Título: Derrota amarga
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Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2012, Mundo, p. 16
Um dia após seu partido sofrer uma derrota histórica nas eleições regionais do maior estado da Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou ontem que o episódio foi “doloroso e amargo”, mas não alterou sua visão sobre a necessidade de implementar o rigor fiscal como única forma de a Europa alcançar o crescimento sustentável. Em entrevista coletiva, ela disse estar “serena” com a proximidade das eleições legislativas, previstas para daqui a 16 meses.
O revés eleitoral ocorreu na Renânia do Norte-Vestfália, onde a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, obteve seu pior resultado do pós-guerra, com apenas 26,3% dos votos. A sigla perdeu mais de nove pontos percentuais em relação às eleições anteriores, de 2010. O Partido Social Democrata (SPD) conquistou 39% dos votos em um triunfo considerado importante para as aspirações nacionais da sigla. Somados aos 11,5% obtidos pelo Partido Verde, os votos do SPD garantem a supremacia dos social-democratas na região industrial, que abriga cidades como Colônia e Düsseldorf.
Sob pressão
Ontem, porém, Merkel disse estar tranquila em relação ao pleito do próximo ano e assegurou que o resultado de domingo “não afetará o trabalho na Europa”. “Não há contradição entre uma política sólida de orçamento e o crescimento”, disse a chanceler. Merkel resiste a pressões na Europa por políticas mais expansionistas para incentivar o crescimento e a geração de empregos em vez das reformas rígidas exigidas para que Estados da Zona do Euro recebam ajuda.
A chanceler se reunirá hoje, em Berlim, com o novo presidente francês, François Hollande. A expectativa é de que ele reitere suas posições contrárias às medidas de austeridade defendidas por ela. Na próxima semana, Merkel se encontrará com os outros 26 chefes de Estado e de governo da União Europeia, em Bruxelas. Somente depois de cumprir a agenda regional, a chanceler receberá a oposição social-democrata e ambientalista em Berlim.
Segundo informações da agência de notícias alemã Deustch-Welle, a Renânia, com seus quase 18 milhões de habitantes, é responsável por um quarto do PIB da Alemanha. Por isso, uma eleição nesse estado é sempre vista como uma prévia das nacionais. A agência cita ainda que, nos pleitos de 1966, 1995 e 2005, chegaram ao poder no estado alianças partidárias que, mais tarde, se repetiram na esfera federal.