto, não aparecerá na ata apresentada na assembleia. A opção será por uma “não coligação”.

A estratégia do PSB visa amenizar a polêmica que estourou na quinta-feira, quando o candidato da legenda ao governo de Minas Gerais, Márcio Lacerda, peitou o partido e decidiu recorrer à Justiça para se manter na disputa. O presidente nacional pessebista, Carlos Siqueira, explicou que não será uma neutralidade, mas uma posição política de apoio nos estados a candidatos com sintonia programática, política e ideológica com a legenda.

O partido tem 10 candidaturas a governador. Alguns apoiam uma união com o PDT, de Ciro Gomes. Outros, ao PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E há o candidato em São Paulo, o governador Márcio França, que apoia a campanha do PSDB, de Geraldo Alckmin.

A tática do PSB, explicou Siqueira, é facilitar as coligações nos estados. “Pessoalmente, gostaria mais que fôssemos com o PDT ou com o PT, mas tenho de acolher as manifestações majoritárias do partido. Mesmo aqueles que queriam apoiar Ciro e o PT estão entendendo isso, com raras exceções. Espero que, em um futuro próximo, a esquerda possa ter uma reciclagem”, declarou.

Anulação

A convenção nacional do PSB deve apontar não apenas para a “não coligação”, como também para a anulação dos efeitos da convenção estadual da legenda em Minas Gerais, realizada ontem. A assembleia declarou Lacerda como o candidato, desrespeitando o acordo nacional firmado entre o partido e o PT.

O resultado não é reconhecido pela direção nacional do PSB. “A convenção nacional do partido, que se realiza neste domingo, em Brasília, anulará o resultado do congresso do PSB mineiro, que já havia sido cancelado pela nova comissão provisória no estado”, destacou, em nota.

A disputa, no entanto, ainda promete novos capítulos. O assessor jurídico da pré-campanha de Lacerda, José Sad Júnior, destacou que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a respeito da comissão provisória do PSB no estado não anula os efeitos de uma liminar concedida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) a favor da candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte. Portanto, a equipe jurídica de Lacerda entende que a decisão na convenção estadual ainda tem validade. (RC)